“Topofilia é descrito como sendo o elo
afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico.”
Se for pelo calor, eu até
entendo. É a primeira reclamação que qualquer pessoa que more ou que já tenha
visitado Foz do Iguaçu fará sobre a cidade. “É insuportavelmente, constantemente, apocalipticamente calor!” e eu
concordo. E por mais que eu idolatre o equilíbrio natural do Outono, esse calor
imperdoável ainda não passou nenhum limite que realmente me motivasse a fazer
as malas e abandonar toda a campanha de tentar fazer uma vida dar certo aqui. Mas
o clima abafado mal é aceitável como tópico de conversa entre vizinhos que se
encontram acidentalmente no elevador do prédio; quem dirá para uma completa
mudança de endereço. Então eu fiquei pensando... Se não é estritamente pelo
calor, por que algumas pessoas que moram em Foz do Iguaçu não gostam de Foz do Iguaçu?
É uma
experiência que tive em primeira mão, ao fazer alguns contatos como parte da
minha habitual tentativa de estabelecer qualquer vínculo com a cidade que
adotei para mim, e que esperava que esta fizesse o mesmo através dos seus
habitantes. Mas quanto mais pessoas eu conheci, e compartilhava com elas a
minha história – que, convenhamos, merece seu caráter infame e desordenado muito
antes de eu chegar aqui – menos elas conseguiam entender porque eu me mudei
para cá. Por que eu não fiquei em Cascavel? Por que não voltei para Londrina?
Por que eu simplesmente não fui para qualquer outro lugar? E foram questões que
pareciam tão simples de serem respondidas por mim, mas que de alguma maneira
não satisfazia a frustração de quem perguntava. Como se Foz do Iguaçu fosse o
fim do mundo. E estas pessoas tecnicamente não estão erradas. Esta cidade é
realmente um extremo do sul do pais, completa com saídas de emergência para
dois países vizinhos. Em caso das coisas por aqui com a economia ou a política
dificultarem demais a nossa permanência.
O
relacionamento que você possui com sua cidade talvez seja o segundo mais
importante que se possa ter. O primeiro, obviamente, sendo aquele que você
tenta manter consigo mesmo. E algumas pessoas que conheci tratam Foz do Iguaçu
da mesma maneira que tratamos o primeiro relacionamento que tivemos na vida.
Como não conhecíamos mais nada, tudo era novo. E com o passar do tempo os
mistérios foram solucionados e a rotina tomou conta. A cidade não era mais
capaz de surpreendê-los, e seus limites foram se tornando cada vez mais
evidentes. Tão evidentes neste caso, com suas fronteiras para o resto do mundo
não tão distantes do centro, que já não era mais tão difícil imaginar uma vida
nova fora daqui. Longe daqui. Em qualquer outro lugar que não fosse aqui. É
assim que costumamos tratar os primeiros relacionamentos que temos. As
experiências que vivenciamos não se sustentam muito diante dos arrependimentos
que arrastamos. E os bons momentos que tivemos são reprimidos de propósito,
para não nos prenderem a um velho lugar comum por nostalgia ou consideração.
Novo parece ser sempre melhor.
Mas existem
pessoas que tem a sorte – ou a abençoada ignorância, dependendo do seu grau de
incredulidade que já tenha atingido – de ter apenas um relacionamento que dura
o resto da vida. E isso seria necessariamente ruim? Não é isso que a maioria de
nós procura? Alguém que nos faça parar de procurar, deletar o Tinder e que ande
de mãos dadas conosco no shopping?
Quanto a
mim, infelizmente esta não é a minha primeira vez. Já tive outros
relacionamentos antes, tanto com mulheres quanto com cidades, e por fim acabei
abandonando todas em prol de algo que ainda estava faltando. Um sonho que
parecia se deslocar toda vez que eu chegava muito perto de alcançá-lo. E então
eu cheguei à Foz do Iguaçu. Uma cidade fronteiriça que apesar do seu calor e
das suas ruas repletas de turistas confusos à procura do terminal central, parecia
me remeter apenas uma coisa: mais do que uma terra de cataratas, esta é uma
terra de possibilidades.
Dotada de
uma interculturalidade que poucas outras cidades brasileiras possuem, a
impressão que tive ao chegar até aqui e que ainda tenho todos os dias desde os
últimos sete meses é que, se existe um lugar com inúmeras possibilidades por
metro quadrado, e que de quebra é totalmente aceitável sentir-se perdido e
pedir por informações para alguém na rua, esse lugar é aqui. Claro que as
coisas não andam tão fáceis assim. Eu ainda não estou trabalhando, minha vida
social resume-se ao horário das aulas na faculdade, e o amor.... Ainda está
preso em uma frase estagnada por reticências. E faz calor. Meu Deus, como faz
calor!
***
Eu realmente
me recordo dos meus antigos relacionamentos com outras cidades com muito
carinho....
...mas não, eu
não voltaria para nenhuma delas. E acho que já chega de tantas mudanças... Está
na hora de assumir um compromisso sério.
***
Eu não amo
Foz do Iguaçu. Ainda não, pelo menos. Mas há potencial com certeza. Londrina
foi meu primeiro amor, e por isso sempre será lembrada com um carinho moderado
pelos erros que cometi por falta de experiência. Cascavel foi um relacionamento
turbulento, mas que terminou do meu jeito e que ainda me dá saudades muito
saudáveis do nosso tempo junto. Agora, Foz do Iguaçu e eu ainda estamos nos
conhecendo. São sete meses de primeiras vezes constrangedoras e
desentendimentos irracionais. E ela é esquentadinha demais para o meu gosto.
Mas que relacionamento não tem suas dificuldades? Apesar disso já temos muitas
histórias para contar; histórias que não só continuam me inspirando a escrever
sobre elas, mas também a continuar aqui em busca dos meus objetivos.
Por mais que
faça calor, e que as ruas sejam cheias de estrangeiros desorientados, e não
exista uma definição exata de onde é o “centro”
da cidade, é importante ter um bom relacionamento com o lugar onde você mora.
Nem que seja pelo simples fato de que, por ora, nenhum de vocês vai a lugar
algum.