terça-feira, 19 de abril de 2016

A síndrome do coração partido

Depois de anos de decepções e desenganos, aconteceu que minhas suspeitas estavam certas. Que eu não estava exagerando quando dizia que quando se faz tudo por amor – ou qualquer outro sentimento peculiar que você por acaso goste de chamar de amor, na falta de algo real – e mesmo assim as coisas não dão certo, é possível que a angústia, a fatiga emocional, as mensagens de texto não-visualizadas, as coisas na sua casa que ficaram com o perfume dela e o mar de lágrimas que você mesmo cria e no qual quase se afoga possam ocasionar algo chamado “cardiomiopatia Takotsubo”. Também conhecida como cardiomiopatia induzia por estresse, ou – adivinha só! – a síndrome do coração partido.

Eu sempre pensei que o preço por insistir em acordar pensando em você e fazer tudo o que eu pudesse para que você continuasse se sentindo feliz e confortável não seria nada mais caro do que alguns traumas, problemas com ansiedade e dificuldades em me relacionar com qualquer outra pessoa de novo – nada demais, realmente, a essa altura do campeonato. Mas a ideia de que a sua indiferença, descaso e insensibilidade poderiam ser capazes de me causar sintomas como insuficiência aguda do coração, arritmias ventriculares letais e ruptura ventricular foi mais interessante do que reconsiderar voltar à terapia. Porque me fez refletir sobre exatamente o quanto este sentimento peculiar que eu gosto de chamar de amor é mais forte do que o meu próprio instinto de sobrevivência.

Depois de anos de decepções e desenganos, estudos agora comprovam que você realmente me causou mais taquicardia do que felicidade. Então por que eu insisto em acreditar que você é o remédio que eu preciso para deixar de procurar nomes de síndromes para aliviar meus sintomas? Talvez porque o efeito placebo que você me proporciona é menos doloroso do que admitir que cada dia ao seu lado me leva cada vez mais em direção à falência cardíaca e a incapacidade de sentir que poderia dar certo com outra pessoa.

Mas ao contrário da pessoa que há anos você conheceu, usou, abusou e internou em intenso descaso, quem eu sou hoje parece estar muito mais sadio e apto para seguir em frente e conhecer alguém muito melhor que você. Eu não vou mais deixar que meu coração permaneça aberto para quem quiser ir e vir só quando sentir vontade; esta área não é mais para visitantes, e você precisa ter carteirinha e caráter para entrar. A síndrome do coração partido é uma condição rara, porém indivíduos acometidos por ela possuem 80% de chances de perderem toda a crença no amor e nas pessoas de uma vez por todas. E sinto muito, mas você é bonita, legal e até engraçada às vezes, mas definitivamente não vale o que a minha saúde vale.

Igor Costa Moresca sente-se recuperado, está consciente e já é capaz de amar novamente sem a ajuda de aparelhos.

*Escrito em 18/08/2013.