Duas
semanas depois, eu já consigo me situar melhor pela cidade. Algumas ruas são
mais familiares, as avenidas não parecem tão longas quanto eu imaginava, e o “centro” continua sendo.., bom,
inexistente. Não parece existir uma avenida principal em Foz do Iguaçu; apenas
um punhado de paralelas que eventualmente se interligam. Enfim, longe de mim
criticar a infra-estrutura de uma cidade inteira – logo eu que sequer tenho
noção das minhas próprias fundações às vezes. Especialmente quando me perco nas
minhas próprias linhas paralelas de raciocínio.
Mas
o que me chamou mesmo a atenção sobre a linha do horizonte em um dos centros de
Foz do Iguaçu foi a quantidade de edifícios e áreas abandonadas. Obras de
grandes espaços que, por motivos que ainda não cheguei a investigar, permanecem
com a sua construção em aberto. Obviamente eu não pesquisei nada sobre isso
porque estava ocupado demais; distraído como sempre com uma metáfora.
Ao
ter me mudado recentemente de Cascavel – ou, como o próprio município foi
batizado por seus saudosos embargadores, “uma
metrópole em construção” – eu não pude deixar de me sentir especialmente
mais acolhido por Foz do Iguaçu. Afinal de contas, pelo que eu pude perceber
depois de perambular por aí, nós dois estamos em um processo também. Um
processo que ainda me assusta e me impede de realmente tentar sair por aí para garantir
o meu espaço no mundo e a minha marca registrada profissional: um processo de
reconstrução.
Foz
do Iguaçu está incompleta e eu entendo. Para falar a verdade, segundo meus
estudos em Psicologia, somos todos seres incompletos em constante
transformação. Deixamos planos para trás para seguir novas metas adiante.
Abandonamos pessoas que já não combinam mais conosco para dar espaço a novos
rostos, novas experiências. Mas na prática a vida é um pouco mais complicada do
que os rascunhos que tento esboçar nas folhas em branco do Word. Ficam sempre
os rastros, as pegadas, os artefatos. Reconstruções vem e vão, mas é infame
pensar que um dia estaremos completos. É o caso de Foz do Iguaçu, o seu e o meu
também. O que mais explicaria nossa constante vontade de crescer, de evoluir. De
abranger cada vez mais conhecimento, maiores distâncias e profundas vivências.
O que eu sempre dificuldade para aceitar é que realmente não há nada de errado
com isso. Nem com as mudanças, nem com a saudade, e nem com os rascunhos.
Eu
posso tentar de novo. É o que eu vim fazer aqui. E é o que as construções
inacabadas que me cercam pelos vários centros da cidade me lembram
constantemente. As obras foram interrompidas por um motivo, assim como os
planos que eu havia feito para mim no começo de 2015 – o que, ironicamente,
inclui a renovação da minha velha promessa de ano novo sobre nunca mais fazer
planos. Sou uma planta inacabada e tenho alguns nortes para seguir, mas tudo
pode mudar. E felizmente ou infelizmente, algumas construções precisam ser
implodidas para darem espaço para outros grandes monumentos. Como a minha
carreira, por exemplo, que está apenas começando... Mais uma vez.
Foi
assim que eu passei a perceber as construções inacabadas com um olhar diferente
– pelo menos, até eu pesquisar sobre as várias obras embargadas, desvios de verbas,
contratos fraudulentos e empresas-fantasmas dentre várias outras formas de sabotagem
que o ser humano é capaz de fazer pelos fins errados. Também foi assim que eu
passei a afiar um pouco mais o meu senso crítico para que quando uma chance de
entrar no ramo jornalístico surgir, eu esteja um pouco mais preparado.
Igor
Costa Moresca: em obras para melhor entender-me.