Eu conheci
alguém.
Não comentei
com ninguém, porque parecia que não ia dar em nada. Foi só uma conversa, num
dia desses. Ela me disse “Oi” e eu
respondi. Nos falamos por um tempo, e eu pensei que ia ficar naquilo mesmo.
Afinal, já vi tantos “Oi”s passarem
por mim com promessas de terem algo mais a dizer, sem nunca mais ouvir nada,
que já não me comovo tanto com apresentações. Depois de um tempo você até
decora um pequeno parágrafo para apresentar-se a outra pessoa, para agilizar o
processo. Mas, daí, no dia seguinte, acabamos conversando de novo. E sabe
aquelas conversas que duram horas, mas que você nem vê passarem? E por mais que
vocês falem, parece que o assunto nunca acaba. E quanto mais você descobre
sobre a pessoa, mais intrigante ainda ela fica. Você procura saber mais e mais...
E quando vê lá se foram mais algumas horas.
No dia
seguinte eu acordei com um “bom dia”
dela. Assim, do nada. Não estava esperando e não respondi por um tempo. Não
queria que se tornasse algo daquele tipo. Do tipo que se acorrenta às mensagens
de “bom dia” e “boa noite”, e qualquer outra coisa que aconteça no decorrer do dia
estará proporcionalmente nivelado com aquele símbolo de mensagem nova pela
manhã, e com aquele último som do celular no criado mudo à noite. Avisando que
ela já estava indo deitar, mas que, antes disso, pensou em mim. Logo eu, que
tenho uma fraqueza por nostalgia, não resisto quando alguém diz que se lembrou
de mim.
Aí ela disse
que queria me ver. Fiquei um pouco nervoso com aquilo. Não. Mentira. Fiquei
muito ansioso com aquilo. Porque a gente vê tanta coisa incerta por aí. Tanta
discórdia, tanta bagunça. Mas às vezes no meio do caos, aparece uma saída. E em
relacionamentos, é comum acreditar que só vingam mesmo aqueles que estão livres
de qualquer expectativa. Os que começam de uma hora para outra, continuam sem
aviso ou direção, e que quando a gente finalmente pára pra ver, já se passaram
semanas, meses, anos. Vidas em lados opostos que de repente se esbarraram e
passaram a evoluir em conjunto. Com um “oi”,
seguido de um “bom dia”, até
finalmente um “estava pensando em você!”.
E agora a gente vai se encontrar... Uau.
***
Caso você
nunca tenha relatado algo similar para algum amigo seu em segredo dos seus
outros amigos em comum, fosse por vergonha ou desesperança, meus parabéns. Você
faz parte de uma raça mais desenvolvida emocionalmente que possui uma
compreensão mais sincera e realista dos relacionamentos humanos, independente
de atualmente fazer parte de um ou não. Ou talvez você só não tenha espaço de
armazenamento suficiente para aplicativos supérfluos no seu telefone, o que
também é perdoável. Agora, meu amigo, se você possui a última atualização do Tinder instalada no seu iQualquerCoisa,
então chegue mais perto. Vai ficar tudo bem.
Não, eu não
conheci ninguém. Na verdade até já conheci algumas pessoas, sim. Mas ao
contrário dos anúncios que eu já vi por aí, do tipo “encontrei-o-amor-da-minha-vida-em-uma-rede-social!”, meus amores
foram tão eternos e estáveis quanto um sinal de Wi-Fi. Que fique registrado: eu
acredito sim que vários casais já se encontraram nos Tinders, Badoos e Pares
Perfeitos da vida virtual. E renego todo e qualquer julgamento que possa ter
sobre isso. Porque, convenhamos, eu só não tenho a última versão do Tinder
instalada porque meu armazenamento não permite. Mas isto não faz de mim nem
melhor, nem pior do que ninguém. Apenas humano.
A gente
brinca muito sobre isso. Eu mesmo poderia descrever abaixo uma série de contos
das minhas próprias desventuras na terra dos relacionamentos imaginários em
suas versões para Android. Mas ao contrário do humor – que eu jamais vou negar
que existe nessas coisas – eu consigo enxergar o porquê de existirem tantos
canais para tentativas de relacionamentos entre pessoas. E é o mesmo motivo que
te irrita quando o próprio Tinder parece desistir de você ao mostrar aquela
mensagem:
“Não há
ninguém perto de você.”
Eu sei
disso, Tinder! Por que acha que estou aqui, no fim do meu dia, já deitado e
tentando pegar no sono, insistindo em deslizar meu dedo para esquerda e para a
direita nas fotos que aparecem em você?! Agora pare de me humilhar ainda mais e
carregue logo mais perfis para que eu encontre logo o amor da minha vida. Ou
será que vou ter que reiniciar o modem de novo?!
Talvez no
fundo eu ainda seja um otimista sobre amor e relacionamentos. Por mais que eu
não tenha a menor noção de como essas coisas realmente funcionam. Mas o que
leva as pessoas a fazerem o download desses aplicativos, ou a preencherem
questionários virtuais sobre quem são e o que procuram, ou a marcarem encontros
com pessoas sobre as quais só possuem pequenas notas e pistas de quem são, é
porque elas estão tentando se conectar com alguém. Porque não há ninguém por
perto e às vezes seria bom ter. Porque parece tão ruim admitir isso?
Eu admito já
ter ultrapassado a minha cota de primeiras conversas, relacionamentos
imaginários e franquias de internet no celular ao conectar o Tinder em um lugar
onde não há Wi-Fi. Eu admito que já estive e muito à procura de alguém, mesmo
que fosse só para trocar algumas idéias, ou quem sabe até marcar um encontro.
Um jantar, um cinema, um drinque. São necessidades humanas que nós mesmos
reprimimos porque parecem indecentes. Sentir-se só, no fim do dia, já com as
luzes apagadas e com o resto do mundo offline até a manhã seguinte... Seria bom
ter alguém para conversar. Alguém novo. Alguém por perto. É por isso que a
gente continua tentando. Nem que seja para ter alguma história para contar
depois.
Não, eu não
encontrei o amor da minha vida no Tinder, nem em qualquer outra rede social.
Mas as mulheres que conheci – e as que não conheci propriamente, também – ainda
me inspiram a continuar tentando. E talvez esta seja mesmo a graça: a procura.
Porque amor, amor mesmo, não pode ser algo que seja possível perder para sempre
caso a nossa internet se desconecte sem querer antes de que eu possa lhe
oferecer um coraçãozinho verde. Acho que é algo mais profundo que isto. Tem que
ser...
*Escrito
em 18/10/2015.