domingo, 20 de dezembro de 2015

Ontem


Eu vou achar um caminho, e eu vou ficar bem. Esta é uma promessa da qual eu não abro mão.”

Era tudo o que eu queria para 2015. Um ano que estava só começando, mas já tão cheio de portas que se fecharam e ciclos que se encerraram, que ficou difícil se orientar para descobrir aonde ir em seguida. Um emprego se foi, uma faculdade terminou, e ainda estávamos só em Fevereiro. E não havia nada que eu conseguisse fazer a não ser sentir-me perdido em todos os aspectos possíveis. Na verdade eu não queria um caminho; eu precisava de um. Quando o mundo que você tinha como base deixa de existir, para onde você vai?

Por outro lado eu nunca realmente deixei de acreditar que dias melhores viriam. Até porque, se ainda resta alguma esperança no fim de um dia ruim, é natural que a gente persista para ver o que mais há por vir. E seguir em frente, apesar dos pesares, é tudo o que qualquer um de nós pode fazer. Voltar atrás é impossível. A outra opção é desistir.

Agora, existe uma diferença entre admitir derrota e o fim natural das coisas. E entre uma coisa e outra existe a aceitação. Desistir implica em falta de dedicação, fraqueza e orgulho ferido. Mas quando um ciclo chega mesmo ao fim, é preciso aceitá-lo e sair em busca de algo novo. O problema era que aceitar o fim das coisas nunca foi o meu forte. E a minha crença no amanhã – depois anos escrevendo sobre nunca deixar de acreditar, dias melhores e esperança em tempos difíceis – acabou se misturando com um conceito bem mais abstrato do que qualquer outro: o infinito.

Nada dura para sempre. O mundo gira, a vida muda e nós crescemos. A qualidade das mudanças em si são variáveis, mas é inevitável que a gente transite de um status quo para o outro a medida em que as nossas escolhas traçam nosso rumo. E durante seis anos e seiscentos e quinze postagens, meu status quo baseava-se em um pequeno blog chamado “Você vai adorar o amanhã”. Foi a maneira que encontrei para me adaptar a um novo estágio da minha vida em que fiz questão que tudo fosse mesmo novo: a cidade, as companhias e as experiências que eu pudesse vivenciar através delas. E com o tempo vieram amigos, empregos, matérias fáceis e relatórios complexos durante o curso da minha primeira faculdade, primeiras descobertas, segundas intenções, laços desfeitos, amores temporários e muitos, mas muitos textos inspirados em tudo isso. E o que começou como um simples passatempo pessoal cresceu ao ponto de englobar tantos marcos históricos e homenagens para tantas outras pessoas, que me fez perceber que era exatamente isto o que eu queria fazer da minha vida como um todo: escrever sobre as pessoas, relacionamentos, problemas cotidianos e globais, e o quanto o mundo ao nosso redor nos afeta mais do que conseguimos perceber às vezes. Nas pequenas coisas do dia a dia existem traços da nossa personalidade, metáforas a serem exploradas e refletidas e, vez por outra, uma fração do nosso reflexo no universo que passa batido por nós em um dia atarefado ou uma semana corrida. E a cada homenagem escrita, cada metáfora explorada, cada desabafo infame, eu fui feliz.

Tão feliz, inclusive, que certo dia eu entendi que aquela pequena página virtual não era apenas um diário de bordo para crônicas e outros rascunhos. Era o caminho que me levou a finalmente descobrir, ironicamente, o caminho que eu queria seguir pelo resto da minha vida. E quando eu entendi o motivo daquela página ter sido criada e ter perdurado por anos, eu tomei uma decisão que a levou ao inevitável fim do seu próprio ciclo: eu segui em frente mais uma vez.

Eu sinto falta daquela página e da liberdade que criei a cada vez que escrevia nela. Às vezes sobre mim mesmo, às vezes sobre outras pessoas que me inspiravam de alguma maneira ou que eu gostaria de deixar registrado ali o quanto fora importante a sua participação na minha história. Já se passaram seis meses desde que eu optei por encerrar as suas atividades para escrever em outro blog, e fiz isso unicamente para fazer jus à essência àquele “amanhã” sobre o qual escrevi por anos. Quando se segue em frente, é preciso mesmo manter o olhar adiante e construir novas possibilidades para você mesmo. E a saudade é meio pelo qual tudo o que você vivenciou e sente falta, permanece viva.

Ainda tenho grandes planos para homenagear o que aquela página fez por mim, que indiretamente também servirá para todos que também fizeram parte dela. Mas por enquanto só o que eu queria dizer mesmo é tirar um momento, antes que esse ano termine, para reconhecer que aquele “amanhã” nada tem a ver com o “infinito”. Era sobre esperança, e foi o que me trouxe até aqui.

E que continue registrado: eu adorei.