domingo, 25 de setembro de 2016

A estrada adiante

Existem várias teorias sobre o Universo. Há quem diga que está em constante expansão, assim como há quem diga que ele irá se autodestruir eventualmente. No final das contas tudo se resume ao otimismo ou ao pessimismo com o qual você encara a vida que tenta viver dentro dele. Particularmente falando, só há uma certeza sobre o Universo na qual eu realmente consigo me apoiar: seja lá qual será o seu fim, seus meios definitivamente não são sutis. E antes que você venha me perguntar sobre o que me deixou tão filosófico desta vez, não foi nada grandioso como uma chuva de meteoros ou místico como um eclipse lunar. Foi uma frase escrita na parte de trás de um caminhão: “Tudo muda”.

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Eu ando tão afundado na minha rotina que sempre me surpreendo quando redescubro o resto do mundo que existe ao meu redor. Claro que às vezes o movimento que me tira da inércia nem sempre é benéfico: é na rotina que brotam alguns dos sentimentos mais tóxicos para um ser humano, como a fadiga, a paranoia e a solidão. Ou você quer tentar me convencer de que o motivo pelo qual você foi atrás de visitar o perfil do Facebook daquela pessoa em particular era puro e inocente? Não se faça de desentendido; você sabe do que eu estou falando.

E até aí, tudo bem. Confesso que eu estava me sentindo um pouco esquecido, quando decidi revisitar as teclas do teclado que juntas escreviam aquele nome que minha boca não mencionava há tempos. Uma das garotas com quem saí este ano, em minha tentativa de ser mais proativo sobre minha vida pessoal, mas cuja empreitada tem se tornado cada vez mais desafiadora a cada nova decepção. Neste caso, foi um encontro incrível – daqueles que faz você perder a noção da hora, de todos que passam por vocês e sua conversa interminável, e de como você pôde viver até então sem conhecer aquela pessoa. Eu realmente gostei dela; tanto que fiquei extremamente nervoso só de pensar em tentar dar aquele passo adiante em nosso encontro. Aquele momento definitivo que pode nos inspirar a marcar um segundo encontro, ou a deletar o contato da nossa agenda para sempre: o primeiro beijo. Eu não tive coragem, mesmo que já estivéssemos caminhando de mãos dadas pelas ruas da cidade, sem nos importar com qual rumo nós iríamos tomar porque o seguiríamos juntos.

Mas eu não o fiz. E com o passar dos dias, aquelas conversas intermináveis acabaram por se esgotar, e a data para um segundo encontro nunca foi marcada. Até onde eu pude concluir, e pelo pouco que conheci sobre ela, ela imaginou que eu não estava interessado o bastante. E não havia tempo a perder; ela queria algo sério. Algo que ela decidiu que não encontraria em mim. Eu não tenho sentimentos remanescentes sobre aquela noite, mas guardei comigo a lição de que se duas pessoas decidem arriscar deixarem suas zonas de conforto de lado para se conhecerem, o mínimo que você pode fazer é que a experiência valha a pena – e isto inclui o beijo que ambos saíram de casa imaginando em dar, mas sem saber exatamente como chegar até ele.

Já se passaram meses desde aquele encontro, mas a lição continua comigo. Tanto é que me peguei reescrevendo seu nome para visitar o mural virtual que ela mantém sobre os acontecimentos mais recentes da sua vida. A tragédia de todo “stalker” é invariavelmente descobrir que o que ele mais teme é verdade: ela estava decididamente mais feliz do que jamais estaria caso tivesse ficado comigo. Mais do que envolvida em um novo relacionamento, ela já estava prestes a começar sua própria família.

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Dia desses eu estava passando por uma outra rua da cidade que há tempos evitava. Porque nela ficava uma empresa na qual eu fiz não uma nem duas, mas quase uma semana de entrevistas e treinamento para tentar ser selecionado para uma vaga que parecia ser boa demais para ser verdade. Horários flexíveis, salário modesto, uma adição espetacular ao meu currículo, tudo muito impecável e com potencial de fazer a minha vinda para Foz do Iguaçu enfim valer a pena. Porque seria com aquele salário que eu bancaria o meu sonho de retomar os estudos para me tornar um jornalista.

Mas como é de se esperar da vida, toda expectativa do mundo jamais será recompensada. Muito pelo contrário; mais vezes do que outras, o pior acontece. Eu não fui selecionado. Mesmo depois de abrir mão de várias oportunidades em nome daquela, mesmo acreditando que tudo já estava praticamente acertado para o meu recomeço profissional, e mesmo que eu já tivesse cometido o erro de deixar o meu sonho depender de algo que ainda era incerto. Não fui escolhido. E só o baque de ver o meu sonho se perder foi o bastante para me deixar de cama por alguns dias. Isto é, até ser salvo pelos meus pais, que fariam o possível por mim enquanto eu ainda não conseguisse me sustentar sozinho.

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O motivo pelo qual eu estou revisitando esses episódios, que aconteceram bem cedo em 2016, é porque quando ambos acabaram por me decepcionar, eu sinceramente acreditei que o restante do meu ano já estava perdido. Duas semanas após os brindes de frisante, os votos de saúde, alegria e as promessas para um ano melhor, eu já estava recluso em um quarto escuro e fechado, contando os dias para 2017. Tentar novamente parecia inimaginável. Acreditar que poderia dar certo parecia impossível.

Só que um dia desses, rodando a cidade por caminhos que há tempos eu não trilhava, acabei por reencontrar meus traumas de maneiras mais inesperadas do que eu sequer podia imaginar. Ao passar pelo lugar onde havia encontrado aquela garota pela última vez, decidi enfrentar meus medos e dar aquela espiada online para ver se ela estava mesmo tão feliz quanto parecia. E talvez ela esteja – certamente é o que eu desejo a ela – mas depois de meses acreditando que ainda havia algo dormente em mim sobre isto, eu descobri: não há. Ela foi a primeira garota a segurar a minha mão na sua, depois de meses que passei tentando estabelecer o meu lugar em Foz do Iguaçu. E no final das contas, eu o encontrei: só não era ao lado dela. E como se não fosse o bastante, acabei passando pela rua daquela empresa que me prometeu que também haveria um lugar para mim ali, só para levar o susto de ver que sua fachada havia sumido. Sem nenhum aviso de mudança de endereço ou coisa parecida; somente a placa de “aluga-se” para quem estivesse interessado no imóvel.

Acontece. Encontros podem ser incríveis, mas também podem ser experiências únicas. Entrevistas podem ser promissoras, mas também podem acabar ecoando na incerteza. E enquanto nós continuamos vivendo sob as noções do que poderia ter sido, nas oportunidades que perdemos, e aparentemente perdidos sobre qual rumo seguir agora, eis que surge o Universo e sua sabedoria infinita na forma mais inesperada possível: através de um caminhão que surgiu na minha frente no trânsito, enquanto eu viajava rumo à Cascavel por uma tarde para resolver assuntos inacabados, antes de retornar para Foz do Iguaçu onde minha vida nova e meus compromissos estavam a minha espera.  E escrito em uma das suas portas traseiras, estava a inegável verdade: “Tudo muda”.

Eu comecei 2016 cheio de planos. Planos que se desfizeram mais rapidamente do que as decorações de Natal que ainda estampavam a cidade. E por um instante eu pensei que tudo estivesse perdido. E por alguns meses ainda acreditei que não haveria como retomar o meu rumo para este ano. E quando eu menos esperava, tudo mudou. Outras pessoas surgiram, assim como novas oportunidades. Ambas, inclusive, que me trouxeram ainda mais próximo do meu sonho – hoje uma realidade muito feliz em minha rotina diária. Mas eu não sabia de nada disso, e como poderia? O que só me faz pensar que não importa no que eu acredite, ou o quão perdido eu me sinta, nenhum de nós sabe o que está reservado para nós rumo à estrada adiante. Só o que podemos fazer é continuar seguindo em frente.

Felizmente, a falta de sutileza do Universo é o que nos salva todas as vezes. Basta você prestar atenção nos sinais.

domingo, 11 de setembro de 2016

A crise dos 20 e poucos


Tudo começou com uma ressaca. A sensação de que a noite anterior não havia terminado ainda, mas na forma de leves dores de cabeça, uma vontade insaciável por líquidos que não possuíssem o mesmo teor alcoólico de todas as bebidas pelas quais eu passei, e um cheiro intragável de tabaco que demorou dias para que eu deixasse de senti-lo nos meus poros. Foi uma típica sexta-feira à noite, para falar a verdade: sair com amigos para um dos tantos barzinhos da cidade, com direito a alguns copos a mais de cerveja e uns cigarros para ajudar a liberar toda a carga de estresse que se instalou durante a semana. A pressão do trabalho, a correria da faculdade, as obrigações domésticas, e as neuroses usuais sobre não ter dinheiro o suficiente no bolso, nem aquela “alguém especial” da vida. Nada que eu já não tenha vivido milhares de vezes antes. Só havia um porém: eu não tenho mais 17 anos.

Longe disso; os 25 estão me encarando cada vez mais de perto. O que explica a primeira ressaca que tive em anos – talvez voltando até às festas que frequentava aos 17.

As outras pistas sempre estiveram bem evidentes; eu só estava bem confortável na interminável negação. Interminável, mas não atemporal. Eu me lembro até hoje do primeiro cabelo branco que encontrei na minha cabeça. Ironia ou não, mas também foi aos 17. O que me faz concluir com grande pesar que os momentos de estresse, neurose e paranoia não são só momentos – são quem eu realmente sou.

Estes, dentre tantas outras coisas, compõem a minha tal personalidade. Se aos 17 é quando começamos a tomar nota de quem somos nesta vida, aos 25 a conta chega. E eu não sei se conseguirei cobri-la...

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Na falta de sentido entre as palavras que eu mesmo produzo, me obriguei a procurar em outras bibliografias, outros autores e outros dramas uma razão para as minhas mais recentes ansiedades. E o que encontrei foi tamanho clichê quanto foi certeiro: páginas e mais páginas de artigos de jornais, postagens de outros blogs e breves trechos reconfortantes com direito a playlists para amenizar a sensação de esgotamento, desorientação e medo que tomam conta durante a já famosa crise dos vinte e poucos anos.

Aos que ainda não alcançaram a casa dos vinte, eu digo: continuem aproveitando. A festa não pode parar. Mas também sinto muito: esta conversa não vai rolar entre nós. Isso é papo para quem, assim como eu, se obrigou a dar um tempo das multidões, das batidas fortes de música que quase estouram as caixas de som, e das preocupações pequenas sobre “por que ela não responde as minhas mensagens?”, para encontrar um canto tranquilo e recuperar o fôlego. Preferencialmente, sentado.

Eu nunca pensei muito sobre envelhecer. Talvez como todo carinha mimado pela juventude e pela imensidão que o horizonte ao seu redor ainda reserva para ele, não tenho mais vergonha de admitir que não fiz planos para quando chegasse até aqui.

Sinceramente? Eu sempre pensei que viveria para sempre. Imaturo, inconsequente, Igor para sempre.

Não sei se é a questão da idade que me incomoda mais. Mas o cansaço é tão inevitável quanto é imperdoável. Senão pelos outros, por mim mesmo. Que ainda tento me obrigar a ficar acordado por mais horas do que meu corpo já consegue aguentar, porque sou (teoricamente) jovem e são só onze horas. Tem gente que a essa hora ainda está se arrumando para sair de casa, e eu aqui: afundado no trágico conforto de calças de moletom, meias com chinelo e uma caneca de chocolate quente. Se é sexta, sábado ou domingo à noite, não faz mais diferença. Ao contrário do tempo em que ficar em casa em pleno sábado à noite era considerado um tapa na cara do meu eu do futuro, que certamente iria se olhar no espelho e pensar em todas as noites desperdiçadas, todas as oportunidades perdidas, enquanto evita sequer rever a coleção de arrependimentos que juntou ao longo dos finais de semana dentro de calças moletom.

E como se não fosse o bastante, ainda acordo cedo no dia seguinte. Mais tempo para enlouquecer...

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Eu ando muito chato. E quieto. E encontrando um conforto igualmente irresistível ao das calças moletom nos momentos em que consigo ficar sozinho em um canto. Nem triste, nem contente; só quieto. Sozinho com os meus pensamentos, perambulando pela casa, pensando em todas as coisas que deveria estar fazendo. Ou nas coisas que até poderia estar fazendo, se não estivesse tão ocupado em nutrir as minhas preocupações. Como se isto fosse adiantar alguma coisa. Como se o tempo fosse me compensar por isso, e não o exato contrário fosse acontecer. Eu costumava ser engraçado, e divertido, e incapaz de me sujeitar a rotinas onde a única coisa em pauta é a inércia. Mas aí me pego pensando nas minhas reais alternativas, e nada me atrai ao ponto de proporcionar uma mudança. Nem nenhuma atitude drástica.

Em caso de crises existenciais, melhor não fazer nenhum movimento súbito.

Eu costumava me sentir mais vivo. Ou no mínimo, mais participativo. Nem sempre as noites eram animadas ao ponto de que eu me sentisse contente sobre o quanto estava aproveitando a minha juventude. Mas ainda se salvavam pelo esforço, coisa que eu pareço ter abandonado. Claro que tudo isso pode só ser uma fase. Segundo tudo o que já procurei ler, e baseado no meu próprio estado de espírito que move-se naturalmente da melancolia à sua programação normal em questão de dias e músicas, eu acho que ficarei bem. Até porque, já me sinto bem melhor do que estava durante os primeiros parágrafos deste texto.

Talvez porque, ao contrário da opinião geral que costumo tirar da minha vida atualmente, este texto encontrou seu propósito e tornou-se melhor por isto.

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Todo ano é a mesma coisa. O desnecessário sofrimento e a ansiedade que precedem o meu aniversário, com mais antecedência do que o aconselhável. É normal imaginar um extrato da sua vida sendo impresso cada vez que um número é adicionado à sua idade, e sentir que talvez tivesse sido possível ter produzido um pouco mais do que o que já consegui. Ter chego um pouco mais longe. Ter deixado alguns erros que já cometi antes para trás, nem que fosse só para ter a chance de viver desenganos mais originais.

Já me pego falando com um tom de voz endurecido por todos os arrependimentos que já carrego comigo nesta vida, e deixando escapar frases como “no meu tempo”, “na minha época” e “quando eu passei por isso...”. Me vejo no espelho com a face cada vez mais ecoando os traços do meu pai, e meu corpo reproduzindo os trejeitos do meu avô, enquanto aviso minha irmã mais nova para se cuidar ao sair de casa para mais uma festinha com as amigas, e aconselho meus amigos que ainda não alcançaram a casa dos 20 que nunca é cedo o bastante para viver sem se preocupar com o que os outros vão pensar. Seja você mesmo, não importa o que isto implique.

Se você precisará conviver consigo mesmo até o fim, que seja no mínimo sincero sobre o que você significa. E acho que isto vale para mim também, que falo e escrevo como se estivesse em meu leito de morte, prestes a me despedir deste mundo. Ainda há muita vida em mim, eu sei. Eu só ando bem, mas bem cansado...

Reflexos da noite passada, ou talvez de todos os anos que vieram antes dela. Sem dúvida alguma, a pior ressaca é a que o tempo causa.

sábado, 10 de setembro de 2016

O que eu nunca farei por amor de novo


Eu queria que você soubesse. E não é nem como se eu tentasse disfarçar qualquer coisa quando você está por perto. Só não queria que soubesse por mim. A não ser, é claro, se você também tivesse algo pra me dizer. Que também anda tentando esconder o máximo que pode, mas morre de vontade de que eu descubra um dia. E é assim que eu vou levando, dia após dia. Sentindo meu coração disparar quando te vejo, e se partir quando vai cada um pro seu lado. Só não digo nada, nem demonstro nada, porque já vivi o bastante para saber que nada machuca tanto quanto a falta de reciprocidade. E se eu puder evitar a fadiga, eu o farei. Com o tempo a gente fica assim mesmo; tão receoso que nem se arrisca mais, por achar que certas decepções podem ser evitadas de antemão. E alguns sonhos, bom, podem ser desnecessários também.

Mas quando estou sozinho, na segurança e na tragédia da sua ausência, eu me permito imaginar um pouco. Penso em como seria se você soubesse um dia. Penso que ficaria feliz – aliviada, até! E que poderia ser o começo de algo bom. Talvez, quem sabe, o último começo que eu viria a ter, em se tratando dessas coisas. Hum... “Essas coisas”... Não há ninguém julgando aqui, então por que ainda assim eu evito chamá-las pelos nomes que realmente possuem? Talvez pelo mesmo motivo que me mantém refém de mim mesmo ao seu redor. Porque “essas coisas” de relacionamentos, amor e reciprocidade parecem tão distantes para mim quanto comerciais que passam em uma televisão que alguém esqueceu ligada. Há uma mensagem tentando ser enviada para alguém, mas não há destinatário do outro lado. Não há ninguém para ouvir. E nas vezes em que havia alguém, ela não deu muita atenção. Acreditou que aquilo iria continuar reprisando, e que ela poderia parar pra prestar atenção outra hora, outro dia...

O mesmo eco que a gente provoca nos relacionamentos que não dão certo são diretamente proporcionais ao vazio que criam em nós quando finalmente nos livramos deles. E por mais que a gente diga que é, foi pra melhor, não há como não sentir que estamos um pouco piores do que antes. Um pouco menos de nós mesmos a cada decepção. E já que estou confessando aqui, saiba que tenho muito, mas muito medo de desaparecer. Especialmente se um dia eu descobrir que contigo também não seria recíproco.

Por isso eu me calo quando vejo você passar. E uma hora dessas, num dia desses, você não estará mais sozinha quando passar por mim. Haverá alguém segurando a sua mão, e eu enfim terei certeza de que não era o cara pra você. Mesmo que eu nem tenha me atrevido a tentar. Mesmo que você nunca tenha descoberto...

Eu sinceramente prefiro morar em promessas do que tentar mudar algo. Acreditando que pode ser diferente, que pode dar certo... Imagine só.

O que seria de nós? Andaríamos de mãos dadas por aí? Eu seria a razão do seu sorriso que tanto me encanta? Seria o motivo da música que é a sua risada? Seria o pensamento que te invade quando fica olhando distraída para o horizonte?  E o que faríamos juntos? Colocaríamos em prática, enfim, todos aqueles jantares à luz de velas que sempre pensei em compartilhar contigo? Serviria seu vinho favorito, ao som da sua música favorita, enquanto tento acertar cada último detalhe desta nossa noite juntos, para que soubesse o quanto eu sou feliz e grato por ter você na minha vida... Por ter me dado uma chance para provar que sim, poderia ser eu. Poderia ser a gente.

Faria, iria, poderia... Tudo menos “deveria”. Porque eu não quero me arriscar.

Eu não quero perder você, nem que seja só em sonho Continue passando por mim, acenando quando me vê e sorrindo normalmente.  Houve um tempo em que eu faria questão de que você soubesse, mas acho que esses dias acabaram. Agora eu só faço questão mesmo de ainda ter um sonho guardado comigo. O que eu já fiz por amor nesta vida não pode ser contado, medido ou sentido de qualquer maneira que faça jus. Mas acredite quando eu digo que, depois de um tempo, você não consegue evitar de.... Evitar.

E você nunca irá saber...

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Tempo e castigo

Quase às vésperas dos meus 25 anos, eu nunca me senti tão atrasado na vida. Houve um tempo em que a sensação era justamente o contrário: por ter gostos mais diferenciados do que os outros garotos da minha idade – o hábito caseiro, os dotes domésticos, a harmonia irônica – eu sempre me permiti acreditar que estava à frente do meu tempo. Mas com base no último ano, esta sensação foi definitivamente jogada ao vento. Não querendo dizer que o último ano não tenha sido bom – mais do que isso, foi revolucionário. Mas é inerente a tragédia de qualquer pessoa que está prestes a completar o que pode ser considerado ¼ de uma vida saudável. Isto é, se eu tiver sorte. Convenhamos, Igor: você não tem cuidado tão bem de si mesmo quanto deveria. Teu fígado não nega.

A sensação que tenho hoje é de que a vida que levo definitivamente não bate com a idade que tenho. Algo que é constantemente comprovado pelas atualizações dos meus amigos, conhecidos e figurantes na linha do tempo do meu Facebook: relacionamentos sérios, casamentos, filhos, sucesso profissional... Onde foi que arrumaram tempo para fazer isso? Ou dinheiro, por sinal... Mas os fins são alheios aos meios, e o resultado paralelo de todos esses acontecimentos é a minha melancolia – que ao contrário da minha conta bancária ou da minha tão sonhada estabilidade emocional, é algo que só vem aumentando.

Quando eu digo que minha vida tem demonstrado um saldo tanto quanto negativo, é porque penso no Igor de 2015; aquele que se formou na faculdade, morava sozinho, trabalhava e mantinha sua independência, apesar da eterna dificuldade e manutenção. Claro que o único fator que nunca me recordo de levar em consideração, é exatamente aquele que faz toda a diferença: a qualidade de vida.

Sim, eu me graduei. E tive meu incrível apartamento de solteiro por anos, completo com mais quartos do que eu precisava, e uma sacada quase feita sob medida para minhas bebedeiras e filosofias. E consegui encontrar meu lugar dentro de um mercado de trabalho ameaçado por crises políticas e recessão econômica. Tive todas as coisas que qualquer jovem de vinte e poucos anos sonhava ter nesta altura da vida, mas independência é algo mais caro do que a nossa vã juventude pode contemplar. No meu caso, estas conquistas se baseavam no sacrifício da minha felicidade. Até o dia em que eu acordei e pensei: “Para que estou trabalhando, para manter tudo isso?”. E então tomei a decisão que deu início ao ano mais revolucionário da minha vida, desde o dia em que fui embora da minha cidade para enfrentar o mundo real: admiti derrota para começar de novo.

O preço foi alto e impiedoso: lá se foram minha liberdade, minha privacidade e parte do meu orgulho que, querendo ou não, se contentava com as coisas que conseguia manter em nome da minha sustentabilidade. Apesar de um grande pesar: minha felicidade. E pouco mais de um ano depois, estou diante de um novo aniversário e um inventário curioso da minha vida. Um que me obriga a rever algumas definições, como as minhas “conquistas” e, mais importante, o motivo pelo qual eu levanto cedo para ir trabalhar.

E tem dias que eu ainda não me sinto nem um pouco adulto. Mais da metade das pessoas que encontro na minha rotina sequer podem beber ou dirigir ainda. O que é irônico, dadas às minhas condições socioeconômicas que também não me permitem ambas as coisas. Mas o contexto da faculdade invariavelmente me faz sentir um pouco diminuído, se não fosse pelo fio-conduto que me mantém adiante, e que respondo sem remorso aos meus pais quando me perguntam como vão as aulas: sim, é isto que eu quero fazer da minha vida. Sim, eu estou feliz.

Não, eu não moro sozinho. E meu emprego é um estágio. E tem dias em que eu não tenho um real no bolso. E existem certas satisfações que eu preciso dar aos meus pais, que antes passavam batidas. E eu continuo andando a pé. Minha cama, assim como meu status, é de solteiro. E tem dias que eu realmente penso se valeu a pena a troca ou não. Se o tempo que passou me trouxe mais perto dos meus sonhos, ou só serviu para me atrasar. As coisas não estão só difíceis; estão sofríveis. Mas em vez de melancolia, o sofrimento atinge só a parte prática.

Estou velho, chato e cansado. Disfuncional às vezes e constantemente irritado. Sem ânimo para sair, e demasiadamente satisfeito em meus relacionamentos com minha cama, Netflix e dias nublados. Com preguiça de amizades instáveis e relacionamentos ocos. E acima de tudo, estou ridiculamente feliz com o quanto eu consegui redirecionar a minha vida ao que eu sempre quis ser.

Alguns castigos fazem parte do percurso, outros são escolhas que podemos manter ou abrir mão. O restante, como dizem, vem com o tempo.

domingo, 4 de setembro de 2016

Bem vindo ao fim


Eu sinto muito. Permita-me antecipar o questionamento e confirmar que sim; isto é para você, que está lendo agora e pensando que o motivo pelo qual não nos falamos mais é porque estávamos ocupados demais nos engasgando com as coisas que não conseguimos dizer um ao outro. Coisas como “eu estava errado” e “me desculpe”. Caso esteja sentindo a minha falta, e tudo o que você precisava ouvir de mim era o consenso de que esta distância também é culpa minha, sinta-se à vontade.

Porque a verdade é que eu sou mesmo ridiculamente difícil – com ênfase tanto no ridículo quanto na teimosia. E você há de concordar que, convenhamos, você também é assim. Senão o que mais explicaria as fotos deletadas, as conversas abandonadas pela metade, e o eco que passou a preencher a presença que costumávamos ter na vida do outro? Eu posso ser ruim, meu bem – muito ruim – mas você também não é fácil. E talvez, quem sabe, seja melhor assim.
Cada um do seu lado, vivendo a sua vida, tentando não perder tudo o que aprendemos um com o outro. Por mais que no fundo a gente saiba que não seríamos o que somos hoje, nem teríamos tudo o que conquistamos, se por um breve momento da história nós não tivéssemos vivido juntos. Eu não me arrependo. Mas também não quero replay.

***

Eu sempre tive o péssimo hábito de enxergar a vida como uma grande competição. E talvez esta concepção não esteja totalmente errada, pois o que mais justificaria os sentimentos de vitória e perda que sempre oscilam em mim? Mas no nosso caso, enquanto estávamos juntos, parecia que não havia nada lá fora que fosse páreo para nós. Éramos imbatíveis, invencíveis, inigualáveis... até deixarmos de ser. Até nos voltarmos um contra o outro, e que vencesse o melhor. Cegos pela raiva, inconformados com a injustiça, e alucinados pelo poder. Mas... Pelo que estávamos brigando? O que estava em disputa? E até agora eu me pergunto: quem ganhou?

Você era como eu; incapaz de admitir derrota. Mesmo quando não estava exatamente claro o que significava ganhar ou perder em um relacionamento. Em algum momento – aliás, por vários momentos – parecia que estar certo sobre você era o que mais importava. Até mais do que nós. Eis o meu egoísmo, a par com a sua intransigência, lentamente trabalhando para que os momentos mais felizes do mundo que tivemos juntos, passassem a dar um gosto amargo na boca. Eu me importava com você. Queria dividir minha vida com você. Queria ser seu, e que todos soubessem que você era minha. Como foi que nós chegamos aqui? Eu não suporto mais o som da sua voz, ou a dissimulação nos seus olhos. Cheios de prepotência, arrogância e desdém. Agindo com superioridade, só esperando que um dia eu me desse conta de que na verdade era eu quem estava errado. E que eu fosse capaz um dia de amadurecer o bastante para pedir o seu perdão.

Ah, meu bem... Prefiro cortar a minha língua fora, a profanar minhas palavras com tal confissão. E caso todo o nosso amor vá parar nas profundezas do inferno, que seja. Nos vemos lá.

***

Ao menos, era assim que eu me sentia. Com meus dias acinzentados e noites envenenadas por rancor e vaidade. Olheiras e cansaço intermináveis, demonstrando o quanto as minhas forças para lutar estavam chegando ao fim. Até que enfim, o impensável aconteceu. O dia do meu juízo final finalmente chegou. Eu não agüento mais... Você estava certa. Era isto que você queria ouvir?

Eu não me importo mais. Não com isto. Eu quero ser feliz. Ou pelo menos, quero tentar ser menos miserável. Talvez seja melhor admitir derrotas, erros, falhas e desvios de percurso, do que lutar tanto para permanecer estável ou indiferente a algo que costumava significar tanto para mim. Eu amava você. Você ainda consegue me ouvir? Eu amava você! E amei até agora. Até não sobrar mais nada. Bem vinda ao fim.

O oposto de amor não é o ódio; é a indiferença. Porque o ódio ainda mexe conosco. Nos mostra o quanto algo ainda nos importamos, e que mesmo nos nossos piores momentos ainda existe uma chance de voltarmos ao jeito que éramos antes. Inocentes, gentis, compreensivos. Felizes. Mas só enquanto eu ainda permitir que você me mova. E, por Deus, como você me movia! Isto é, até me mover para longe. Tão longe, por sinal, que eu não me lembro mais daquele seu olhar. Ou do tom da sua voz. Ou dos motivos que me levaram para o seu lado em primeiro lugar. Eu não me lembro... E eu não me importo.

Você venceu; seja lá o que isto signifique. Valeu a pena?