terça-feira, 1 de março de 2016

É uma questão de química, entende?


Existe um motivo para as aulas de química permanecerem nas grades curriculares das escolas enquanto outras matérias como Filosofia ou Sociologia são impiedosamente exiladas para módulos de ensino à distância. Não querendo dizer que estas não sejam importantes; muito pelo contrário. Acho que qualquer senso crítico só pode ser considerado sólido depois que passa pela alegoria da caverna ou, vez por outras, quando consegue sobreviver em um consciente coletivo.

Mas independente das lições de moralidade de Platão ou das consolidações sociais de Durkheim, estas nunca realmente chegaram a deixar de ser exatamente isso: lições. Teorias, observações, reflexões e conceituações sobre um mundo que, hoje mais do que nunca, considera que ações falam mais alto do que palavras. E que ninguém chega a lugar nenhum se não tomar as atitudes certas. E eu posso estar enganado, visto que não estive presente durante os anos antes de Cristo, nem prestei muita atenção no pouco que vi das ciências do século XX. Mas se há uma verdade universal que pode ser interpretada em qualquer feito humano através da história, é esta: fizemos o que fizemos para impressionar uma mulher.

Mas quanto mais conquistas fizemos em um universo que ainda buscamos desbravar – desde chegar até a Lua, descobrir água em Marte ou vislumbrar Júpiter mais claramente – menos atenção nós demos aos fenômenos terrestres mais mundanos e consideravelmente invisíveis a olho nu, mas que importam muito mais no nosso dia a dia do que qualquer planeta que se alinhe à órbita das minhas inseguranças. E que começamos a aprender em meados do ensino fundamental, quando um professor carrancudo com voz grossa e óculos espessos nos pede para copiarmos a matéria que ele passará no quadro sobre ligações iônicas, covalentes e metálicas. E que depois explica direitinho do que elas se tratam.

Eu não lembro muito dessas aulas, salvo as piadas infames que eu e meus colegas procurávamos inventar com os elementos na tabela periódica. E não me olhe assim; eu sei que você riu quando encontrou o Cobre na tabela pela primeira vez. Mas apesar das infantilidades que dominam a vida entre o sexto e o nono ano, eu me lembro de que deveria ter prestado mais atenção enquanto copiava conceitos sobre reagentes e outras substancias corrosivas. Porque é exatamente isso que a gente encontra do ensino médio em diante. Assim como aquela velha metáfora sobre os carros serem equivalentes a lanchas e motos serem como jet-skis na água, na vida as pessoas são como cientistas e relacionamentos são como fórmulas. O que mais explicaria todas as combustões espontâneas a nível emocional que já senti quando percebi que minhas chances de um jantarzinho a dois com você evaporaram?

Entre níveis de pressão e pontos de ebulição, é preciso aceitar o básico da nossa própria matéria antes de querer se misturar com a substância de outra pessoa. E de estar bem atento ao fato de que apesar do nosso físico orgânico, somos criaturas terrivelmente voláteis. Constantemente propensos a acidentes nucleares ao menor indício de insegurança quando nos envolvemos com alguém que demonstra ser mais tóxica do que nos foi alertado.

Apesar de não existirem fórmulas exatas para o amor ou a cumplicidade, eu sempre fico esperançoso diante de alguém nova. Alguém promissora, interessante, estimulante... Que parece ter tudo para ser o catalisador que me falta para que eu reaja e me torne, enfim, estável. É o sonho de qualquer átomo. Mas para isso é necessário algo crucial, mais até do que filosofar sobre a felicidade através de mensagens de madrugada ou saber nomear sociólogos importantes para demonstrar conteúdo em um primeiro encontro: química. E não há nenhuma substância capaz de substituí-la. Nem mesmo o álcool.

Não deve te surpreender a esse ponto saber que química sempre esteve entre as matérias da minha grade... Da recuperação.

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Vendo pelo lado bom, é melhor buscar ter uma química natural com alguém do que aprender a produzir metanfetamína para ficar rico. Não acabou bem para o Walter e, definitivamente, também não iria acabar bem pra mim.