A coisa mais Iguaçuense
que eu vi nos últimos dias foi um homem que pude considerar como religiosamente
extremista, marchando entre a avenida Brasil e a Presidente Kennedy enquanto
carregava uma placa que anunciava o apocalipse ao sinalizar que “Deus está
voltando”. Até aí tudo bem; este não é o primeiro estagiário divino a calcular
errado o dia do juízo final que eu já encontrei por aí. O que foi interessante
foi passar por ele em outras ocasiões e descobrir que ele possui mais versões
daquela placa do que eu esperava; com o mesmo aviso, mas em outras duas línguas
diferentes – inglês e árabe. E mais uma vez eu me peguei pensando sobre o
quanto Foz do Iguaçu é fascinante a nível global, mesmo quando me pego sendo
informado do seu eventual fim.
Apocalipses à parte, eu
continuo dando continuidade ao que já pode ser considerada a minha maratona
pessoal de assuntos aleatórios – que, por sua vez, inclui a própria atualização
semanal desta página infame – enquanto meus planos profissionais aproveitam o
fim do inverno para hibernar um pouco mais. E talvez tenha sido a lembrança
daquele sujeito tão preocupado em avisar todas as pessoas de todos os povos que
nenhum deles resistirá ao arrebatamento – ou o fato de que House of Cards só volta
em Fevereiro – que uma vontade tanto quanto suicida me cativou a fazer o
download das cinco temporadas de Game of Thrones como forma de ocupar
os meus dias sem luta/dias sem glória.
Eu sei o que vocês que já
assistiram estão pensando em me dizer: todo mundo morre (risos, risos, frustração súbita). Mas se uma série de fatalidades
iminentes realmente me impedisse de assistir algo, eu não deixaria minha cama
de manhã para servir de espectador aos comentários ironicamente críticos do Chico
Pinheiro no Bom Dia Brasil sobre as últimas chacinas nacionais enquanto
tomo meu café com leite. No entanto, algo para o qual eu não estava preparado –
e talvez os fãs mais antigos sintam um pingo de saudade com a minha inocência
aqui – foi descobrir que todo mundo morre mesmo:
começando aos 5:51 minutos do primeiro episódio, com uma decapitação surpresa,
até... Bom, eu só assisti ao primeiro episódio, mas isto parece servir mais para
estabelecer o começo de rotina do que para nos assustar. Conforme as duas
decapitações que vieram logo em seguida puderam demonstrar.
Depois de uma leve pesquisada
sobre as críticas do primeiro episódio em sites do gênero – que, por sinal,
foram bem sucedidas em me esnobar ao segregarem as reviews dos episódios em dois grupos: os experts que leram os livros antes, e os novatos (que, talvez assim
como eu, só começaram a assistir devido a um amigo expert insistentemente
chato) – eu já pude ter uma noção mais clara dos valores inclusos neste mundo
fictício para prenderem a minha atenção pelos próximos capítulos. Valores como
lealdade, honra, família... Dentre outros fatores-chave que a HBO eventualmente
inclui em todos os seus programas: sexo, violência e efeitos especiais. Mas o
que me chamou a atenção mesmo foi uma lição mais sutil, quase subliminar entre
todo o sangue falso e as paisagens épicas: o desapego.
Eu não consideraria a arte do
desapego como um dos traços mais marcantes da minha personalidade, até levar em
consideração o que tenho feito até decidir participar da chacina – créditos ao
Chico Pinheiro por implantar este termo na minha memória – de Game of Thrones, onde aparentemente ninguém
de quem eu goste sobreviverá. Mas a mudança de Cascavel, a decisão de começar
uma nova faculdade, a tentativa de reconstruir uma vida do zero mais uma vez...
Dizer adeus às coisas e as pessoas nunca foi o meu forte, mas assim como Ned Stark eu entendo que às vezes é
preciso deixar o seu reino e sua família para trás por um bem maior. Talvez as
minhas escolhas não possuam um caráter tão épico, mas foram revolucionárias
para mim tanto quanto migrar para o Sul a pedido do Rei.
Isto é, até um cara (que eu ainda
não entendi direito quem é) empurrar o filho do Ned da janela de uma torre,
porque ele viu o cara transando com a rainha de um outro reino. A ficção pode
ter seus exageros, mas eu sempre defenderei suas intenções. E é bom saber que
ao menos no meu mundo eu não preciso me preocupar em ser decapitado de
surpresa; só com alguns atentados contra ao meu ego quando vou longe demais na
linha do tempo do Facebook e dou de cara com a foto de alguém feliz e bem
sucedido.
Tudo bem; o inverno está
terminando.