quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Tudo ensolarado o tempo todo sempre


Estabilidade. Esta é a meta. A tão sonhada despreocupação emocional, somada pela independência financeira e a liberdade que pode abranger ou não uma dose saudável de libertinagem também. Mas para isso é preciso ter um foco, um plano e o mais importante: uma infra-estrutura. Estas são as palavras-chave que me trouxeram até Foz do Iguaçu, aonde qualquer um irá lhe confirmar a primeira marca registrada da cidade: o calor.

Quanto a isso não há argumentos, e é o que eu vejo escancarado nos jornais todos os dias: tudo ensolarado o tempo todo, sempre. Pode não ser o clima mais agradável de todos, mas sem dúvida é condizente com ao menos a filosofia da minha meta – é estável. E por ser tão destrutivamente abençoada de vitamina D, Foz do Iguaçu me permitiu retomar um dos meus velhos hábitos: a corrida.

Ao ter me familiarizado a cada dia um pouco mais com a minha parte da cidade, ficou fácil traçar uma rota para seguir em busca de uma vida mais saudável e, em algumas ocasiões, um mal humor menos saturado. Porque além de um hábito e de uma fonte quase inesgotável de metáforas sobre “seguir adiante”, “correr atrás dos objetivos” ou “dar valor ao caminho em vês da velocidade”, correr também me permite desfrutar de um precioso conceito psicanalítico: a sublimação.

Confesso que não sou o maior fã da psicanálise, mas meu passado recém graduado na ciência do comportamento humano não me deixa esquecer que existem mais teorias sobre o homem entre o céu e a terra do que só a minha abordagem do coração – a analítica-comportamental – pode compreender. Para quem não é da área, não se considere inferior - porque, vez por outras, eu gostaria de ser só um cara normal, sentado em um bar, indiferente à má fé alheia. Mas não. É como um sensor de presença que acende automaticamente ao calor da neurose de alguém. E só até aqui eu já fui capaz de jogar a análise do comportamento, a psicanálise e o existencialismo em um ventilador literário, só para ser pego pela bagunça que surgiu: muito prazer, antes de qualquer coisa, mas pode me chamar de Igor.

Enfim, sobre a sublimação: reza a lenda de Freud que o ato de sublimar é primeiramente inconsciente, e consiste na reutilização de energia que antes estava sendo reservada em um determinado fim, para ser aplicada em outro considerado mais “produtivo”. É como ser capaz de perceber o lado bom da raiva, ou enxergar o copo meio cheio em vês de meio vazio – apesar de que, cá entre nós, não existe um lado bom da raiva quando se está diante de um copo meio vazio. E cá estou eu me enrolando na correria da minha prosa de novo em vês de me preocupar com coisas mais importantes: o que neste caso seria fazer um pingo de sentido.

Voltando à corrida, que só pela sua descrição já demonstra todas as curvas que aprendi a fazer pela cidade, este pequeno vislumbre de “vida movendo adiante” que consegui restabelecer à minha nova rotina tem me feito mais bem do que eu esperava. Independente do calor, da sublimação e da distância, antes de qualquer meta ser atingida é preciso reconhecer bem o terreno a ser explorado daqui em diante. É preciso criar um relacionamento com as ruas, atribuir algum significado às avenidas e espalhar lembranças pelas passarelas que cruzo em minha sonda diária. Antes de qualquer sucesso ser atingido em Foz do Iguaçu, é preciso primeiramente fazer parte dela. E isso só será possível depois que eu deixar de me sentir como um intruso a cada vez que passo pelo rol de entrada do meu prédio ou quando atravesso qualquer cruzamento do qual eu ainda não entendo direito o timing do semáforo.

O que quero dizer é que, bem, eu estou tentando. Estou saindo, explorando, investigando, refletindo e agora correndo pela cidade em busca dos meus objetivos. Sejam eles uma carreira bem sucedida, um novo horizonte para a minha liberdade ou – por que não? – alguns quilos de desemprego, insegurança e ansiedade a menos.

A verdade é que Foz do Iguaçu e eu ainda não temos nada sério; estamos só “ficando” um com o outro. Mas definitivamente há potencial para algo mais estável.