*escrito em 13 de
maio de 2013.
Eu sempre
considerei o outono como o ensaio geral para o inverno. É a
época de transição entre o fim temporário das peles expostas ao sol fins de
tarde na beira de um bar, e o começo do nosso reencontro com os cobertores que
passam meses guardados em cima do guarda-roupa e as blusas que hibernam
enterradas dentro dele. E de todos os cafés e taças de vinho que acompanham a estação
mais impiedosa do ano. Mas que, pelo menos, compensa por fazer durar mais os
perfumes e embelezar um pouco mais a cidade com aquele tom levemente
melancólico e nostálgico que só o ar ridiculamente rarefeito consegue produzir.
E é durante esta época transicional em que as folhas das árvores caem para que
possam florescer ainda mais belas na primavera seguinte, que as pessoas podem
se inspirar a realizar algumas mudanças em suas vidas também. E para alguns
poucos sortudos em especial, esta pode ser a hora de dar um tempo com os bares
e as madrugadas em claro para passar mais tempo dentro de casa e debaixo de
cobertores. Com um cappuccino em uma mão, e a mão de alguém especial na outra.
Antes do pôr do sol e o nascer da primeira madrugada gelada na cidade,
eu me atrevi ir até o extremo do meu outono e vivenciar o amor de verão com o
qual eu sempre sonhei. Capaz de causar inveja em qualquer primavera que eu já
havia pensado que tinha sido boa. Isto porque, até então, eu sempre parei para
apreciar o aroma das rosas sozinho. E com o passar dos dias e o cair das
folhas, nem o frio ou a chuva que forçavam sua entrada sob a cidade e em minha
vida eram capazes de esfriarem aquilo que parecia aquecer meu coração. A cada
beijo trocado, cada passo dado em uníssono, e cada rua atravessada de mãos
dadas. Pelo visto o amor não era possível apenas no verão enquanto ainda exista
calor o suficiente para dar luz a ele. Nada tem a ver com a estação ou a
temperatura, enquanto duas pessoas estiverem dispostas a enfrentarem quaisquer
tempestades que não podem ser previstas, ou frentes-frias das quais não podemos
escapar. Mas o outono, assim como tudo nesta vida, tem um começo, meio e fim. E
apesar dele ainda não ter chego ao fim, deparei-me com um iceberg em meu
coração tão grande que me senti perdido entre as estações. Como o meu amor pôde
esfriar tão rápido, se nem as folhas terminaram de cair ainda?
Meu amor de outono durou quase o mesmo tempo que a estação. Foi uma
temporada seca, sem chuvas à vista, com um sol escancarado durante as tardes,
mas que sempre criava brecha para que se carregasse um casaco quando se saía de
casa à noite. Foi uma estação de sorrisos e risadas como eu jamais pude
imaginar ser capaz de expor em meu rosto. De longas caminhadas pela cidade e a redescoberta
de lugares tão comuns, como praças, bancos, ou até mesmo as próprias ruas e suas
curvas que agora possuíam tamanho significado para mim. Tanto significado que
não é mais possível caminhar por eles sem sentir a nostalgia e a saudade do que
construímos através deles. Por que não continuei em frente, se a caminhada
estava me fazendo tão bem? Por que o outono não poderia durar para sempre?
Porque nada dura para sempre, e eu precisei parar quando senti que o inverno
estava chegando. E que eu não seria capaz de enfrentá-lo com um compromisso
suficiente para alcançar a primavera. Eu simplesmente não pude, porque você não
está destinada a admirar as flores comigo. E a primavera que está reservada
para você – a primavera que você merece – não receberia todo o sol que lhe é
garantido, enquanto minha sombra estivesse no caminho. Você merece alcançar as
borboletas e eu também, mas não chegaremos a elas se continuarmos de mãos dadas
e insistindo em seguir direções opostas, sem encontrar nada a não ser chuva.
Nada contra a chuva, mas em algum ponto nós precisamos admitir que permanecer
debaixo dela nos faria mal. Nos adoeceria. E a nossa estação não teria um final
feliz.
E assim o outono continua, porém sem nossas caminhadas enfeitando a
cidade enquanto o gelo lentamente toma conta do ar e dos sentimentos das
pessoas. A geada está próxima, trazendo medo a cada passo frívolo que dá em
nossa direção. E a insegurança, a incerteza, a insensatez também... E talvez
tenha sido isso o que acabou com o meu outono: descobrir que apesar de todos os
planos de alcançar as borboletas, eu esteja frio demais para sobreviver até a primavera.
E não seria capaz de manter você aquecida como deve ser até o calor do sol
tomar conta da cidade de novo.
A estação ainda é a mesma, mas eu preciso admitir o inevitável, vestir
minhas blusas e preparar um café bem quente e forte mais cedo este ano.
Aproveite as últimas folhas que caem. Quanto a mim: seja bem vindo, inverno.