Existe um motivo para as aulas de química permanecerem nas grades curriculares das escolas enquanto outras matérias como Filosofia ou Sociologia são impiedosamente exiladas para módulos de ensino à distância. Não querendo dizer que estas não sejam importantes; muito pelo contrário. Acho que qualquer senso crítico só pode ser considerado sólido depois que passa pela alegoria da caverna ou, vez por outras, quando consegue sobreviver em um consciente coletivo.
Mas
independente das lições de moralidade de Platão ou das consolidações sociais de
Durkheim, estas nunca realmente chegaram a deixar de ser exatamente isso:
lições. Teorias, observações, reflexões e conceituações sobre um mundo que,
hoje mais do que nunca, considera que ações falam mais alto do que palavras. E
que ninguém chega a lugar nenhum se não tomar as atitudes certas. E eu posso
estar enganado, visto que não estive presente durante os anos antes de Cristo,
nem prestei muita atenção no pouco que vi das ciências do século XX. Mas se há
uma verdade universal que pode ser interpretada em qualquer feito humano
através da história, é esta: fizemos o que fizemos para impressionar uma
mulher.
Mas quanto
mais conquistas fizemos em um universo que ainda buscamos desbravar – desde
chegar até a Lua, descobrir água em
Marte
ou vislumbrar
Júpiter
mais claramente – menos atenção nós demos aos fenômenos terrestres mais
mundanos e consideravelmente invisíveis a olho nu, mas que importam muito mais
no nosso dia a dia do que qualquer planeta que se alinhe à órbita das minhas
inseguranças. E que começamos a aprender em meados do ensino fundamental,
quando um professor carrancudo com voz grossa e óculos espessos nos pede para
copiarmos a matéria que ele passará no quadro sobre ligações iônicas,
covalentes e metálicas. E que depois explica direitinho do que elas se tratam.
Eu não
lembro muito dessas aulas, salvo as piadas infames que eu e meus colegas
procurávamos inventar com os elementos na tabela periódica. E não me olhe assim;
eu sei que você riu quando encontrou o Cobre na tabela pela primeira vez. Mas
apesar das infantilidades que dominam a vida entre o sexto e o nono ano, eu me
lembro de que deveria ter prestado mais atenção enquanto copiava conceitos
sobre reagentes e outras substancias corrosivas. Porque é exatamente isso que a
gente encontra do ensino médio em diante. Assim como aquela velha metáfora
sobre os carros serem equivalentes a lanchas e motos serem como jet-skis na
água, na vida as pessoas são como cientistas e relacionamentos são como fórmulas.
O que mais explicaria todas as combustões espontâneas a nível emocional que já
senti quando percebi que minhas chances de um jantarzinho a dois com você
evaporaram?
Entre níveis
de pressão e pontos de ebulição, é preciso aceitar o básico da nossa própria
matéria antes de querer se misturar com a substância de outra pessoa. E de
estar bem atento ao fato de que apesar do nosso físico orgânico, somos criaturas
terrivelmente voláteis. Constantemente propensos a acidentes nucleares ao menor
indício de insegurança quando nos envolvemos com alguém que demonstra ser mais
tóxica do que nos foi alertado.
Apesar de
não existirem fórmulas exatas para o amor ou a cumplicidade, eu sempre fico
esperançoso diante de alguém nova. Alguém promissora, interessante, estimulante...
Que parece ter tudo para ser o catalisador que me falta para que eu reaja e me
torne, enfim, estável. É o sonho de qualquer átomo. Mas para isso é necessário
algo crucial, mais até do que filosofar sobre a felicidade através de mensagens
de madrugada ou saber nomear sociólogos importantes para demonstrar conteúdo em
um primeiro encontro: química. E não há nenhuma substância capaz de
substituí-la. Nem mesmo o álcool.
Não deve te
surpreender a esse ponto saber que química sempre esteve entre as matérias da
minha grade... Da recuperação.
***
Vendo pelo
lado bom, é melhor buscar ter uma química natural com alguém do que aprender a
produzir metanfetamína para ficar rico. Não acabou bem para o Walter e,
definitivamente, também não iria acabar bem pra mim.