Foi só o que
precisou para que o José Aldo fosse nocauteado pelo Conor McGregor no primeiro
round do evento principal de uma edição do UFC que foi tão, mas tão comentada
que até eu cheguei a ficar sabendo. Claro que para mim não importam os nomes
dos lutadores ou o título que estava em jogo. Tudo o que foi preciso para
chamar a minha atenção sobre isto foi o mesmo que o Zé provavelmente ficará
repassando em suas memórias pelos próximos anos (depois que o efeito dos seus
medicamentos cessarem e seu rosto passar a ter o formato de um rosto de novo):
os treze segundos que o levaram da gloria à ruína. E você provavelmente nunca
ouvirá falar sobre este texto, Zé, e isto não servirá de consolo para você ou
seus patrocinadores, mas eu te entendo, cara.
Eu fui do
tipo de criança que se revoltava sim, mas não ao ponto de bagunçar as peças do
tabuleiro ou de desistir da partida. Mesmo quando a derrota era inevitável,
sempre levei meus compromissos até o fim, jamais demonstrando que aquela perda
seria absorvida como parte definidora do meu caráter – mas exercendo todo o meu
direito de não emprestar mais meus brinquedos para o Fulano daquele dia em
diante nem de chamá-lo para brincar. Crianças tem todo o direito de serem
rancorosas, especialmente diante das adversidades.
Aí a gente
cresce, estuda, conquista títulos e constrói reputações, tudo em prol da
sonhada maturidade que esperamos atingir um dia. E digo “sonhada” porque o UFC
está aí exatamente para confirmar a minha teoria de que adultos não existem:
nós vivemos em um mundo que legalizou, reconheceu como esporte e cobra valores
astronômicos para os lugares da primeira fila de um espetáculo de luta livre
onde vence aquele que literalmente permanecer de pé. Não me leve a mal; longe
de mim querer criticar algum esporte, ainda mais considerando o meu atual porte
físico diante de mais um Projeto Verão que poderia ter sido e não foi. Mas não
me diga que o financiamento da violência em forma de competição não se trata de
mais uma herança da Idade Média, juntamente ao Ebola e os trajes e chapéus
toscos que ainda são utilizados em algumas partes do Leste Europeu.
Há quem diga
que todos esses comentários não passem da versão literária de um rompante de
tabuleiro escrito por um mal perdedor nato, e talvez estejam certos. Eu admito
que nunca lidei bem com as minhas derrotas e ao julgar pelo modo como eu
continuo encarando a vida quando esta insiste em invadir e conquistar os meus
territórios, elaborar um bom espírito esportivo pode ser adicionado à minha
lista de resoluções de ano novo. Mas além de admitir derrota em alguns embates,
é preciso também aprender a ganhar sem parecer um babaca – coisa que aquele irlandês
convencido não soube fazer. Talvez seja pelo perdedor ser um brasileiro que
esta história mexeu tanto comigo. No mínimo serviu para me lembrar que mesmo
diante de uma derrota histórica, o Zé e eu fazemos parte de um povo que não
desiste nunca.