Existe um
motivo pelo qual eu deliberadamente evito mencionar o nome de Deus em qualquer
pedaço de rascunho que eu já escrevi por aí. E é tão simples quanto profundo:
existem mais coisas entre o céu e a terra do que eu ousaria comentar de uma
maneira tão vil. Algumas coisas são preciosas demais para serem definidas. E
alguns nomes são sagrados demais para serem comentados em vão. Pelo menos é
assim que eu enxergo as minhas crônicas. Crônicas que, pensando bem, nada mais
são realmente do que depoimentos. E digo isto hoje porque depois de um
depoimento em especial, tudo mudou.
Eu, como
qualquer outra pessoa que também possa imaginar, sou alguém que sempre precisou
de esperança. Fosse nos momentos bons ou ruins, esperança é algo que nos move o
tempo todo. É o que nos tira da cama pela manhã e que nos ajuda a pegar no sono
à noite. Porque apesar da cabeça já estar apoiada em um confortável
travesseiro, às vezes o que se passa dentro dela está longe de ser
reconfortante. As preocupações, as inseguranças, os medos e tudo mais que possa
nos afastar de ter um momento de paz parecem ganhar suas forças à noite. Há
quem diga que seja coincidência, mas eu aprendi que isto não existe.
Existe um
plano. De alguém muito especial que nem sempre a gente se lembra de agradecer.
Para falar a verdade, é alguém que muitas vezes eu parei para considerar
sinceramente se estava mesmo por aí ou não. Mas Ele está e muito; só não aonde
possamos vê-lo. Tudo nesta vida é providência, mas nem tudo é visível. São as
pequenas coisas, os detalhes minuciosos, os enigmas do dia-a-dia que parecem
insignificantes por não conseguirmos decifrá-los na hora em que passam por nós.
Sempre existe algo a mais neles. O que, por sua vez, me fez reconsiderar a
minha velha teoria sobre a minha vida sempre ter sido regida por ironias do
destino e uma necessidade quase visceral de enxergar metáforas por todas as
partes – e de tentar interpretar o que elas querem mesmo dizer. Metáforas que,
do latim, talvez signifiquem mesmo parábolas. Histórias que Ele sempre contou aos
seus discípulos, porque estes precisavam encontrar a verdade por si próprios em
vês de serem empurrados ao caminho certo. Ele sempre soube a resposta – que Ele,
inclusive, é a resposta – mas é preciso perseverar para descobrir isto.
Felizmente ou infelizmente, isto não é para todos. E por muito tempo também não
foi para mim.
Desde quando
consigo me lembrar, de que me conheço por gente e de que me atrevo a colocar-me
diante de mim mesmo para tentar decifrar o que as coisas que acontecem comigo
querem mesmo dizer, eu me senti quebrado. No sentido de que nunca consegui
encontrar as respostas, nem mesmo o caminho que pudesse sentir que fosse o meu
a ser trilhado. O lugar certo e a hora certa pareciam sempre estar a um amanhã
de distância que nunca chegava a conhecer. Mas há um plano: o problema está em
achar que este plano é nosso.
Quando eu
paro pra pensar sobre isto hoje, eu consigo perceber tão claramente quantos
sinais já passaram por mim. Alguns ainda pude compreender e os segui adiante,
enquanto outros optei por ignorar por pensar que estivessem destinados a outra
pessoa. Como alguém que acena para nós na rua e a gente pensa que é pra gente,
depois tenta disfarçar quando percebe que era para o cara do lado. Tem sido uma
vida inteira disso. Mas eu sempre estive sendo movido por algo. Por Alguém que
sempre soube o que estava fazendo, mas que antes de que qualquer coisa pudesse
acontecer, precisava que eu percebesse isto também. O que explica perfeitamente
os momentos que considerei como desvios de percurso.
Como eu
disse em meu testemunho – que posso considerar como o divisor de águas na minha
vida entre um mundo antigo e o novo – eu demorei muito para chegar até aqui. Em
parte porque não sabia para onde queria ir. Também porque não queria muito
saber, nem por quanto tempo eu continuaria vivendo assim. Sentir-se quebrado
significa que não há nada a perder e que tudo é possível, até o ponto em que
senti a minha esperança acabar. Foi o que mexeu comigo. E me fez pensar que
havia uma vida aqui que não estava sendo aproveitada conforme foi abençoada
para ser.
Eu não
queria mais ser quebrado. E quando eu menos esperava, gostaria de dizer que eu
o encontrei. Mas não. Ele me trouxe de volta. Na hora e no lugar certos,
conforme a Sua vontade.
É claro que
eu ainda cometerei erros. Que haverão momentos de medo e dúvida. De solidão e
de fraqueza. Eu nunca quis me considerar muito humano com os outros, muito
menos comigo mesmo. Pela mesma fraqueza que eu sempre evitei admitir que
possuo. Mas nós somos humanos no final das contas. Felizmente a fraqueza não é
o que nos define. O amor nos define. O Seu amor.
Eu não quero
parecer hipócrita em escrever estas coisas, depois de tantos anos evitando e
renegando algo que parecia inexistente. Só que nada mais pode explicar tudo o
que vivi e que me trouxe até aqui, são e salvo. Era um plano. Apenas não era
meu.
Por mais que
eu pense que demorou muito para que eu chegasse até aqui, Ele sabia que levei o
tempo que precisou. Enfim, com alegria e gratidão, eu me sinto curado. Ainda
sou eu: falando coisas impróprias em momentos inoportunos, cometendo erros que
já cometi antes, sentindo frustrações, raiva, angústia e tristeza que não
deveriam me pertencer. Mas eu me sinto diferente. Desta vez quando eu penso que
nós ficaremos bem, no fundo do meu coração eu acredito.
Eu cheguei.
Por Deus, eu cheguei. Obrigado.