Depois de anos de decepções e desenganos, aconteceu que minhas suspeitas estavam certas.
Que eu não estava exagerando quando dizia que quando se faz tudo por amor – ou
qualquer outro sentimento peculiar que você por acaso goste de chamar de amor,
na falta de algo real – e mesmo assim as coisas não dão certo, é possível que a
angústia, a fatiga emocional, as mensagens de texto não-visualizadas, as coisas
na sua casa que ficaram com o perfume dela e o mar de lágrimas que você mesmo
cria e no qual quase se afoga possam ocasionar algo chamado “cardiomiopatia Takotsubo”. Também
conhecida como cardiomiopatia induzia por estresse, ou – adivinha só! – a síndrome
do coração partido.
Eu sempre pensei que o preço por insistir em acordar pensando em você e
fazer tudo o que eu pudesse para que você continuasse se sentindo feliz e
confortável não seria nada mais caro do que alguns traumas, problemas com
ansiedade e dificuldades em me relacionar com qualquer outra pessoa de novo –
nada demais, realmente, a essa altura do campeonato. Mas a ideia de que a sua
indiferença, descaso e insensibilidade poderiam ser capazes de me causar
sintomas como insuficiência aguda do coração, arritmias ventriculares letais e
ruptura ventricular foi mais interessante do que reconsiderar voltar à terapia.
Porque me fez refletir sobre exatamente o quanto este sentimento peculiar que
eu gosto de chamar de amor é mais forte do que o meu próprio instinto de
sobrevivência.
Depois de anos de decepções e desenganos, estudos agora comprovam que
você realmente me causou mais taquicardia do que felicidade. Então por que eu
insisto em acreditar que você é o remédio que eu preciso para deixar de
procurar nomes de síndromes para aliviar meus sintomas? Talvez porque o efeito
placebo que você me proporciona é menos doloroso do que admitir que cada dia ao
seu lado me leva cada vez mais em direção à falência cardíaca e a incapacidade
de sentir que poderia dar certo com outra pessoa.
Mas ao contrário da pessoa que há anos você conheceu, usou, abusou e
internou em intenso descaso, quem eu sou hoje parece estar muito mais sadio e
apto para seguir em frente e conhecer alguém muito melhor que você. Eu não vou
mais deixar que meu coração permaneça aberto para quem quiser ir e vir só
quando sentir vontade; esta área não é mais para visitantes, e você precisa ter
carteirinha e caráter para entrar. A síndrome do coração partido é uma condição
rara, porém indivíduos acometidos por ela possuem 80% de chances de perderem
toda a crença no amor e nas pessoas de uma vez por todas. E sinto muito, mas
você é bonita, legal e até engraçada às vezes, mas definitivamente não vale o
que a minha saúde vale.
Igor Costa Moresca sente-se recuperado, está consciente e já é capaz de
amar novamente sem a ajuda de aparelhos.
*Escrito em
18/08/2013.