Eu não sei quando foi que as coisas ficaram
assim, tão difíceis. Ainda me lembro de quando a vida costumava ser leve,
suave, convergente. Não posso dizer que um dia foi fácil, porque nunca
realmente foi. Mas costumava ser mais prático, ao menos. Ao contrário de hoje,
onde tudo parece ser tão... burocrático. E talvez a vida adulta seja isso mesmo
– uma luta diária entre crenças e protocolos, onde mais vezes do que eu
gostaria de admitir, o capitalismo se sobressai perante as minhas esperanças.
Já se
passaram sete anos desde que eu saí de casa. E por casa, leia-se a minha cidade
natal. O lugar em que nasci, cresci, conheci algumas pessoas – muitas das quais
não passaram pelo teste do tempo – e aprendi algumas coisas que definitivamente
não foram o suficiente para me preparar para tudo que ainda estava por vir. Não
querendo dizer que nós estaremos milagrosamente prontos para descobrir o que a
vida nos reserva a cada novo dia que temos a sorte de receber. Completo com
todas as possibilidades existentes para salvar o mundo, ou cometer mais alguns
erros de julgamento para a nossa coleção.
Mas o que eu
quero dizer, sinceramente, nada tem a ver com a claustrofobia do horário
comercial ou a pressão dos poucos dias da semana que a vida de adulto considera
como úteis. Ou talvez tenha, e eu perdi o que queria dizer no meio de toda essa
papelada na minha mesa. Me desculpe por isso; as coisas são bem corridas aqui
no escritório. Pessoas falando alto, telefones tocando, e-mails que não param
de chegar... Prometo que voltaremos a conversar assim que eu chegar em casa.
Quando as coisas estiverem mais tranqüilas.
Esses são
alguns dos clichês que eu aprendi a repetir dia após dia, ao contrário das
crenças que eu costumava carregar comigo por aí. Crenças que me ajudavam a
lembrar que, não importa o que aconteça, você vai adorar o amanhã.
É... Eu me
lembro disso. E me lembro que era bom.
Minha vida
costumava ter prioridades diferentes. Amor era o motivo pelo qual eu levantava
da minha cama pela manhã, e meus amigos eram o motivo pelo qual eu sempre conseguia
voltar para casa. Mesmo quando não encontrava o amor por aí. Era um tempo mais
inocente, eu admito. Intocado pelas pressões trabalhistas e preservado das
dores e traumas que só um coração partido viria conhecer. Mas o mesmo tempo que
nos empurra adiante, é o mesmo que nos assombra com o passado. E diante de
tantas contradições, deadlines e normativas, a noção de que tudo ficará bem torna-se
cada vez mais rarefeita. E o amanhã no qual eu tanto acreditava parece estar
sempre a mais de um dia de distância.
Há quem me
veja hoje e se surpreenda com o meu mau humor e a rapidez do meu desdém. Ao
contrário do amor que eu costumava procurar, de uns tempos pra cá eu decidi que
só sobreviveria aos meus dias no mundo lá fora se saísse de casa com meu
sarcasmo engatilhado. Auto-preservação tem seu preço, e geralmente o cobra
através da pessoa que abrimos mão de ser. Por isso dei um tempo na escrita, nas
reflexões e nas trilhas sonoras que eu gosto de deixar registrados aqui. São
equivalentes a migalhas de pão que aquelas crianças perdidas na floresta em uma
fábula qualquer deixavam para trás pelo caminho que percorriam, para ajudá-las
a voltar para casa. Mas a vida não é um conto de fadas, nem uma comédia
romântica, nem possui sentido o suficiente para render um enredo coerente. A
vida é só... a vida. Uma série de eventos aparentemente aleatórios que só
possuem significado quando você decide parar para pensar sobre aonde está indo,
da onde veio, e como faria para voltar para casa se precisasse.
Bom, eu
ainda me lembro do caminho de volta para casa, e por tudo que passei para
chegar até aqui. Só não sei mais aonde estou indo. E se eu me conheço bem, só
há um jeito de redescobrir isso. Começando por desenterrar minhas razões para
acreditar que o amanhã que procuro não está tão longe assim.
***
A idéia para
este blog surgiu para me ajudar a descobrir por onde eu estava andando,
enquanto ainda me adaptava aos marcos turísticos e definições dispersas do centro
da cidade de Foz do Iguaçu. E depois de quase um ano e meio, acredito que ele
tenha servido seu propósito com louvor. Foi tão útil, aliás, que não só me
guiou enquanto eu desbravava este admirável novo mundo, como também me ajudou a
reencontrar um antigo. Um lugar muito especial para mim, que carregava consigo
uma mensagem muito importante. E para seguir adiante daqui, é essa mensagem que
eu preciso voltar a carregar comigo.
Obrigado a
todos que acompanharam as postagens, os dramas, as irreverências e as trilhas
sonoras do Tranqueiras do Paraguai.
Eu não teria chego até aqui sem vocês, mas algo ficou faltando nesse
meio-tempo, e é isso que eu vou trazer de volta em 2017.
Para quem
ainda não conhece, me acompanhe no próximo ano. Você vai
adorar o amanhã.
Texto fascinante. Não me canso de te parabenizar! =)
ResponderExcluirDeixar de acreditar é fácil. Mas o amor simplesmente não foi feito para os covardes. Então arrisque sempre, Igor. Não deixe de exercer o seu direito de busca pelo amor da sua vida. Não importa o quanto pareça difícil conservar a esperança.
Eu acredito na sua felicidade!
Beijos.