segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Seis meses ou Desafio aceito


Se dissesse que ninguém sabe o que esse dia significa para mim, estaria mentindo. Por sorte ou por acaso ainda existe muita gente que acompanha os capítulos que escrevo por aqui. São as mesmas pessoas, inclusive, que me inspiram a continuar escrevendo. Bem como são as mesmas sem as quais provavelmente eu não estaria aqui agora. Mas antes que me perca em todo o sentimentalismo, e perca sua atenção também, espero que perdoe esta falta momentânea de sarcasmo e irreverência habituais que costumam preencher as linhas desta página. Porque hoje é um dia especial, afinal de contas. É o dia que eu esperei por muito, mas muito tempo. Não apenas meros seis meses.

Há quem encontra sua paixão na vida bem antes dos outros e faz parecer que esse tipo de coisa simplesmente não irá acontecer com mais ninguém. Porque é o tipo de paixão que te tira da cama de manhã e te motiva a continuar buscando, lutando, tentando tudo o que puder, porque é invariavelmente o que lhe dá motivo para existir. Psicologias à parte, todo mundo precisa desse tipo de paixão na vida. Alguns encontram em um amor para recordar, outros no conforto dos almoços de domingo com a família que nunca irá te abandonar, aconteça o que acontecer. Mas o tipo de paixão da qual estou tentando dizer é daquela que só quem já a alcançou irá realmente entender. É o tipo de paixão que algumas pessoas passam a maior parte da vida procurando. A paixão por fazer aquilo que você gosta, e de moldar a sua vida ao redor disto. Há quem diga que felicidade atrai felicidade, e que quando se é capaz de expressar a sua paixão – artisticamente, profissionalmente, emocionalmente – o universo também retribui. E até onde consigo me lembrar, minha paixão de verdade sempre foi além de relacionamentos – fossem eles reais, imaginários, platônicos ou até mesmo bem correspondidos. Minha paixão está exatamente nisso: nas palavras. E nos mundos que elas permitem construir ou até mesmo desconstruir. Em se tratando de justiça poética, o choro é sempre livre.

Nos últimos seis meses, desde que me mudei para Foz do Iguaçu com um caminhão de mudança cheio de móveis, roupas e tralhas – e um coração cheio de arrependimentos, mágoas e sonhos que ainda permiti manter – eu fiz tudo o que pude para me manter inteiro até que esse dia chegasse. E entre praticar corridas, aprender a cozinhar, vivenciar experiências novas, visitar marcos turísticos, questionar a natureza dos meus relacionamentos passados (e as maneiras como os novos se desenrolam ultimamente), fazer promessas que pudesse mesmo cumprir e, principalmente, depois de toda a saudade que eu senti e continuo sentindo até agora de todas as vidas que já tive antes disso, eu consigo perceber agora que aquela verdade que ainda carrego comigo continua fazendo jus às minhas expectativas. Muita coisa vai acontecer com você, mas não necessariamente fará sentido quando acontecer. Eventualmente, se você prestar um pouco de atenção, todas as peças do quebra-cabeça irão se encaixar e a figura que se mostrará diante dos seus olhos será totalmente diferente do que você imaginava que podia ser. No meu caso, enquanto eu esperava ansiosamente por esse dia – e acreditava que somente a partir deste dia é que a minha vida em Foz do Iguaçu realmente começaria – eu estive vivendo e muito esse tempo todo. Ah, e como eu vivi...

E agora aqui estamos. Seis meses depois, se levarmos em conta apenas os dias desde a mudança. Mas paixão, aquela de que estava falando para vocês, é algo que existe e perdura muito além do que um calendário pode contar. E desta vez eu gosto de pensar que já apanhei e aprendi o suficiente para fazer desta segunda chance, o primeiro passo da jornada que finalmente me levará aonde quero chegar. Claro que demorou para chegar até aqui – e muito. Especialmente porque eu ainda não sabia exatamente quem eu era e o que eu queria desta vida. Mas quando se começa a traçar algumas linhas na areia, as coisas vão se tornando mais claras. Quando se toma uma decisão e a apóia apesar do que os outros possam pensar, ou do medo que vem por abrir mão de todas as outras possibilidades do mundo, é aí que você começa a surgir. E a reconhecer o seu lugar, seu espaço e, enfim, quem você é.

Meu nome é Igor Costa Moresca e eu serei um escritor. Demorou muito para que eu pudesse voltar a esse momento – e eu sei disso porque, sete anos atrás, eu também escrevi sobre isso. Mas hoje é o primeiro dia de aula na faculdade de Jornalismo. E desta vez, como aprendi a fazer com todas as novas aventuras que me disponho a trilhar, eu irei até o fim.

Desafio aceito.