“Eu vou achar um caminho, e eu vou ficar bem. Esta é uma promessa da
qual eu não abro mão.”
Era tudo o que eu queria para 2015. Um ano que estava só começando, mas
já tão cheio de portas que se fecharam e ciclos que se encerraram, que ficou
difícil se orientar para descobrir aonde ir em seguida. Um emprego se foi, uma
faculdade terminou, e ainda estávamos só em Fevereiro. E não havia nada que eu
conseguisse fazer a não ser sentir-me perdido em todos os aspectos possíveis.
Na verdade eu não queria um caminho; eu precisava de um. Quando o mundo que
você tinha como base deixa de existir, para onde você vai?
Por outro lado eu nunca realmente deixei de acreditar que dias melhores
viriam. Até porque, se ainda resta alguma esperança no fim de um dia ruim, é
natural que a gente persista para ver o que mais há por vir. E seguir em
frente, apesar dos pesares, é tudo o que qualquer um de nós pode fazer. Voltar
atrás é impossível. A outra opção é desistir.
Agora, existe uma diferença entre admitir derrota e o fim natural das
coisas. E entre uma coisa e outra existe a aceitação. Desistir implica em falta
de dedicação, fraqueza e orgulho ferido. Mas quando um ciclo chega mesmo ao
fim, é preciso aceitá-lo e sair em busca de algo novo. O problema era que
aceitar o fim das coisas nunca foi o meu forte. E a minha crença no amanhã –
depois anos escrevendo sobre nunca deixar de acreditar, dias melhores e
esperança em tempos difíceis – acabou se misturando com um conceito bem mais
abstrato do que qualquer outro: o infinito.
Nada dura para sempre. O mundo gira, a vida muda e nós crescemos. A
qualidade das mudanças em si são variáveis, mas é inevitável que a gente
transite de um status quo para o outro a medida em que as nossas escolhas
traçam nosso rumo. E durante seis anos e seiscentos e quinze postagens, meu
status quo baseava-se em um pequeno blog chamado “Você
vai adorar o amanhã”. Foi a maneira que encontrei para me
adaptar a um novo estágio da minha vida em que fiz questão que tudo fosse mesmo
novo: a cidade, as companhias e as experiências que eu pudesse vivenciar
através delas. E com o tempo vieram amigos, empregos, matérias fáceis e
relatórios complexos durante o curso da minha primeira faculdade, primeiras
descobertas, segundas intenções, laços desfeitos, amores temporários e muitos,
mas muitos textos inspirados em tudo isso. E o que começou como um simples
passatempo pessoal cresceu ao ponto de englobar tantos marcos históricos e
homenagens para tantas outras pessoas, que me fez perceber que era exatamente
isto o que eu queria fazer da minha vida como um todo: escrever sobre as
pessoas, relacionamentos, problemas cotidianos e globais, e o quanto o mundo ao
nosso redor nos afeta mais do que conseguimos perceber às vezes. Nas pequenas
coisas do dia a dia existem traços da nossa personalidade, metáforas a serem
exploradas e refletidas e, vez por outra, uma fração do nosso reflexo no
universo que passa batido por nós em um dia atarefado ou uma semana corrida. E
a cada homenagem escrita, cada metáfora explorada, cada desabafo infame, eu fui
feliz.
Tão feliz, inclusive, que certo dia eu entendi que aquela pequena
página virtual não era apenas um diário de bordo para crônicas e outros
rascunhos. Era o caminho que me levou a finalmente descobrir, ironicamente, o
caminho que eu queria seguir pelo resto da minha vida. E quando eu entendi o
motivo daquela página ter sido criada e ter perdurado por anos, eu tomei uma
decisão que a levou ao inevitável fim do seu próprio ciclo: eu segui em frente
mais uma vez.
Eu sinto falta daquela página e da liberdade que criei a cada vez que
escrevia nela. Às vezes sobre mim mesmo, às vezes sobre outras pessoas que me
inspiravam de alguma maneira ou que eu gostaria de deixar registrado ali o
quanto fora importante a sua participação na minha história. Já se passaram
seis meses desde que eu optei por encerrar as suas atividades para escrever em
outro blog, e fiz isso unicamente para fazer jus à essência àquele “amanhã”
sobre o qual escrevi por anos. Quando se segue em frente, é preciso mesmo
manter o olhar adiante e construir novas possibilidades para você mesmo. E a
saudade é meio pelo qual tudo o que você vivenciou e sente falta, permanece
viva.
Ainda tenho grandes planos para homenagear o que aquela página fez por
mim, que indiretamente também servirá para todos que também fizeram parte dela.
Mas por enquanto só o que eu queria dizer mesmo é tirar um momento, antes que
esse ano termine, para reconhecer que aquele “amanhã” nada tem a ver com o
“infinito”. Era sobre esperança, e foi o que me trouxe até aqui.
E que continue registrado: eu adorei.