*Escrito em
15/08/2011
Eu não lhe dei o motivo do por que eu estava saindo da sua vida porque, no fim,
pareceu que só o que havia me restado era isto. Tudo mais eu dei a você sem ser
requisitado e sem hesitar, achando que estaria seguro em seus braços. Acho que
só serviu para mostrar que talvez se entregar de coração e alma a alguém ainda
não seja o meu forte. Ou então, sou eu quem não está preparado para este tipo de
intimidade. Ou, ainda há a possibilidade de que o problema não fosse comigo – e
talvez nem com você – mas conosco. Juntos na nossa irresistível complicação que
durou mais do que deveria. E que mesmo depois de tanto tempo ainda parece
inesquecível.
Eu poderia dizer que nossos mundos eram diferentes demais para
conseguirmos aceitar um ao outro fielmente em nossas vidas. Ou então, que
nossos círculos de amizades eram distantes demais para realmente nos aproximar.
Talvez seja porque sempre existiu um limite de até onde nos permitimos chegar
dentro do coração do outro. E ultrapassar este limite tenha feito com que nós terminássemos
antes mesmo de começar alguma coisa sincera. Alguma coisa que vagamente
lembrasse uma amizade, um amor, ou qualquer outra espécie de sentimento de
afeição entre duas pessoas que prezavam tanto pela companhia um do outro. Mas
que em questão de mal-entendidos, mentiras encobertas e promessas desleais,
tornaram-se horrorizadas pela ideia de reencontrarem-se. Isto é, eu falo tudo
isso por mim. Quem sabe você também sinta parte disso. Eu não sei...
Mas o verdadeiro motivo você sempre soube. Afinal, quantas vezes eu fiz
questão de lhe dizer, e quantas vezes você fingiu que não escutou? E assim
prosseguimos, fazendo de conta de que tudo estava bem. E que poderíamos levar
isso adiante até que a vida nos separasse naturalmente. Se ao menos eu fosse
tão simples assim – e eu te avisei que não era. O problema é que você também me
enganou bastante. Usou-me porque fez sentido na hora, e eu parecia bastante
útil para você. E o pior é que não é só sua culpa. Eu gostava de ser usado, de
significar qualquer coisa para você, que pelo menos fizesse com que você me
procurasse de vez em quando. Para que eu não precisasse me rastejar o tempo
todo. Eu posso estar exagerando, claro, mas quem viu de fora sabe que o tudo
que sei agora não foge tanto da realidade. Você mentia, e eu adorava o seu
jeito de mentir. Talvez fosse porque eu não sabia dizer não aos seus olhos.
Olhos que me encantavam tanto e até mesmo agora, quando não suporto mais
encará-los.
Por tudo isso e mais é que não lhe dei o motivo. É simplesmente só o que
me restou, não entende?! E se eu também entregar isso a você, então o vazio que
agora tomou o espaço que você costumava preencher se tornará oficial. E acho
que eu ainda não saberia como lidar com isso. Eu e você ainda vamos nos rever
por muito tempo. Momentos de silêncio e constrangimento irão mascarar lembranças
de risadas e segredos e lágrimas passadas que compartilhamos juntos. E não há
nada que podemos fazer a não ser tentar superar e seguir em frente quando
passarmos um pelo outro pelos corredores da vida.
Mas se você precisa mesmo saber o motivo, acho que eu também preciso
abrir mão disto para sair mesmo da sua vida, e para que você finalmente deixe a
minha. Estas palavras não vem de raiva ou ressentimento; elas vem de mágoa. De
dor. E de um coração que já nem sinto mais, mas que preciso que volte a viver
se eu quiser entregá-lo a outra pessoa de novo um dia. Por uma fração de
segundos, acho que eu fui a pessoa mais importante da sua vida. Dentro dos
limites que você impôs a mim. E era só o que eu poderia ser. O motivo foi a
discrepância, meu bem. Porque quanto a mim... Bom...
Eu acho que amei você. Sinto muito por isso.