Não é que eu
deteste o modo como o mundo contemporâneo incorporou as opções online/offline
ao modo como nós levamos as nossas vidas. Muito pelo contrário, vez por outras
passo mais dias online no vácuo do que offline do lado de fora de casa, longe
do alcance de qualquer Wi-Fi. Aliás, às vezes é difícil saber até o que fazer
com as mãos quando estas não possuem um celular conectado com o resto do mundo.
Mas existem certos aspectos que ainda não consigo adaptar completamente – o que,
por conseqüência, pode tornar a minha visão de mundo incompatível com os vários
aplicativos que temos ao nosso dispor hoje. E dia desses me peguei pensando
sobre tempos mais simples, quando conhecer e desconhecer pessoas costumava ser
mais audacioso do que suar frio de ansiedade após tentar puxar conversa em um
bate-papo virtual, e imaginar as mil e uma maneiras de reação que a pessoa do
outro lado poderia ter. Quase todas, geralmente, beirando aos traumas do nosso
ego ferido em outras janelas de conversação, fadadas ao eco de uma simples
palavrinha maldita:
“Visualizado”
***
Desta vez eu
me surpreendi com algo sobre o qual realmente não deveria reclamar. Já que no
final das contas, quando pesquiso meu próprio nome no Google – e não aconselho
você a fazer o mesmo com o seu, caso queira continuar dormindo tranqüilo à
noite – os primeiros resultados são, não necessariamente nesta ordem, os links
para meus perfis criados no Facebook, no Instagram, no Twitter (que há muito
tempo é usado apenas para fins voyeuristas do que para publicações autênticas)
até, enfim, ao perfil que lidera as publicações deste blog. Seria deveras hipócrita
da minha parte utilizar das ferramentas da internet para criticar, bom, a
própria Internet. Mas isto não é uma crítica; é uma confissão. Quando foi que
eu permiti que estas ferramentas se transformassem em correntes? E se você
ainda não entendeu o que eu quero dizer, talvez um diálogo que tive algum tempo
atrás (e que você provavelmente também já teve), ajude:
- Você está bravo comigo ou coisa parecida?!
- Não! Por que?!
- Nunca mais falou comigo.
- Mas você também nunca mais mandou nada.
- Mas fui
quem te chamou para conversar por último!
Se você já
teve, ou está envolvido neste exato momento em algum tipo de cabo-de-guerra imaginário
com alguém com quem você não conversa há muito tempo, nem em um milhão de anos
considera a hipótese de arriscar suar frio para escrever um “oi” para ela e
apostar todo o seu amor próprio ao clicar em “enviar”... Bom, eu te entendo. Mas
quando eu paro pra pensar nas alternativas, ainda vale aquela antiga verdade
universal sobre sermos irremediavelmente atraídos por aquilo que não podemos
ter. É o motivo pelo qual sentimos vontade – para não dizer “necessidade” – de desabafar
com alguém quando nossos relacionamentos parecem padecer e deteriorar a cada
novo vácuo no qual caímos. Porque alguém esqueceu de nos responder, ou
simplesmente não pôde nos responder naquele momento em particular. As mensagens
instantâneas nos ensinaram a esperar por respostas instantâneas, seja em
qualquer visor que esteja ao alcance das nossas mãos, até toda a vida que
continua se atualizando ao redor dele.
Eu não sei.
Talvez seja tudo uma questão de limites. De paciência, compreensão e outras
virtudes que nunca consideramos de fato quando o nosso humor se torna
diretamente proporcional à velocidade e o conteúdo da sua resposta para o meu “oi”.
Mas a Internet está aí e não irá embora tão cedo. Aliás, provavelmente seremos
nós quem iremos partir bem antes da Internet. Deixando de lembrança para ela uma
série de perfis e fotos publicados com nossas imagens e nossos “mimimis”, daqui
para a eternidade. Mas hoje tudo o que eu gostaria é que o meu ego, minha
auto-estima e minha auto-confiança voltassem a depender só de mim mesmo, em vez
de roteadores e cabos de fibra óptica.
***
Mas só para
constar: todos nós temos nossas fraquezas. E é claro que existem alguns que
ando ignorando de propósito. Se existe algo que a tecnologia nunca irá
extinguir de vez, é o nosso orgulho. Mais do que isto: existem plugins para ele.