terça-feira, 26 de abril de 2016

Eu acho que amei você


*Escrito em 15/08/2011

Eu não lhe dei o motivo do por que eu estava saindo da sua vida porque, no fim, pareceu que só o que havia me restado era isto. Tudo mais eu dei a você sem ser requisitado e sem hesitar, achando que estaria seguro em seus braços. Acho que só serviu para mostrar que talvez se entregar de coração e alma a alguém ainda não seja o meu forte. Ou então, sou eu quem não está preparado para este tipo de intimidade. Ou, ainda há a possibilidade de que o problema não fosse comigo – e talvez nem com você – mas conosco. Juntos na nossa irresistível complicação que durou mais do que deveria. E que mesmo depois de tanto tempo ainda parece inesquecível.

Eu poderia dizer que nossos mundos eram diferentes demais para conseguirmos aceitar um ao outro fielmente em nossas vidas. Ou então, que nossos círculos de amizades eram distantes demais para realmente nos aproximar. Talvez seja porque sempre existiu um limite de até onde nos permitimos chegar dentro do coração do outro. E ultrapassar este limite tenha feito com que nós terminássemos antes mesmo de começar alguma coisa sincera. Alguma coisa que vagamente lembrasse uma amizade, um amor, ou qualquer outra espécie de sentimento de afeição entre duas pessoas que prezavam tanto pela companhia um do outro. Mas que em questão de mal-entendidos, mentiras encobertas e promessas desleais, tornaram-se horrorizadas pela ideia de reencontrarem-se. Isto é, eu falo tudo isso por mim. Quem sabe você também sinta parte disso. Eu não sei...

Mas o verdadeiro motivo você sempre soube. Afinal, quantas vezes eu fiz questão de lhe dizer, e quantas vezes você fingiu que não escutou? E assim prosseguimos, fazendo de conta de que tudo estava bem. E que poderíamos levar isso adiante até que a vida nos separasse naturalmente. Se ao menos eu fosse tão simples assim – e eu te avisei que não era. O problema é que você também me enganou bastante. Usou-me porque fez sentido na hora, e eu parecia bastante útil para você. E o pior é que não é só sua culpa. Eu gostava de ser usado, de significar qualquer coisa para você, que pelo menos fizesse com que você me procurasse de vez em quando. Para que eu não precisasse me rastejar o tempo todo. Eu posso estar exagerando, claro, mas quem viu de fora sabe que o tudo que sei agora não foge tanto da realidade. Você mentia, e eu adorava o seu jeito de mentir. Talvez fosse porque eu não sabia dizer não aos seus olhos. Olhos que me encantavam tanto e até mesmo agora, quando não suporto mais encará-los.

Por tudo isso e mais é que não lhe dei o motivo. É simplesmente só o que me restou, não entende?! E se eu também entregar isso a você, então o vazio que agora tomou o espaço que você costumava preencher se tornará oficial. E acho que eu ainda não saberia como lidar com isso. Eu e você ainda vamos nos rever por muito tempo. Momentos de silêncio e constrangimento irão mascarar lembranças de risadas e segredos e lágrimas passadas que compartilhamos juntos. E não há nada que podemos fazer a não ser tentar superar e seguir em frente quando passarmos um pelo outro pelos corredores da vida.

Mas se você precisa mesmo saber o motivo, acho que eu também preciso abrir mão disto para sair mesmo da sua vida, e para que você finalmente deixe a minha. Estas palavras não vem de raiva ou ressentimento; elas vem de mágoa. De dor. E de um coração que já nem sinto mais, mas que preciso que volte a viver se eu quiser entregá-lo a outra pessoa de novo um dia. Por uma fração de segundos, acho que eu fui a pessoa mais importante da sua vida. Dentro dos limites que você impôs a mim. E era só o que eu poderia ser. O motivo foi a discrepância, meu bem. Porque quanto a mim... Bom...

Eu acho que amei você. Sinto muito por isso.