sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Algo novo?


O melhor aspecto da minha vida em Foz do Iguaçu hoje também é o pior: tudo é novo. Por um lado me sinto perdido por sair pelas ruas da cidade sem saber exatamente para onde estou indo ainda. Por outro, me sinto confortável na minha confusão por ter o habeas corpus de ser “de fora” e não ter a responsabilidade inata de saber para onde estou indo. Se ao menos isto valesse no meu contexto de vida e não só na geografia, eu estaria bem mais tranqüilo. Mas também não haveria nada para escrever aqui. E no final do dia eu gosto de ter o que registrar, nem que seja só para apuração do placar entre a cidade e eu.

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Round #1

Acordei com um bom humor inexplicável. Talvez fosse o despertar preguiçoso que por um instante deixa a minha realidade embaçada, ou talvez fosse só o cheiro de café vindo da cozinha. Independente do que fosse, foi um daqueles dias em que você acorda disposto, encorajado, inspirado a fazer da sua vida algo significativo. Era cedo na semana para qualquer sentimento de “carpe diem”, mas por passar a maioria dos meus dias em casa sem planos ou renda, a atemporalidade do desemprego toma conta do relógio biológico. Isto é, exceto pelo meu Masterchef nas noites de terça-feira. Enfim, algo me levou a abrir a janela como forma de dar uma chance para a vida me surpreender. Mas ao contrário de um céu azul e uma proposta milionária de trabalho, encontrei cinzas, chuva e um lagartixa – que, claro, pulou para dentro do meu quarto e se apossou da minha cama. Um breve assassinato depois, fechei a janela novamente e deixei qualquer sentimento de esperança do lado de fora. Não me importo tanto com o clima tropical lá fora, mas do meu ecossistema cuido eu. E o meu ventilador.

Foz do Iguaçu: 1 x Igor: 0

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Round #2

Andando pelas ruas da cidade, me deparei com um papel grudado em um ponto de ônibus. Por um instante pensei que fosse só alguma propaganda qualquer, do tipo que compra/vende ouro ou contato de moto-táxi, até que parei pra ler com atenção (e antes que você me questione, a resposta é sim: eu ando tendo muito tempo livre):


“Marina, a Aline ta te procurando. PS: Desculpa eu te procurar assim, mas eu não sabia mais onde te encontrar. PS: Vou te esperar no mesmo lugar as 21h.”

Foram tantas perguntas que me vieram à mente, mas até agora apenas uma dúvida em particular ainda me incomoda: tudo bem a pessoa estar perdida e não saber como encontrar a Marina, até porque, quem sou eu para questionar métodos para encontrar qualquer coisa? Mas como alguém que aparentemente sabe diferenciar “mas” e “mais” me peca logo no uso da crase?
Eu não conheço nem a Marina nem a Aline, nem sei que ônibus passa naquele ponto. Mas mesmo nos meus piores momentos de desorientação, eu ainda soube me apoiar na gramática.

Foz do Iguaçu: 1 x Igor: 1

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Round #3

Segunda feira à noite, tentando me manter fiel à proposta de que qualquer experiência nova que Foz do Iguaçu possa me proporcionar é válida, eu sacrifiquei um princípio de uma das minhas maiores crenças – a gastronomia – e concordei em sair para jantar em um restaurante chinês, já que a maioria dos outros restaurantes temáticos estavam fechados. Não é nenhum preconceito contra a cultura oriental, mas massa e legumes para mim sempre pertenceram à classes cuidadosamente separadas e não unidos pelo curry em um yakisoba. Mas eu admito que não estava ruim, assim como os rolinhos primavera da entrada também me surpreenderam felizmente com seu recheio de legumes. Só que a surpresa mesmo veio na saída do restaurante, quando abri meu biscoito da sorte:


“Na vida você deve fazer o que gosta, senão, acaba trabalhando.”

Entre paralelas que não se encontram em centro algum e o clima exponencialmente vulcânico, Foz do Iguaçu parece estar me mostrando aos poucos que nada aqui é como qualquer experiência que eu já tive antes, mas que isto não significa que poderá valer a pena caso eu continue saindo por aí e permitindo que a cidade me surpreenda. No mínimo ela já me provou que vale a pena só pela ironia na minha sorte do biscoito. Às vezes um desvio incerto pode levar ao caminho que você procurava desde o começo.

Placar final: empate técnico (por enquanto).