...eu
vi a minha vida passar diante dos meus olhos. Ou melhor, a minha vida anterior
a esta. Na verdade é estranho tentar colocar em palavras o que eu fiz porque
ainda é algo que não faz muito sentido. Mas em termos objetivos, eu estive em
Cascavel, no interior do Paraná pela primeira vez desde que me mudei para Foz
do Iguaçu. Para você que não me conhece e por acaso trombou com este link,
jamais entenderá o que isso quer dizer. Mas para você que me conheceu enquanto
eu ainda morava por lá, eu sei que isso parece mais claro.
O
enredo: há seis anos eu me mudei para a cidade de Cascavel com o intuito de
estudar Jornalismo. Mas planos são coisas tão frágeis e propensas a mudanças
como, bom, pessoas. E entre tantos desvios que a gente faz na vida, desde mudar
de idéia até mudar de CEP, eu optei por cursar outra faculdade – a de
Psicologia. E a minha história em Cascavel se desenrolou desde o primeiro dia
de aula do curso “errado” até alguns
meses após o dia da minha formatura do curso “certo”... Até eu descobrir mais uma vez nesta vida que certo e errado
não existem, e que no final das contas eu estava pronto para ingressar um
mercado de trabalho, mas não o que eu realmente queria. Pode parecer um pouco
confuso, mas por enquanto escrevo para mim e para algumas pessoas em especial
que ainda acham interessante acompanhar os próximos capítulos da minha nova
história: cursar Jornalismo de novo, desta vez do começo ao fim, em Foz do
Iguaçu.
Eu
sinto que os marcadores que ando inserindo em meus textos tem se repetido
bastante, mas acredito que seja porque joguei seis anos de histórias, amizades,
relacionamentos e sonhos em um ventilador e nem todos os pedaços voltaram ao
chão ainda. E o que eu senti ao adentrar território Cascavelense de novo não
tem outro nome: estrangeirismo. Estar de volta na cidade em que morei em três
apartamentos, cursei uma graduação e meia em duas faculdades diferentes e
conheci uma série de pessoas incríveis e inimagináveis, e de repente perceber
que não há mais um espaço para mim lá foi devastador. Porque por seis anos – os
seis anos que morei sozinho e cheguei mais próximo de alcançar a minha
independência – fui eu quem havia definido bem o meu espaço, as minhas regras
(que simplesmente existiam para fins decorativos) e a minha liberdade. E era eu
quem descia para abrir o portão (porque o interfone nunca funcionou direito)
para deixar as minhas pessoas entrarem para sentarem na sacada, beberem seu
veneno de escolha e desabafarem sobre como é frustrante morar com os pais, ou
como é complicado estar em um relacionamento, ou como é impossível às vezes
conviver consigo mesmo.
Eu
nunca fui uma pessoa fácil de se lidar. Nunca. Desde que me conheço por gente,
fui complicado, estressado, convencido, egocêntrico, prepotente, arrogante e
auto-destrutivo. Com um famoso dom para acolher e ser companheiro das pessoas
que julguei serem merecedoras disto, porque eram pessoas inspiradoras para mim.
E estou falando aqui dos meus amigos – os poucos porém insubstituíveis amigos
que fiz nos últimos seis anos naquela cidade – que pretendo continuar
carregando comigo; nas crises existenciais, nos dramas emocionais, nos grupos
de WhatsApp e no coração. Mas me deparar com eles assim, sem emprego, sem rumo
e sem saber exatamente o que fazer, foi demais para mim. Logo eles que sempre
me pareceram tão determinados e destinados ao sucesso, e que invariavelmente –
para mim ao menos – já se tornaram quem gostariam de ser nesta vida. Estudantes,
profissionais, lendas aos meus olhos.
Não
foi uma viagem fácil. E mais do que aturar a minha personalidade difícil,
sempre foi pior ter que admitir em alguns momentos que eu preciso de ajuda. Que
as coisas não estão indo como eu planejava porque, bom, eu não tinha um plano
quando cheguei aqui – só um caminhão cheio de coisas e um único sonho em mente.
O que, se me lembro bem, é bem similar ao que eu passei há seis anos, no começo
daquela vida. E eu também tive muita, mas muita teimosia para aceitar que este
é só o começo novamente – e que começos por via de regra são uma droga. E foi assim que, mais uma vez, eu me deixei
levar pela ansiedade de que, no final das contas, só fazem três semanas que o
meu mundo mudou. Mas foi bom descobrir que o meu legado – os meus amigos e
todas as histórias que escrevemos naquela cidade – permanece intacto.
Há
quem diga que a vida é uma só. Há quem diga que é feita de ciclos, fases,
etapas com começos, meios e fins. Quanto a mim, carrego comigo um dos
princípios da minha graduação de Psicologia: eu continuarei fadado às mesmas
crises enquanto continuar repetindo os mesmos padrões. Neste caso, o padrão de
querer sempre mais do que tudo aqui e agora, e de ser alguém para se aspirar
também. Mas eu preciso me acalmar, levar um dia após o outro e, por que não?,
renovar as minhas filosofias. Da última vez em que escrevi uma história dessas,
o amanhã era tudo.
Acho
que agora o que posso adotar é acreditar que hoje, à beira de dois outros
países, são inúmeros os caminhos que eu posso seguir. E que segundo o que a
minha professora de psicanálise me desejou em uma mensagem de ano-novo, basta
que eu encontre o meu e o percorra até o fim.