*Escrito em 13/04/2013.
Às vezes eu acho que escrevo mais do que
deveria. Não me entenda errado; eu falo bem mais do que eu deveria também, mas
com a escrita é diferente. A escrita envolve pensamento, planejamento... Não
pode derramar algo em um papel simplesmente sem filtrar nada daquilo antes.
Você optou por aquela letra, aquela palavra, aquela frase... O que torna a
experiência definitivamente mais significativa e, por isso mesmo, mais
perigosa. E eu escrevo demais, sempre escrevi, mas não consigo me imaginar
vivendo de qualquer outro jeito. Prefiro ter arrependimentos em forma de vírgulas
e dois-pontos, do que morrer engasgado com um ponto final fatal que poderia salvar
a minha vida caso eu decidisse admiti-lo não só em voz alta, mas em tinta
também. Ou em manuscritos virtuais, já que é assim que a vida tem funcionado
ultimamente.
Foi exatamente este perigo, este risco
constante de ser pego desprevenido enquanto transcrevia o que deveria ser
apenas mais um período em uma composição ordinária, que me levou a descobrir
que aquilo que sentia era só a ponta do iceberg. Você pode descobrir muito
sobre si mesmo quando escreve, especialmente quando quem guia a ponta da caneta
é o seu coração. Quantas vezes você já respondeu uma mensagem a alguém, dizendo
que estava tudo bem, enquanto chorava do seu lado da tela? Palavras são
maravilhosas, mas também podem ser afiadas e até mesmo impossíveis de serem
retiradas depois que são libertadas ao mundo. Particularmente falando, eu não
as temo. Pelo contrário, na maioria das vezes até penso que tenho mesmo algum
poder sobre ela. Ou sobre o efeito que podem causar quando abro mão do meu
raciocínio para compartilhá-lo com qualquer leitor que se interessar pelo
desafio de tentar entender minhas neuroses, minhas fantasias, meus travessões.
O problema é que, depois de um tempo,
as palavras passaram a falhar comigo. Não por me ferirem ou me sabotarem de
algum modo, mas por não serem mais capazes de me satisfazer como outrora
conseguiam. Palavras não eram mais o bastante para mim; era preciso viver, e
descobrir de uma vez por todas o que todas aquelas frases-prontas significavam.
Como “Eu estarei do seu lado”, “Acredite em mim” ou “Eu te amo”. Eu superei não só o meu
medo, mas a minha necessidade das palavras, e aprendi uma das já famosas lições
que toda pessoas vai aprender não uma nem duas, mas ao menos umas quinze vezes
nesta vida: palavras não importam tanto quanto ações. Falar é fácil, escrever é
lindo. Agora, quero ver mesmo sentir na pele.
Eventualmente, eu encontrei o meu
caminho de volta aos cadernos, à frescura pelas canetas certas para dar conta
de tudo que sentisse vontade de registrar em um papel, e aos súbitos olhares
distantes no meio de multidões que pareciam ocupadas com qualquer coisa exceto
pelos pequenos detalhes ao meu redor que só eu parecia capaz de perceber e até
achar bonito. Aquele vento forte batendo naquela árvore não poderia significar
a nossa própria mortalidade sendo constantemente desafiada pela natureza? E
aquelas mãos dadas naquele casal atravessando a rua, poderia esconder meses ou
até anos de dificuldades de compromisso e superação de obstáculos até
finalmente encontrarem um conforto real e digno do amor em si para apoiarem-se
um no outro e serem capazes de andar, enfim, no mesmo ritmo? Talvez, com um bom
raciocínio, uma dose generosa de criatividade e as palavras certas. Nunca
subestime o poder de um escritor – ou até mesmo, o projeto cambaleante de um –
de encontrar literatura em qualquer coisa ao seu redor. Mas tudo isso só começa
mesmo com as palavras e a decisão de domá-las e transformá-las exatamente
naquele pensamento que você teve quando estava à toa ali, parado debaixo de
árvores e observando as pessoas ao seu redor. Parece simples, mas pode dar luz
à mil significados diferentes. Alguém pode me emprestar uma caneta decente?
No fim eu preciso agradecer às palavras
por sempre terem sido tão misericordiosas comigo. E pelos anos de colaboração
que tivemos sem exigir nada em troca a não ser uma bela moldura para os
pensamentos de uma mente neurótica – porém sensata – que com os cuidados e as
conjugações certas, poderiam deixar de ser vistos como transtornos e para virar
arte. Mas hoje em dia é diferente; não vivo apenas com palavras, ou para as
palavras. Vivo para mim, e deixo que todos os contos que sentir a inspiração
para dar vida também, sejam consequências da minha existência neste mundo louco
e intransitivo. Porque apesar de fantásticas, nem tudo na vida são palavras.
Porque um “eu te amo” deve ser
calculado, repensado e revisto repetidas vezes antes de encontrar seu caminho
rumo a um pedaço de papel ou ao olhar de alguém. Mais vale andar de mãos dadas
sem rumo por aí com alguém, do que sozinho e, para todos os efeitos, imune a
qualquer história de amor que poderia escrever.
Porque se tem uma coisa que eu aprendi
depois de anos tentando encontrar as medidas certas para os meus sentimentos, é
isto: a vida é mais do que palavras. É o que você faz com elas que realmente conta.