“Imagino se um dia ele irá saber que ele está
no show mais famoso...” – David Bowie
Eu preciso de uma
filosofia. É o que me mantém vivo diante das adversidades. Algo que me inspire
o suficiente para levantar da cama de manhã e continuar tentando viver lá fora
de um jeito que me leve de encontro a todos os sonhos que, por hoje, mantenho
escondidos debaixo do travesseiro. E esse era o meu maior medo quando cheguei
aqui. Provavelmente o mesmo medo que sinto quando o familiar se dissipa e o
novo se instala. A rua que avisto da janela do meu quarto parecia infinita. Eu
não sabia até onde ela chegava, ou aonde mais poderia me levar. Os rostos eram
estranhos e fechados. E a cidade tão conhecida por milhares de turistas todos
os dias me passava essa mesma sensação; de que eu era um estrangeiro aqui. É
por isso que quando encontrei aquela música, tudo começou a fazer um pouco de sentido
para mim. Talvez não seja o sentido que David Bowie tivesse em mente quando a
escreveu, mas foi assim que ela me pareceu. Talvez porque eu mesmo estava tão
desesperado para ter uma filosofia. Ou no mínimo, algo para acreditar de novo.
“Existe vida em marte?”, Bowie disse.
“Existe vida em Foz do Iguaçu?”, pensei.
Mais do que
pensa, passei a maioria dos meus dias rezando por isso. Para que a mudança não
tivesse sido um engano. Para que este passo não tivesse sido em falso. Para que
tudo e todos que ficaram para trás não tivessem sido em vão. Recomeçar é tão
difícil. Especialmente quando, vamos admitir, meu forte sempre foi desconstruir
as coisas e as pessoas ao meu redor. Para descobrir exatamente do que eram
feitas. E, mais importante, para ter certeza de que serviriam de base para mim.
Talvez eu estivesse exigindo muito em pouco tempo. A essa altura eu já deveria
ter aprendido que nada acontece da noite pro
dia, nem do dia pra
noite.
Até porque entre uma coisa e outra, e entre um texto e outro, houve uma vida inteira
que – ao contrário do que Fernando Pessoa diria – tinha tudo para ser plena e foi.
Já faz meses
desde a mudança. E eu já conheço bem a rua da minha casa, bem como várias
outras da cidade. Já conheci muitos lugares e algumas pessoas já tiveram
participação na minha vida. Não é um histórico muito longo ainda; esse começo
continua sendo escrito. Mas quando percebi que já não estava mais pensando
sobre essas coisas sozinho, e já sabia me virar bem pelas curvas e paralelas de
Foz do Iguaçu, um novo “normal” que estava se estabelecendo me pegou de
surpresa. As coisas não parecem mais tão assustadoras, alguns rostos já
conseguem se destacar na multidão, e a vida... Surgiu. Como é de se esperar
nesses casos, quanto mais você anseia por algo, mais desprevenido você descobre
que estava quando isto finalmente acontece. E quando o novo normal tomou conta,
inevitavelmente pegou parte do lugar da minha vida antiga.
O que eu
quero dizer com tudo isso é simples. Eu estou feliz. Em Foz do Iguaçu! Quem
diria?! Mas parte dessa felicidade carrega um pouco de culpa consigo. Culpa
pelos lugares que visitei e que não irei cruzar novamente. Culpa pelas pessoas
que conheci e que não sei quando irei rever. Culpa por toda aquela vida que
demorou tanto para se formar e agora deve ceder seu espaço que estava
preenchido por saudade para que novas lembranças sejam formadas. Não há como
viver duas vidas em uma. Não é a toa que para que um mundo novo seja
desbravado, um mundo deve ser demarcado como antigo. Mas isso não significa que
não possa haver uma ponte entre eles. Felizmente para mim, as pontes próximas a
mim levam a outros destinos. E o mundo antigo, meu mundo antigo, está apenas a
um ônibus de distância.
Assim como
já procurei diversas versões da mesma música, e já escrevi uma parte
considerável da minha história por aqui, posso dizer sobre ambas que gostei de
tudo pelo que passei. Então para
responder a sua pergunta, Igor: sim.
Existe vida
em Foz do Iguaçu. Seja bem vindo e não deixe de acreditar nela.