“É isso que eu
quero pra mim hoje: mudança. Possibilidades. Desvios e retornos, ou qualquer
direção para qual esta cidade me leve. Porque certo tempo atrás, entre outras
ruas e outros centros, eu aprendi que crescer e amadurecer não são estágios
finitos na vida; eles continuam até o fim das nossas jornadas. Porque nunca
saberemos “tudo” o que há para ser aprendido, e não há “nada” a perder com cada
experiência que colecionamos ao longo do caminho. Pra ser sincero eu não sei se
isso vai dar certo, mas pelo menos eu acredito que em se tratando de
possibilidades, eu pelo menos devo estar no lugar certo.”
Dia desses eu estava andando pela rua à caminho de uma das quinze
definições de “centro” que Foz do Iguaçu possui quando dois turistas chilenos
me pararam para perguntar como podiam
chegar até o terminal. Talvez fosse apenas coincidência o fato de que estávamos
exatamente na rua que leva à entrada do terminal, mas é de mim que estamos
falando aqui e não existem coincidências; apenas sinais a serem interpretados.
E depois de um leve constrangimento ao andar mais alguns quarteirões na mesma
direção, os chilenos seguiram seu rumo enquanto eu parei para contemplar o que
aquilo realmente significava. Afinal de contas, quem sou eu para dar instruções
de qual direção seguir para alguém? Especialmente por essas terras em que,
cinco meses atrás, eu não fazia idéia de que não precisava andar até outros centros
para encontrar um chaveiro, uma farmácia ou um posto de gasolina para comprar
cerveja porque havia tudo isso e muito mais só no raio de um quilômetro da
minha casa. Enfim, são coisas que a gente só aprende quando se está em um mesmo
percurso há algum tempo. E é algo que eu sinceramente não via a hora para que
acontecesse comigo aqui.
Agora quando recebemos uma visita aqui em casa, é natural sugerir opções
de passeios para conhecer um pouco de todo o leque de possibilidades turísticas
que Foz do Iguaçu tem para oferecer. E por mais marcos históricos e passeios
que existam por aqui, como o marco das três fronteiras, o parque das aves ou o
templo budista – isso sem cruzar nenhuma “aduana”
ainda – tudo já me parece surpreendentemente familiar. Mas é sempre bom estar
por perto para ver as primeiras impressões de quem os visita pela primeira vez,
porque me lembra do quão impressionado eu mesmo fiquei quando cheguei aqui.
Impressionado e ridiculamente perdido. Cercado por um vai-e-vem constante de
pessoas do mundo inteiro que vem para visitar e conhecer um pouco do que
recentemente tornou-se a “capital do turismo do Paraná”, era
reconfortante saber que eu não era o único a se sentir desorientado.
E depois do que provavelmente será lembrado como um ano estranho e disforme,
é bom saber que aquele começo tão incômodo e desconcertante já correu seu
curso. A cidade já não parece tão grande e desconhecida, embora ainda tenha
muito o que explorar pela frente. Todas aquelas possibilidades que imaginei
quando cheguei aqui ainda estão adiante no caminho, entre tantos outros que a
cidade possui até os que levam para os países vizinhos. Vale lembrar que até a
moça que sempre me atende naquele mercadinho Argentino já me conhece o bastante para me apontar
onde estão as novas garrafas de Pinot Noir que chegaram na loja. Para quem chegou
aqui sem saber exatamente aonde estava ou para onde queria ir, é bom saber que
já vivi o suficiente para ser reconhecido em alguns lugares e para orientar
como chegar a outros. E estou só começando.
Nós ficaremos bem, Foz do Iguaçu. O outro lado desta vida nunca pareceu
tão certo.
Feliz ano novo!