E lá vamos nós de novo.
Eu ainda me
lembro do tempo em que não havia nada pior para mim, do que a perspectiva de um
recomeço. Talvez fosse só a preguiça de precisar encontrar novas circunstâncias
às quais eu deveria me adaptar, mas não acho que era só isso. Claro que havia
medo também – a inevitável herança que o fim de um ciclo sempre deixa para o
próximo. Então até aqui já temos preguiça, readaptação, medo... Todos são
argumentos muito válidos para justificar a aversão a qualquer coisa nova que se
torne disponível para mim. Ou então, qualquer coisa nova que eu pense em ir
atrás por conta própria. Sem nunca parar pra contemplar a simples noção de que
talvez, quem sabe, eu goste mesmo é de ser um ser faltante, mas por escolha
própria.
A psicologia
define o ser humano como uma instância inacabada, incompleta, em uma
desesperada procura por sossegar o desamparo silencioso que rege a sua vida.
Mas se a incompletude ficar por minha conta, em vez do universo, bom... Isso
explica porque eu ando dormindo melhor. É uma sensação estranhamente
reconfortante; saber que eu sou responsável pelos meus próprios desajustes. E
saber que ainda é melhor querer algo que não tenho, do que ter algo que eu não
quero.
Se isso não
é maturidade, então eu não sei o que é.
***
Talvez não
seja nem questão de preferir a falta, mas de costume. É como dizem aqueles
textos, que cada autor tem seu jeito de dizer, sobre como “a gente se acostuma, mas não devia”. E depois que consegue algo, ou
encontra alguém, ou descobre um jeito novo de viver, ficamos perdidos. Sem
saber como lidar, porque nossa prática sempre se baseou no eco das nossas
vontades. E não me diga que não entende o que estou tentando dizer.
Aquele
desejo aparentemente incessante, uma vez satisfeito, passa então a ser
igualmente entediante em proporção. Não é o sistema mais prático de todos, mas
é o instinto que nos foi dado. O que nos é permitido agora é aprender a lidar
com ele, sem ser engolido pela falta ou sufocado pelo conteúdo.
Preguiça,
readaptação, medo e tédio. Os quatro cavaleiros do apocalipse nosso de cada
dia.
***
Caso você
não tenha entendido nada, não se preocupe. Se um dia eu mesmo conseguir
entender, te aviso.