Escrito
em 12 de Janeiro de 2010, mas eu tive o sonho de novo...
*
Eu tive um sonho ontem à noite. Eu estava numa sala de
cirurgia, com médicos e enfermeiras ao meu redor, todos com seus bisturis e
anestesia direcionados ao meu coração. De repente, um dos médicos se assusta
com algo e todos param. Ele estuda cuidadosamente com uma pinça uma fratura no
meu coração jamais vista antes. E afirma com horror, "Este coração foi partido". Os médicos ao redor balançam a
cabeça em uníssono e adjetivos parecidos; "Quebrado", "Estraçalhado",
"Incurável". O cirurgião
pega meu coração em mãos e o avalia uma vez mais com choque, e o joga no lixo.
Acordei.
**
Estranho
mesmo é não direcionar mais minhas palavras para “você”. Me faz sentir mais sozinho agora que começo a tomar conta
que “você” nunca lerá isto.
***
Na
manhã seguinte eu decidi levantar cedo e levar meu coração partido para
passear. Estava frio e levemente chuvoso, mas eu nem liguei. Depois de alguns
anos, eu me dei conta exatamente de como esta cidade é o lugar perfeito para se
estar sozinho. Uma verdadeira terra de ninguém, onde o desdém toma conta do ar
e fica até difícil atravessar as ruas. De manhã pelo menos é um pouco mais
sossegado.
Ao
passar das esquinas e das músicas, eu percebi o quanto ainda pensava em você. Quem dizer; nela. Escrever como se fosse para ela parece mais suave, e menos
doloroso de admitir que ela não está mais aqui. Fantasias dela me faziam
companhia, junto a meus artistas favoritos. Barry White cantava sobre como você
era especial. Gloria Gaynor gritava sobre como eu nunca conseguiria realmente
dizer adeus. Al Green perguntava sobre como fazer a chuva parar de cair, e como
reparar um coração partido.
Ao longo
da avenida, parei em um café para tentar me esquentar, e para deixar a chuva
cair na cidade em vez da minha cabeça. Olhando pela janela, parecia que todas
que passavam por ali tinham algo parecido com ela. O cabelo, o perfume... Eu
procurava qualquer vestígio para alimentar minhas lembranças. Mesmo sabendo da
dor que a saudade trazia. Saudade, inclusive, que parecia ser tudo o que me
restava.
Segui
meu caminho de volta pra casa e a chuva começou a cair mais forte. Estava
difícil de enxergar com o vento levantando a chuva e jogando-a nos rostos de
todos. Estranhamente, pela primeira vez, eu me senti "confortável"
com o clima cinza e frio que me cercava. Como se eu finalmente sentisse que
poderia fazer parte disso tudo.
Depois
de chegar em casa, preparei mais um café. Ao refletir com a chuva batendo na
janela, percebi que a verdade era que eu ainda esperava ver ela de novo por aí.
No mais aleatório dos momentos, quando eu não estivesse mais esperando
encontrá-la. Talvez porque a memória do rosto dela parecia estar se esvaziando da
minha memória a cada dia que passava. Não digo mais seu nome em voz alta e não
faço mais planos para dois. A maioria dos lugares pelos quais eu passava
guardavam resquícios de saudade pelos bons tempos.
Não
sei o que diria se eu a visse de novo nem o que faria. Ouço músicas sobre como
agora fujo do amor que eu procurava e de como não sei por quanto tempo ainda
viveria assim. Antes parecia um insulto dizer que a vida continuaria sem ela; não
parecia fazer justiça. Não parecia uma ideia tão ruim, dedicar os meus dias
cinzas a ela. Enquanto a sensação de separação inacabada continua a me
assombrar, sinto-me bem com a companhia de minhas fantasias. E quem sabe foi
pelo melhor. Nenhum de nós realmente conseguiria dizer adeus.
****
Algumas dias
depois, eu tive um pensamento. Acho que prefiro sentir falta dela, do que realmente
estar com ela. Não me pergunte o por quê. Só parece menos doloroso desse jeito.