segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O outro lado desta vida


“É isso que eu quero pra mim hoje: mudança. Possibilidades. Desvios e retornos, ou qualquer direção para qual esta cidade me leve. Porque certo tempo atrás, entre outras ruas e outros centros, eu aprendi que crescer e amadurecer não são estágios finitos na vida; eles continuam até o fim das nossas jornadas. Porque nunca saberemos “tudo” o que há para ser aprendido, e não há “nada” a perder com cada experiência que colecionamos ao longo do caminho. Pra ser sincero eu não sei se isso vai dar certo, mas pelo menos eu acredito que em se tratando de possibilidades, eu pelo menos devo estar no lugar certo.”

Dia desses eu estava andando pela rua à caminho de uma das quinze definições de “centro” que Foz do Iguaçu possui quando dois turistas chilenos me pararam para  perguntar como podiam chegar até o terminal. Talvez fosse apenas coincidência o fato de que estávamos exatamente na rua que leva à entrada do terminal, mas é de mim que estamos falando aqui e não existem coincidências; apenas sinais a serem interpretados. E depois de um leve constrangimento ao andar mais alguns quarteirões na mesma direção, os chilenos seguiram seu rumo enquanto eu parei para contemplar o que aquilo realmente significava. Afinal de contas, quem sou eu para dar instruções de qual direção seguir para alguém? Especialmente por essas terras em que, cinco meses atrás, eu não fazia idéia de que não precisava andar até outros centros para encontrar um chaveiro, uma farmácia ou um posto de gasolina para comprar cerveja porque havia tudo isso e muito mais só no raio de um quilômetro da minha casa. Enfim, são coisas que a gente só aprende quando se está em um mesmo percurso há algum tempo. E é algo que eu sinceramente não via a hora para que acontecesse comigo aqui.

Agora quando recebemos uma visita aqui em casa, é natural sugerir opções de passeios para conhecer um pouco de todo o leque de possibilidades turísticas que Foz do Iguaçu tem para oferecer. E por mais marcos históricos e passeios que existam por aqui, como o marco das três fronteiras, o parque das aves ou o templo budista – isso sem cruzar nenhuma “aduana” ainda – tudo já me parece surpreendentemente familiar. Mas é sempre bom estar por perto para ver as primeiras impressões de quem os visita pela primeira vez, porque me lembra do quão impressionado eu mesmo fiquei quando cheguei aqui. Impressionado e ridiculamente perdido. Cercado por um vai-e-vem constante de pessoas do mundo inteiro que vem para visitar e conhecer um pouco do que recentemente tornou-se a “capital do turismo do Paraná”, era reconfortante saber que eu não era o único a se sentir desorientado.

E depois do que provavelmente será lembrado como um ano estranho e disforme, é bom saber que aquele começo tão incômodo e desconcertante já correu seu curso. A cidade já não parece tão grande e desconhecida, embora ainda tenha muito o que explorar pela frente. Todas aquelas possibilidades que imaginei quando cheguei aqui ainda estão adiante no caminho, entre tantos outros que a cidade possui até os que levam para os países vizinhos. Vale lembrar que até a moça que sempre me atende naquele mercadinho Argentino já me conhece o bastante para me apontar onde estão as novas garrafas de Pinot Noir que chegaram na loja. Para quem chegou aqui sem saber exatamente aonde estava ou para onde queria ir, é bom saber que já vivi o suficiente para ser reconhecido em alguns lugares e para orientar como chegar a outros. E estou só começando.

Nós ficaremos bem, Foz do Iguaçu. O outro lado desta vida nunca pareceu tão certo.

Feliz ano novo!