Minha mãe
sempre me disse que paciência é uma virtude. “Virtude”, do latim “virtus”,
traduz-se como uma disposição estável de praticar o bem, e “Paciência”, do popular “não tenho”, como a característica de
manter um controle emocional equilibrado. Mas apesar de todas as definições,
das origens latino-americanas e dos artigos em constante edição da Wikipédia,
nada mudará o fato de que eu não sei esperar. Por nada.
Existem dois
tipos de pessoas: as que esperam, e as que fazem esperar. Minha tragédia é a
pontualidade. A devoção por datas e horas marcados, e de ser irrevogavelmente
escravizado por elas e, convenhamos, talvez isso venha mesmo da disciplina que
minha mãe sempre fez questão de impor. Mesmo que quando criança, enxergasse o
tempo e o espaço de uma maneira muito mais relativa. O ponteiro do meu relógio
biológico tinha seu eixo na minha preguiça – independente das conseqüências.
Minha mãe saía para trabalhar e me deixava algumas tarefas a serem feitas até a
hora em que ela voltasse para casa. E como toda boa criança ruim, eu as fazia
às pressas no último segundo. É o instinto que a gente também carrega
acidentalmente para a vida acadêmica, caso você também seja desses. Como
identificar? Bom, olhe a sua volta. Se houver algum livro, apostila ou anotação
ao seu redor referente a um trabalho que deve ser entregue na sua primeira aula
amanhã, você é um dos meus. Seja bem vindo e não tenha pressa. Nossa condição é
crônica e, ironicamente, atemporal.
E é no
espírito de desrespeito com pretéritos passados que a relatividade se vinga de
nós com o mesmo amargo que nós causamos nos outros. E vez por outras quem faz
esperar leva um chá de cadeiras que servirá apenas para desgostos momentâneos,
jamais aprendizados eternos. E talvez seja por isso que logo hoje, mesmo sendo
mais atencioso com meu tempo e os dos outros, é que eu me sinta tão
desconfortável quando percebo que estou à mercê da disposição alheia. A criança
de ontem que sempre deixava o dever de casa para a última hora é o adulto de
hoje que não suporta esperar cinco minutos por uma resposta no WhatsApp. O
maior inimigo do homem é o próprio tempo que ele desperdiça. Só demora um pouco
para que as pendências nos alcancem.
Eu percebo o
tempo de uma maneira diferente hoje, e talvez o segredo esteja na maturidade
que eventualmente vem com ele. O tempo não perdoa e você definitivamente irá
repor aos outros pelos fôlegos que desgastou deles em outrora, mas a gente se
acostuma com as esperas. Seja por que não há escapatória delas a não ser
atravessando-as, ou quem sabe porque há algo a ser aprendido com elas. É daí
que surgem os contos e teorias sobre o lugar e a hora certos para tudo nesta
vida. E após recém completar 24 anos, eu tenho tratado o meu tempo como ele
realmente merece: como uma preciosidade passageira. E ao julgar por tudo que já
consegui realizar em apenas uma semana neste novo ciclo de vida – um retiro
espiritual, aulas de culinária, marcar aquele tratamento de canal que andei
evitando por meses – eu me sinto mais otimista com relação ao que mais há por
vir.
O tempo não
pára e não volta. O único caminho é adiante. E talvez por isso seja tão
complicado conhecer alguém novo. Alguém que não sabe por onde você já passou e
o que já viveu por aí. Alguém que precisa que você se apresente e preencha
algumas lacunas sobre quem você é e aonde quer chegar, para que ele ou ela
decida se quer seguir com você ou não. E é algo que pode ser cansativo,
recontar a sua história de novo e de novo até encontrar alguém que se interesse
pelo seu destino e siga viagem com você, enquanto você descobre a história da
outra pessoa durante o trajeto. Mas esta é a nossa diretriz por aqui, e apesar
da impaciência e do cansaço tomarem conta de nós às vezes, não podemos nos
deixar sermos atrasados por elas. Eu sei que ainda sou muito jovem, mas nunca é
cedo demais para aprender sobre o que é tempo bem gasto e o que é tempo
perdido. E talvez eu fosse uma pessoa diferente hoje caso aquela criança de
ontem tivesse sido mais organizada com todas aquelas tarefas de casa que
deveriam ser feitas até as seis da tarde. Mas entre apanhar da mãe ontem e
apanhar da vida hoje, melhor aceitar que aqui e agora seja exatamente aonde eu
deveria estar.
Até porque,
mesmo que não seja, só o tempo dirá.