quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A linha de chegada


Se na virada do ano alguém me dissesse que dali nove meses eu estaria correndo pelas ruas de Foz do Iguaçu em um dia raramente nublado, escutando uma versão polca de “Bohemian Rhapsody”, depois de me graduar em Psicologia e decidir agregar isso a uma segunda faculdade de Jornalismo, começando em 2016, na esperança de me tornar um escritor famoso (e mais magro) um dia, mesmo que isto significasse deixar minha liberdade imobiliária, meus amigos, e toda a vida que eu construí para mim mesmo durante os últimos seis anos para trás...
Eu provavelmente acreditaria, porque parece totalmente algo que eu faria.Tanto é que...

Mas apesar das mudanças, existe algo do qual eu ainda não consegui fugir: a noção distorcida de que é mais importante correr rápido do que percorrer distâncias maiores. E da minha insegurança nasce a fadiga, que cede lugar à paranoia... Que me faz quase pisar em um bando de quatis que inexplicavelmente habitam a região central da cidade em busca de comida, enquanto pessoas passam correndo por eles em busca de aliviar o estrago que a comida lhes fez.

Entre animais silvestres curiosos, idosos de regata e a temperatura vulcânica da cidade, eu consegui recuperar aqui o meu ritmo de meses atrás – quando 2015 começou e eu decidi que uma das minhas metas seria deixar de caminhar para aprender a correr, e fazer um esforço a mais para a minha saúde que, no mínimo, compensasse pela ingestão desenfreada de bebidas alcoólicas e tranqueiras gordurosas. A questão não é fazer isto por uma vida mais light, mas pela redução de dados em um corpo que – pelos meus cálculos – irá se auto-destruir quando eu completar 30 anos, ou irá durar para sempre. Eu não sei qual será ainda, por isso levo um dia e uma long neck de cada vez.

Enfim, hoje eu me peguei relembrando os primeiros dias de 2015, quando ainda morava em Cascavel e estava há poucos dias da colação de grau. E de que quando nada parecia fazer sentido e eu me sentia perdido, sair correndo (literalmente) parecia a coisa mais sensata a se fazer. Ajudava a dar um cansaço na ansiedade, a colocar as idéias no lugar, e a tentar fixar em mim a lição de que não importa com qual velocidade você está correndo, se não sabe aonde quer chegar. E que mais importante que isto, é saber reconhecer a distância que você já foi capaz de percorrer – e arriscar a ir um pouco mais longe quando se sentir acomodado.

Foz do Iguaçu tem sido o meu percurso além da rota que eu estava acostumado a correr na vida, e a cada dia que passa pude perceber exatamente aonde quero chegar com tudo isto. Foi aqui que eu percebi que existe um conceito ainda mais importante do que a velocidade ou a distância do trajeto: algumas pessoas podem simplesmente seguir pelo mesmo caminho por algum tempo, até tomarem caminhos opostos que os levem até o que procuram. Eu sempre serei grato à minha primeira formação pelo conhecimento que pude adquirir e as pessoas com quem compartilhei aquele tempo, mas a verdade é que quando cruzamos a linha de chegada, muita gente ao meu redor sentiu que venceu... Eu não. Não porque eu queria algo a mais; queria algo diferente. E agora que eu sei aonde quero chegar, o caminho já não parece mais tão tortuoso. Pelo contrário: finalmente parece liberado para mim.

E não será um dia nublado que irá me impedir de continuar correndo atrás do que eu quero me tornar: um escritor. Agora, se serei magro ou não, só o tempo dirá.