sexta-feira, 15 de abril de 2016

A história sem fim

Eu estou ficando um pouco cansado de carregar uma bagagem enorme comigo por aí. De ter uma “longa história” que eu preciso contar para alguém quando começo um novo relacionamento. Uma longa e aparentemente interminável história, cheia de curvas inesperadas e personagens infames que, de uma maneira ou outra, acabaram por intervir no rumo deste que vos fala – o protagonista – e que conseqüentemente tiveram algo a ver com o modo como eu levo a minha vida agora. Alguns me acrescentaram, outros me diminuíram, mas independente das suas participações, sempre que estas se mostram finitas eu acabo me sentindo... Quite. Isto é, em um primeiro momento. As conseqüências dos nossos atos e dos que outros tomaram sobre nós só vem à tona com o passar do tempo. Ou, neste caso, nos próximos capítulos.

Como se cada uma dessas pessoas que vieram e se foram, por serem infelizes na sua existência ou porque eu decidi que estava na hora de rescindir seu contrato, tivessem feito parte do arco principal de uma temporada. Mas devido à pobre audiência que atraíram em mim, acabaram por terem suas participações encerradas. E como não poderia deixar de ser, geralmente acaba sendo de uma maneira dramática – “Nós não podemos continuar nos enganando deste jeito! Precisamos terminar! E não me procure mais!” – ou até mesmo em forma de cliffhanger – “Até a próxima...” Tem até um pessoal que sumiu sem explicação, mas que no final das contas não atrapalhou em nada o enredo.

Enfim, a vida não é uma comédia romântica. Nem um seriado à espera constante de uma reviravolta que traga ação, aventura, suspense e situações irreverentes para serem resolvidas a cada novo episódio. A vida é só... A vida. Com dias em que parece não haver nada pra fazer a não ser definhar no sofá em frente à televisão, e dias em que 24 horas parecem pouco para dar conta de tudo que precisa ser feito. Isso acontece. Mas voltando ao rascunho do episódio de hoje, as vezes em que a minha “longa história” precisa ser contada sempre me deixa enjoativamente nostálgico. Ao ponto de tentar relembrar em qual ponto da história um erro foi cometido que mudou toda a trajetória da trama.

Mas as pessoas vem e vão, assim como as situações-problema. Há quem diga que tudo serve para, no mínimo, guardar na experiência. Essas pessoas provavelmente são autoras de best sellers extremamente bem sucedidos, enquanto eu me enquadro na categoria mais obscura da biblioteca sob a sina de cometer o mesmo erro – geralmente com a mesma pessoa – umas quatro ou cinco vezes até que todo o nosso afeto se resuma a um único tom de cinza. Independente disso, eu não me sinto tão constrangido para recontar a minha longa história para uma potencial pretendente/coadjuvante em ascensão: ela precisa saber como eu me desenrolei ate aqui, e é bom para que eu mantenha em mente que apesar de tudo o que passou, tudo passou.

Agora vire a página, dê um parágrafo e comece de novo.

*Escrito em 17/02/2015.