terça-feira, 12 de julho de 2016

Eu não estava pronto


A essa altura da vida, acho que já posso dizer com propriedade que em matéria de relacionamentos, eu já reprovei de todas as maneiras possíveis. Quando não foram elas quem abriram mão de mim, fui eu quem decidiu fugir delas quando as coisas pareciam ter ficado complicadas demais. E não do tipo de complicação contraditória e atraente com a qual eu aprendi a conviver. Mas do tipo que faz você se perguntar: “Se não está sendo divertido pra mim, e aparentemente nem para você mais, então o que estamos fazendo juntos aqui?”.

Quando algo acaba, independente se isto envolve um comprometimento com alguém ou não, eu me acostumei a dar sempre a mesma desculpa: eu não estava pronto. Parecia ser uma justificativa simples para a minha consciência; se eu não sabia exatamente como agir, como me portar, como responder, é natural que optaria pela escolha errada. Ou, então, pela pessoa errada.

E como era de se esperar de alguém que sente como se todas as respostas que deu para construir a sua vida até hoje foram as erradas, eventualmente eu decidi abandonar as conferências de gabaritos imaginários que existem por aí. Sempre atrelados a competições com vidas que imaginava serem melhores e mais suaves que a minha. Você conhece estas pessoas, provavelmente: são aquelas que sempre saem sorrindo em fotos, ou fazendo check-in em lugares badalados, com outras pessoas alegres ao redor, como se a vida fosse mesmo uma grande festa. E talvez até seja, sabe? Mas isso não muda a sensação que eu sempre tive – de nunca ter sido convidado para ela.

Bom... Talvez eu não estivesse pronto.

***

Eu sempre tive um pouco de medo de ficar sozinho. E em parte, sempre tentei me contentar com isso. Por que alguém incessantemente melancólico, estressado, orgulhoso, arrogante, egocêntrico e com o dom natural de tornar tudo o que toca em algo complicado, deveria arrastar outra pessoa inocente para o meio desta bagunça? Definitivamente ninguém estaria pronta para isso. Talvez seja melhor parar mesmo de procurar. Deixar pra lá todos aqueles clichês sobre a pessoa certa, a hora certa, o lugar certo...

E então você me encontrou.

***

A maior inverdade sobre “não estar pronto” para algo está exatamente em subentender de que existem mesmo momentos definitivos na vida para que você se arrisque em algo, sentindo que há total garantia de que dará certo. Não há. Viver é tentar, é lutar, é arriscar. É sentir medo, ansiedade, incerteza a cada vez que pensamos em dar uma chance a algo que está fora da nossa zona de conforto. Ou então, dar uma chance a alguém que está fora de toda a nossa confusão, e que apesar de todos os alertas e sabotagens da nossa parte, ainda se interessa em querer fazer parte dela. Mais do que isso; alguém que queira andar de mãos dadas no shopping com você.

E então você descobre que a vida não tem nada a ver com estar pronto para ela ou não. Mas estar disposto a tentar mesmo assim... Bom, há algo promissor nisto.


Se tem algo que ando aprendendo ultimamente, é que entre o abismo que existe entre não sentir-se pronto e aparecer feliz em fotos com alguém, há um universo de dúvidas, más impressões e muita, mas muita espera. Mas para quem souber ser paciente, compreensivo e leal à sua causa, a vida do outro lado pode ser ainda melhor do que o esperado. 

Melhor do que qualquer um de nós poderia pensar que estava pronto para ter.