quinta-feira, 14 de abril de 2016

A garota do adeus


Você gosta de mim. Você gosta da minha honestidade, meu caráter, minha lealdade extrema a quem eu sou nesta vida. Você gosta de mim porque eu não minto para você sobre quem eu sou, ou sobre as coisas que você precisa ouvir. Você gosta de mim porque eu não alimento o seu egoísmo, nem jogo os seus jogos, nem respeito as suas incoerências quando nem você mesma se dá a este trabalho.

Você gosta de mim porque eu sei lidar com os seus dramas, sei como enxugar suas lágrimas, e sei o que dizer para fazer você se sentir melhor. Você gosta de mim porque eu te faço chorar quando você precisa desabafar, mas é incapaz de admitir derrota, baixar as guardas e permitir que outra pessoa te veja vulnerável. Mesmo quando não há placar ou vencedor, você sempre sente que perdeu alguma coisa.

Você gosta de mim porque eu não digo o que você quer. Eu digo o que você precisa ouvi e mais ninguém te diz. Nem você mesma, quando está sozinha e mal se atreve a pensar nisso. Você gosta de mim porque somos parecidos. E é exatamente por isso que você impõe limites para mim no seu coração.

Você gosta de mim, mas só até certo ponto. Você gosta de mim, mas pensa que não podemos ser mais nada além do que já somos. Porque eu sou tão quebrado, perdido e inconsequente como você. Mas você gosta de mim mesmo assim. Gosta quando conversamos, porque é a maneira que você tem de enfrentar seus próprios problemas sem precisar se ver no espelho ou sentir na própria pele a dor da realidade de que, sim, você não é perfeita. Sim, você precisa mudar.

Você gosta de mim, mas não se prende a mim nem a mais ninguém. E é por isso que articula sua indiferença com fineza toda vez que eu atinjo meu limite e me afasto. Você gosta de mim, porque sabe que eu sempre volto. Apesar de saber que você gosta de mim, eu gostaria de saber: porque você não pára de me dar motivos para me afastar, e tenta gostar de mim também ao ponto de aceitar que não quer que eu nunca mais vá para longe?

***

E por muito tempo foi assim que eu me senti. Até, de repente, não conseguir sentir mais nada. Até não ser mais capaz de aguentar a sua respiração perto de mim, os seus braços ao meu redor, ou a sua boca usando meu nome em vão. Completa com outros sentimentos muito bonitos mas que pareciam ridiculamente insinceros vindo de você, como alegria ou saudade.

Um dia algo aconteceu. O inimaginável. O inesperado. O impossível. Logo eu que era incapaz de conceber a ideia de ficar longe de você, decidi que seria menos doloroso tentar sobreviver longe de você do que insistir em congelar no frio da sua sombra. Um lugar da onde você definitivamente jamais me tiraria.

Porque desde o primeiro momento em que nos conhecemos – e eu deveria ter prestado mais atenção aos seus olhos do que nas suas palavras – era claro que eu não seria mais nada pra você além de alguém que estaria sempre ali quando precisasse. Quando você quisesse, para tirar toda a dor do seu coração e guardar no meu, sem me importar por um segundo com o quanto isso me mataria por dentro a cada amanhã que viesse. Só que o último amanhã chegou. E é isso...
           
Eu não posso mais ficar perto de você. Não sou tão forte assim. Nem sei se um dia eu realmente fui.
           
As certezas se foram. Estou me recompondo aos poucos; a mim e as minhas razões para acreditar em qualquer coisa de novo, principalmente nas pessoas. Ninguém que vier depois de você tem uma parcela da responsabilidade pelo que agora eu percebo que não foi nem você quem causou. Fui eu. Você não me pediu para adotar a sua dor. Você só queria atenção. Só queria sentir que alguém gostava de você e conseguiu.


Quem sabe por um instante você realmente gostou de mim, e talvez até sinta mesmo a minha falta. Mas por mais que você goste de mim, eu amo você e essa é a maior diferença entre nós. A diferença que agora não me deixa mais negar o óbvio: você não era a garota certa. Nem mesmo era a garota errada. Você só era... Você. E eu te amo e sinto muito por isso.

Adeus.

*Escrito em 12/08/2013.