O
melhor aspecto da minha vida em Foz do Iguaçu hoje também é o pior: tudo é
novo. Por um lado me sinto perdido por sair pelas ruas da cidade sem saber
exatamente para onde estou indo ainda. Por outro, me sinto confortável na minha
confusão por ter o habeas corpus de ser “de
fora” e não ter a responsabilidade inata de saber para onde estou indo. Se
ao menos isto valesse no meu contexto de vida e não só na geografia, eu estaria
bem mais tranqüilo. Mas também não haveria nada para escrever aqui. E no final
do dia eu gosto de ter o que registrar, nem que seja só para apuração do placar
entre a cidade e eu.
***
Round #1
Acordei
com um bom humor inexplicável. Talvez fosse o despertar preguiçoso que por um
instante deixa a minha realidade embaçada, ou talvez fosse só o cheiro de café
vindo da cozinha. Independente do que fosse, foi um daqueles dias em que você
acorda disposto, encorajado, inspirado a fazer da sua vida algo significativo.
Era cedo na semana para qualquer sentimento de “carpe diem”, mas por passar a maioria dos meus dias em casa sem planos
ou renda, a atemporalidade do desemprego toma conta do relógio biológico. Isto
é, exceto pelo meu Masterchef nas
noites de terça-feira. Enfim, algo me levou a abrir a janela como forma de dar
uma chance para a vida me surpreender. Mas ao contrário de um céu azul e uma
proposta milionária de trabalho, encontrei cinzas, chuva e um lagartixa – que,
claro, pulou para dentro do meu quarto e se apossou da minha cama. Um breve
assassinato depois, fechei a janela novamente e deixei qualquer sentimento de
esperança do lado de fora. Não me importo tanto com o clima tropical lá fora,
mas do meu ecossistema cuido eu. E o meu ventilador.
Foz do Iguaçu: 1 x Igor: 0
***
Round #2
Andando
pelas ruas da cidade, me deparei com um papel grudado em um ponto de ônibus.
Por um instante pensei que fosse só alguma propaganda qualquer, do tipo que
compra/vende ouro ou contato de moto-táxi, até que parei pra ler com atenção (e
antes que você me questione, a resposta é sim: eu ando tendo muito tempo
livre):
“Marina, a Aline ta te procurando. PS:
Desculpa eu te procurar assim, mas eu não sabia mais onde te encontrar. PS: Vou
te esperar no mesmo lugar as 21h.”
Foram
tantas perguntas que me vieram à mente, mas até agora apenas uma dúvida em
particular ainda me incomoda: tudo bem a pessoa estar perdida e não saber como
encontrar a Marina, até porque, quem sou eu para questionar métodos para
encontrar qualquer coisa? Mas como alguém que aparentemente sabe diferenciar “mas” e “mais” me peca logo no uso da crase?
Eu
não conheço nem a Marina nem a Aline, nem sei que ônibus passa naquele ponto.
Mas mesmo nos meus piores momentos de desorientação, eu ainda soube me apoiar
na gramática.
Foz do Iguaçu: 1 x Igor: 1
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Round #3
Segunda
feira à noite, tentando me manter fiel à proposta de que qualquer experiência
nova que Foz do Iguaçu possa me proporcionar é válida, eu sacrifiquei um
princípio de uma das minhas maiores crenças – a gastronomia – e concordei em
sair para jantar em um restaurante chinês, já que a maioria dos outros restaurantes
temáticos estavam fechados. Não é nenhum preconceito contra a cultura oriental,
mas massa e legumes para mim sempre pertenceram à classes cuidadosamente
separadas e não unidos pelo curry em um yakisoba. Mas eu admito que não estava
ruim, assim como os rolinhos primavera da entrada também me surpreenderam
felizmente com seu recheio de legumes. Só que a surpresa mesmo veio na saída do
restaurante, quando abri meu biscoito da sorte:
“Na vida você deve fazer o que gosta,
senão, acaba trabalhando.”
Entre
paralelas que não se encontram em centro algum e o clima exponencialmente
vulcânico, Foz do Iguaçu parece estar me mostrando aos poucos que nada aqui é
como qualquer experiência que eu já tive antes, mas que isto não significa que
poderá valer a pena caso eu continue saindo por aí e permitindo que a cidade me
surpreenda. No mínimo ela já me provou que vale a pena só pela ironia na minha
sorte do biscoito. Às vezes um desvio incerto pode levar ao caminho que você
procurava desde o começo.
Placar final: empate técnico (por
enquanto).