A troca das estações sempre traz junto
consigo seus efeitos colaterais microscópicos. E eu sei que já faz algumas
semanas que os noticiários vêm cobrindo os mutirões em prol da época de vacinas,
para prevenir que fiquemos todos à mercê da H1N1 que toma conta do ar
rarefeito. Mas nenhum aviso ou estatística se compara a minha teimosia de tentar
sobreviver ao outono/inverno sem precisar esperar em uma fila quilométrica para
tomar uma vacina que, segundo o folclore do senso comum, nem previne tantos
vírus quanto é noticiado. Claro que a veracidade disso não importa agora; é
tarde demais para mim. Já faz algumas semanas que sofro as conseqüências de
mais um ciclo de gripe. E eu não me importaria de apreciar a ironia disto, se
não estivesse tão ocupado tentando respirar. Sabe; para permanecer vivo. Ainda
há tantas ironias a serem sofridas pela frente.
Tosse,
coriza, dores de cabeça. Os sintomas habituais da gripe podem ser combatidos
com fármacos e cappuccinos, mas nada pode realmente combater os efeitos
colaterais dela: a falta de vontade de sair da cama, a insuficiência temperamental,
a inveja de quem não precisa evitar tomar nada gelado. E o repouso é
fundamental; pegue leve na rotina e não se deixe levar por estresses infames.
Coisa que seria muito fácil se, né, eu não fosse do jeito que eu sou. Intrinsecamente
incapaz de evitar a fadiga.
Por conhecer
minha própria biologia há algum tempo, em se tratando de ciclos de gripe,
imaginei que desta vez não seria diferente: começaria com os olhos lacrimejando
com facilidade, somado ao combo da rinite + alergia por usar as blusas que
permaneceram guardadas na gaveta do guarda-roupa desde o inverno passado. Logo
teriam algumas dores de cabeça, espirros constantes, garganta arranhada, tudo
culminando em um dia especialmente enfermo cujo qual eu passaria na cama,
alucinando com a volta da minha saúde e o sentido da vida. O problema foi que
desta vez o ciclo se quebrou, e não de uma maneira que a minha psicologia
comportamental gostaria de contemplar. Em vez de uma recuperação mais rápida,
os dias enfermos se multiplicaram. Tudo graças a um fator irremediável por
qualquer farmácia: o emocional.
Antes, um
breve conceito: sintomas psicossomáticos são aqueles que surgem a partir de problemas
emocionais que são refletidos diretamente no corpo. Logo, quando você não está
se sentindo bem por alguma razão emotiva, seu corpo traduzirá isto como uma dor
de cabeça, um mal estar estomacal ou – como é de praxe durante esta estação –
um ciclo de gripe aparentemente inabalável. Não há nada menos aconselhável para
alguém doente do que um relacionamento mal resolvido. É a incubadora mais
potente para estender a permanência de um vírus em um corpo já vulnerável. O
que poderia ser mais perigoso do que um coração aberto?
Eu admito
que tenho os meus vícios – uma cervejinha a mais aqui, um cigarro de vez em
quando, e um relacionamento inatingível para acompanhar os meus instintos de
auto-destruição, coisa que a psicologia também dita que é inerente a cada um de
nós. Nossas manias de fazer mal a nós mesmos – seja esquecendo de tomar um
remédio no horário certo ou revisitando o perfil daquela ex no Facebook – são diretamente
proporcionais aos nossos instintos de sobrevivência. Não é o sistema mais
funcional que existe, mas é a única psique que nós temos e, com ela, a sua eterna
missão: manter um equilíbrio emocional em cheque, ou morrer tentando.
Apesar de
toda a biologia e psicologia envolvida, eu percebi o quanto eu arrisco demais a
minha saúde por amor a causas e pessoas perdidas. E o quanto talvez valeria
mais a pena tomar cuidado com quem eu permito que se aproxime do meu coração,
para não deixá-lo exposto a viroses e pessoas infecciosas. Talvez eu esteja
exagerando, mas há uma verdade biológica inquestionável aqui: seu corpo sempre irá
combater partículas que considerar suspeitas ou malignas. Por que então resistimos
em fazer uso deste mesmo conceito sobre as pessoas com quem nos envolvemos?
Quanto a mim
é fácil responder: meu nome é Igor e sou um viciado em amor.