Depois
de completar um mês morando em Foz do Iguaçu, eu já me sinto bem mais a vontade
para tratar a cidade do mesmo jeito que eu trato todas as outras coisas da
minha vida: com ansiedade, egocentrismo e delírios de grandiosidade. E, claro, submetendo-a
a se encaixar em quaisquer teorias que eu tenha a conceber pelo bem da minha
existência. Não é o sistema mais eficaz do mundo, mas é o que nós, projetos de
escritores, carinhosamente chamamos de “processo
criativo”.
Talvez
seja a única profissão do mundo em que ter um olhar megalomaníaco sobre todas
as coisas sirva para produzir obras, matérias, crônicas e reportagens que
possam pagar as nossas contas. O sensacionalismo interno deve ceder lugar aos
fatos, cuidadosamente dosados com opiniões, argumentos e, no meu caso, um senso
apocalíptico de humor. Ao menos esta é a esperança. Mas atualmente os fatos são
de que, por enquanto, eu sou apenas um cara de 23 anos desbocado e com muito
tempo livre, mas com um sonho. Um sonho que eu não sabia que tinha até vê-lo
com os meus próprios olhos, no último lugar que eu pensei que seria possível
encontrá-lo: uma mesa de bar.
Durante
a minha mais recente odisséia rumo a um novo emprego, tive a oportunidade de
conhecer alguns dos jornalistas mais importantes e influentes da cidade – e de,
humildemente, lhes pedir ajuda para sobreviver profissionalmente na terra das
Cataratas. E foi em uma destas entrevistas que algo inusitado aconteceu: a
velha história de “eu conheci um cara,
que conhece um cara, que conhece um cara que pode me arrumar um emprego”. Um
cara que, coincidente, também freqüenta o mesmo bar que eu e que,
aparentemente, também possui a sua mesa cativa onde outros grandes figurões do
cenário jornalístico se reúnem para um dos mais sagrados rituais da profissão
(e um velho favorito meu também): o happy hour.
Era
o que se podia imaginar de um grupo de jornalistas: óculos de grau com armações
grossas, camisetas pólo com o colarinho descontraído, as típicas tiradas
sarcásticas contra o governo, um castelo de canecas de chopp sob a mesa, e
chapéus panamá usados como símbolos de liberdade de expressão. Após a minha
entrevista, pus-me em uma mesa na órbita daquela reunião extracurricular de
profissionais da mídia impressa, rádio e telecomunicação, e fiquei hipnotizado
pela possibilidade de, um dia, ter meu próprio lugar naquela mesa. Ser capaz de
construir uma carreira ao retomar os meus estudos do campo e eventualmente
integrar o seleto círculo de figuras públicas capazes de investigar, apurar,
especular e, enfim, noticiar fatos sobre o mundo afora, para enfim tirar alguns
momentos no fim do dia para comemorar com os colegas de profissão por mais um
dia de dever cumprido – com direito, é claro, a tirar o chapéu panamá e
colocá-lo sobre a mesa como quem quer dizer, “Por hoje é só”.
Foi
aí que eu decidi: faria parte da “turma do chapéu” um dia e tomaria meu lugar
em uma terra de gigantes. Melhor ainda: teria cadeira cativa também naquela
mesa. E ninguém sairia de lá enquanto o governo não mudasse.