Se na virada do ano alguém me
dissesse que dali nove meses eu estaria correndo pelas ruas de Foz do Iguaçu em
um dia raramente nublado, escutando uma versão polca de “Bohemian Rhapsody”,
depois de me graduar em Psicologia e decidir agregar isso a uma segunda
faculdade de Jornalismo, começando em 2016, na esperança de me tornar um
escritor famoso (e mais magro) um dia, mesmo que isto significasse deixar minha
liberdade imobiliária, meus amigos, e toda a vida que eu construí para mim
mesmo durante os últimos seis anos para trás...
Eu provavelmente acreditaria,
porque parece totalmente algo que eu faria.Tanto é que...
Mas apesar das mudanças, existe
algo do qual eu ainda não consegui fugir: a noção distorcida de que é mais
importante correr rápido do que percorrer distâncias maiores. E da minha
insegurança nasce a fadiga, que cede lugar à paranoia... Que me faz quase pisar
em um bando de quatis que inexplicavelmente habitam a região central da cidade
em busca de comida, enquanto pessoas passam correndo por eles em busca de
aliviar o estrago que a comida lhes fez.
Entre animais silvestres
curiosos, idosos de regata e a temperatura vulcânica da cidade, eu consegui
recuperar aqui o meu ritmo de meses atrás – quando 2015 começou e eu decidi que
uma das minhas metas seria deixar de caminhar para aprender a correr, e fazer
um esforço a mais para a minha saúde que, no mínimo, compensasse pela ingestão
desenfreada de bebidas alcoólicas e tranqueiras gordurosas. A questão não é
fazer isto por uma vida mais light, mas pela redução de dados em um corpo que –
pelos meus cálculos – irá se auto-destruir quando eu completar 30 anos, ou irá
durar para sempre. Eu não sei qual será ainda, por isso levo um dia e uma long
neck de cada vez.
Enfim, hoje eu me peguei
relembrando os primeiros dias de 2015, quando ainda morava em Cascavel e estava
há poucos dias da colação de grau. E de que quando nada parecia fazer sentido e
eu me sentia perdido, sair correndo (literalmente) parecia a coisa mais sensata
a se fazer. Ajudava a dar um cansaço na ansiedade, a colocar as idéias no
lugar, e a tentar fixar em mim a lição de que não importa com qual velocidade
você está correndo, se não sabe aonde quer chegar. E que mais importante que
isto, é saber reconhecer a distância que você já foi capaz de percorrer – e
arriscar a ir um pouco mais longe quando se sentir acomodado.
Foz do Iguaçu tem sido o meu
percurso além da rota que eu estava acostumado a correr na vida, e a cada dia
que passa pude perceber exatamente aonde quero chegar com tudo isto. Foi aqui
que eu percebi que existe um conceito ainda mais importante do que a velocidade
ou a distância do trajeto: algumas pessoas podem simplesmente seguir pelo mesmo
caminho por algum tempo, até tomarem caminhos opostos que os levem até o que
procuram. Eu sempre serei grato à minha primeira formação pelo conhecimento que
pude adquirir e as pessoas com quem compartilhei aquele tempo, mas a verdade é
que quando cruzamos a linha de chegada, muita gente ao meu redor sentiu que
venceu... Eu não. Não porque eu queria algo a mais; queria algo diferente. E
agora que eu sei aonde quero chegar, o caminho já não parece mais tão tortuoso.
Pelo contrário: finalmente parece liberado para mim.