quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Dois mil e chega

Tem sido um ano estranho. Talvez seja esta a definição que 2015 deixará comigo depois que todas as agendas e calendários marcados com este ano tornarem-se rascunhos para quaisquer outras coisas que não envolvam mais nenhum tipo de plano para o futuro. Muita coisa aconteceu... Tanto que já não sei mais por onde começar a desenrolar mais um capítulo de nostalgia para deixar registrado por aqui. Para que a esta altura, em 2016, quando eu me sentir inseguro ou perdido uma vez mais, eu tenha algo para me apoiar. E convenhamos que isto é inteiramente possível, considerando que além do meu próprio CEP e algumas fotos tiradas em pontos turísticos famosos, eu ainda não conheço muito sobre este pequeno e tumultuado município que batizaram de Terra das Cataratas. Mas o pouco que conheci até aqui me convenceu o suficiente para continuar. E no final das contas, talvez fosse esta a lição que 2015 tentou tanto me ensinar enquanto eu estava ocupado só reclamando, indignado sobre tudo e todos estarem mudando tanto. Por que as coisas não podiam continuar do jeito que eram? Por que tudo tem que terminar? Bom... Eu gosto de pensar que para tudo existe um motivo. Mesmo que eu não saiba exatamente qual é no momento em que algo dá errado, ou quando alguém que parecia tão promissora simplesmente pára de responder as minhas mensagens. Continuar, acima de tudo, é o segredo.

E eu me lembro bem, logo no começo de 2015, enquanto estava aprendendo a criar fôlego para manter uma corrida que durasse mais do que os acordes inicias de uma música tocando nos meus fones de ouvido, que tudo o que eu queria deste ano era encontrar um caminho para seguir. Só não sabia qual nem aonde me levaria. O que conseqüentemente justifica não somente a necessidade de me colocar à prova para descobrir aonde quero chegar nesta vida como, bom, Foz do Iguaçu é um lugar tão promissor quanto qualquer outro para quem se sente perdido. Talvez Foz do Iguaçu seja um caso ainda mais especial, considerando que grandes grupos em trânsito pela cidade estão geralmente sendo acompanhados por um guia. Ou seja: é totalmente aceitável sentir-se perdido aqui. E talvez seja isto o que tenha me conquistado para continuar aqui e, enfim, plantar algumas sementes por aí para que quando estivermos vivenciando os primeiros instantes de 2016, eu já me sinta muito mais tranqüilo com relação ao meu futuro.

Meu nome é Igor Costa Moresca. 24 anos. Brasileiro, solteiro, escorpiano. Sem afiliações políticas até que a obrigatoriedade de possuir bom senso para as coisas torne-se um projeto de lei de algum partido. Cor favorita: azul, mas às vezes verde. Também tem aquele azul meio esverdeado, ou verde meio azulado... Ceruleano? Não sei. Enfim. Graduado em psicologia e futuro jornalista. Escritor de coração e eterno apaixonado, por mais que o amor esteja mais ocupado com outras coisas. E está tudo bem. E tudo continuará bem. Sabe por que? Porque eu acredito nisso. E em mim. Aconselho você a tirar cinco minutos da sua correria para tentar fazer o mesmo. Ainda falta um mês para o Natal, mas de nada adianta comemorar a primeira meia noite de 2016 se o seu passado continua abafando suas promessas de ano novo.

Ok, 2015. Era isto que eu precisava aprender? Sobre o fim das coisas e o começo das outras? Sobre redescobrir possibilidades e construir caminhos para seguir? Sobre entender que quem teve que partir, foi desta vida para melhor, e que quem continua tem seus propósitos que vão além do meu ego inflado? Por que será que as lições só se tornam claras quando a história se aproxima do fim? Bom, vai ver isso era mais uma sobre a qual eu precisava me atentar neste ano...

Mas já deu, 2015. Ou melhor, dois mil e chega. Foi um ano e tanto. Estranho e inesquecível. Do jeito que as estranhezas costumam ser.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Conexão perdida

Não é que eu deteste o modo como o mundo contemporâneo incorporou as opções online/offline ao modo como nós levamos as nossas vidas. Muito pelo contrário, vez por outras passo mais dias online no vácuo do que offline do lado de fora de casa, longe do alcance de qualquer Wi-Fi. Aliás, às vezes é difícil saber até o que fazer com as mãos quando estas não possuem um celular conectado com o resto do mundo. Mas existem certos aspectos que ainda não consigo adaptar completamente – o que, por conseqüência, pode tornar a minha visão de mundo incompatível com os vários aplicativos que temos ao nosso dispor hoje. E dia desses me peguei pensando sobre tempos mais simples, quando conhecer e desconhecer pessoas costumava ser mais audacioso do que suar frio de ansiedade após tentar puxar conversa em um bate-papo virtual, e imaginar as mil e uma maneiras de reação que a pessoa do outro lado poderia ter. Quase todas, geralmente, beirando aos traumas do nosso ego ferido em outras janelas de conversação, fadadas ao eco de uma simples palavrinha maldita:

“Visualizado”

***

Desta vez eu me surpreendi com algo sobre o qual realmente não deveria reclamar. Já que no final das contas, quando pesquiso meu próprio nome no Google – e não aconselho você a fazer o mesmo com o seu, caso queira continuar dormindo tranqüilo à noite – os primeiros resultados são, não necessariamente nesta ordem, os links para meus perfis criados no Facebook, no Instagram, no Twitter (que há muito tempo é usado apenas para fins voyeuristas do que para publicações autênticas) até, enfim, ao perfil que lidera as publicações deste blog. Seria deveras hipócrita da minha parte utilizar das ferramentas da internet para criticar, bom, a própria Internet. Mas isto não é uma crítica; é uma confissão. Quando foi que eu permiti que estas ferramentas se transformassem em correntes? E se você ainda não entendeu o que eu quero dizer, talvez um diálogo que tive algum tempo atrás (e que você provavelmente também já teve), ajude:

- Você está bravo comigo ou coisa parecida?!
- Não! Por que?!
- Nunca mais falou comigo.
- Mas você também nunca mais mandou nada.
- Mas fui quem te chamou para conversar por último!

Se você já teve, ou está envolvido neste exato momento em algum tipo de cabo-de-guerra imaginário com alguém com quem você não conversa há muito tempo, nem em um milhão de anos considera a hipótese de arriscar suar frio para escrever um “oi” para ela e apostar todo o seu amor próprio ao clicar em “enviar”... Bom, eu te entendo. Mas quando eu paro pra pensar nas alternativas, ainda vale aquela antiga verdade universal sobre sermos irremediavelmente atraídos por aquilo que não podemos ter. É o motivo pelo qual sentimos vontade – para não dizer “necessidade” – de desabafar com alguém quando nossos relacionamentos parecem padecer e deteriorar a cada novo vácuo no qual caímos. Porque alguém esqueceu de nos responder, ou simplesmente não pôde nos responder naquele momento em particular. As mensagens instantâneas nos ensinaram a esperar por respostas instantâneas, seja em qualquer visor que esteja ao alcance das nossas mãos, até toda a vida que continua se atualizando ao redor dele.

Eu não sei. Talvez seja tudo uma questão de limites. De paciência, compreensão e outras virtudes que nunca consideramos de fato quando o nosso humor se torna diretamente proporcional à velocidade e o conteúdo da sua resposta para o meu “oi”. Mas a Internet está aí e não irá embora tão cedo. Aliás, provavelmente seremos nós quem iremos partir bem antes da Internet. Deixando de lembrança para ela uma série de perfis e fotos publicados com nossas imagens e nossos “mimimis”, daqui para a eternidade. Mas hoje tudo o que eu gostaria é que o meu ego, minha auto-estima e minha auto-confiança voltassem a depender só de mim mesmo, em vez de roteadores e cabos de fibra óptica.

***

Mas só para constar: todos nós temos nossas fraquezas. E é claro que existem alguns que ando ignorando de propósito. Se existe algo que a tecnologia nunca irá extinguir de vez, é o nosso orgulho. Mais do que isto: existem plugins para ele.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Relacionamentos imaginários


Apesar de todos os obstáculos, toda a correria e cansaço do dia a dia, de tentar lembrar do que precisa comprar quando passar no mercado à caminho de volta para casa, depois de duas provas complicadas que seus professores resolveram juntar em uma mesma noite para apressar o fim do semestre letivo, de conseguir retornar as treze chamadas da sua mãe no seu celular que você não pôde atender antes porque não escutou o toque devido ao barulho do trânsito, você finalmente alcança a cama da onde saiu para enfrentar o resto do mundo pela manhã e pára pra suspirar em alívio. E então você recebe aquela mensagem, que faz com que tudo de apressado e desgastante ao redor dela simplesmente desapareça. Porque aquele é o momento pelo qual você esperou o dia todo. O momento em que vocês pudessem estar juntos de novo, mesmo separados. Particularmente falando, eu acho isso incrível. O fato de que, mesmo depois da maratona que corremos ao longo das horas comerciais, das grades curriculares e dos afazeres domésticos que parecem estar sempre atrasados, as pessoas ainda conseguem se encontrar. E se gostar. E disporem de alguns minutos a mais na cama, deitadas apenas ao som do toque do celular a cada nova mensagem daquela pessoa. É a realidade dos relacionamentos modernos, e é algo pelo qual eu sou simplesmente apaixonado.

Mas pelos motivos errados. Ou melhor, pelos relacionamentos errados.

***

Dia desses eu estava conversando com alguém sobre relacionamentos. E ouvi me contarem sobre como se conheceram, as mensagens que estavam trocando, os encontros que tiveram, as discussões que já surgiram, as complicações envolvendo horários, ex-namoradas, ciúmes, ansiedade, insegurança, medo de deixar que alguém chegasse perto demais para causar mais algum estrago permanente... E sobre como apesar de tudo isto, ainda havia uma chance de que aquilo poderia se tornar algo sério. E foi algo que não me comoveu muito, visto que já ouvi e vivenciei em primeira mão tantas outras histórias que pareceram terminar antes de realmente começar, ou então foram rarefazendo-se a medida que a paixão esfriava e a rotina retomava o espaço que todo aquele furor havia ocupado. Enfim, tudo aquilo se resumiu a um simples diálogo:
- Acho que pode ser ela, mas não tenho certeza. É que na verdade...
- Namorar é chato. É isso que você está tentando dizer, não é?
- É. Exatamente. Mas o começo é tão bom! Quando se está conhecendo a pessoa, descobrindo pouco a pouco quem ela é, do que ela gosta, o que sente sobre você...
- Sim. A antecipação é legal. O problema é quando o prólogo termina e o interlúdio toma conta. A rotina, a calma, a despreocupação. Você nunca realmente recupera aquela emoção a cada nova mensagem que ela te manda. Depois de um tempo você percebe que pode esperar para vê-la. Que não precisa respondê-la naquele exato segundo, caso contrário todo o amor que vocês já construíram estará em perigo de extinção.
- E por que será que isso acontece?
- Eu não sei. Já reparou como a véspera de Natal é muito mais aproveitada do que o próprio dia de Natal? E como a verdadeira festa acontece na véspera do Ano Novo? E para o primeiro de Janeiro fica a bagunça, as sobras e a preguiça. O namoro é um primeiro de Janeiro sobre o qual ninguém se atreve a reclamar. Afinal o ano só começou e há tanto pela frente. Mas que ano será esse que começou com base em latinhas de cerveja amassadas pelo chão e pernil requentado?
- Talvez o segredo seja esse mesmo. A antecipação. A promessa. O que está por vir parece sempre mais interessante do que há aqui agora. Enquanto forem apenas duas pessoas distantes, trocando mensagens e compartilhando vidas separadas, as coisas parecem mais emocionantes. Mas quando as mensagens de madrugada viram lembretes do tipo “Você vai passar por algum mercado à tarde? Acabou o leite!” ou “Não estou afim de ir no churrasco do seu amigo hoje, inventa uma desculpa!” no meio da tarde... Sei lá. Amor parece mais interessante quando está à distância. Perto demais, disponível demais, parece comodidade. Tipo Netflix ou ar-condicionado: é muito bom, mas em excesso pode causar dores de cabeça.

***

- Ultimamente ela não me responde mais direito.
- Como assim?
- Bom, no começo éramos instantâneos. Narrando cada minuto do dia como se cada atividade fosse algo imperdível. E com fotos, ainda por cima, para nos sentirmos mais próximos, eu acho. Anexos constantes de rótulos de garrafas e flashes do pôr-do-sol. E as mensagens de voz à noite. Ah... A voz cansada dela, já com a cabeça no travesseiro, era tudo o que eu precisava ouvir para dormir bem. Isso e o “boa noite” dela.
- E agora?
- Agora é isto. Mensagens enviadas, recebidas e ignoradas com sucesso. Me sinto um refém desses malditos riscos azuis do WhatsApp. Se ela leu, por que não responde?!
- Eu não sei, cara.
- Esses dias mesmo, ela disse também que poderia ser eu. Que estava gostando cada vez mais e mais. E agora isso. Não sabia que me importava tanto assim.
- É, a gente nunca sabe. Até o momento em que se torna indisponível. Independente se um dia a pessoa realmente esteve disponível para nós. Nunca se sabe. Quem vê status de WhatsApp não vê coração.
- Eu não estou brincando, Igor.
- Eu sei! Com quem acha que está falando? Lembra da...
- Ah, é. Sim. Desculpe. Já faz quanto tempo que não se falam?
- Tempo suficiente para te dizer com certeza que deveríamos passar menos tempo em relacionamentos imaginários, e mais tempo vivendo a nossa vida. Mesmo que seja por nós mesmos, sem “bom dia” nem “boa noite”.
- Ainda sente falta dela?
- Toda manhã e toda noite.

***

Eu continuo fascinado por relacionamentos. Pelo cuidado com o qual escrevo aquelas primeiras mensagens e pelo encantamento que sinto pelas que recebo de volta. Tudo é apaixonante no começo quando não há vidas realmente envolvidas; apenas dois IPs distantes à procura de uma nova conexão. Mas depois de uma série de primeiros encontros e últimas palavras trocadas, de músicas que perderam sua melodia em troca da lembrança de alguém que talvez nem pense mais em mim, e de uma lista de contatos no celular cheia de vidas inteiras que poderiam ter sido e não foram, tudo o que eu espero agora é que uma das promessas que já fiz por aí se cumpra. Que alguém me prove que o nosso prólogo valeu a pena ser escrito e que a nossa história está só começando. Alguém que não me faça sentir desconectado quando estiver online sem mim.

Enquanto isso chega de promessas vazias, interlúdios interrompidos e relacionamentos imaginários. Já faz algum tempo que carrego comigo a seguinte mensagem: “O mundo não é mais um lugar romântico. Algumas pessoas, no entanto, ainda são. E a elas cabe uma promessa: não deixe o mundo vencer.” É algo que ainda carrego comigo, mas algumas promessas podem se tornar muito pesadas caso você esteja sozinho para levá-las adiante. Alguns relacionamentos podem parecer mais importantes do que realmente são. Cabe a você decidir por quem vale a pena perder o seu sono e para quem vale a pena desejar um bom dia.

Quanto a mim, hoje eu durmo muito melhor com o celular desligado. E ele funciona bem melhor depois que deletei aquele aplicativo que vivia dizendo que não havia ninguém perto de mim. Como se eu não soubesse.

domingo, 15 de novembro de 2015

Amor: o aplicativo indisponível


Pode parecer aleatório, mas é só a minha mania de enxergar uma profundidade em coisas que na verdade são inocentemente rasas. Porque eu quero escrever um pouco sobre relacionamentos hoje, mas antes eu preciso te contar sobre como eu estava assistindo os improvisos sinceros do Chico Pinheiro no Bom Dia Brasil (sirva-se de uma amostra) em uma manhã dessas. Até que chegaram a uma matéria sobre um novo aplicativo que permitiria aos espectadores assistirem o que bem quisessem de um vasto banco de dados que compunha a programação da TV, desde o que já havia passado até o que estiver no ar naquele momento. E inaugurariam o aplicativo ao subirem o que foi chamado de “capítulo zero” da nova novela das sete. Nele passaria um pouco do que os personagens estavam fazendo há uma semana antes da trama central ser desencadeada aos olhos de quem, assim como eu, não possui espaço de armazenamento suficiente para se dar ao luxo de ter aplicativos no celular. Mas a idéia por trás disso foi algo que me subiu à cabeça de maneira bem mais eficiente do que o estresse pelo meu frustrante pacote de dados móveis.

Só o conceito de conhecer alguém já é conflituoso por natureza: a ansiedade, o nervosismo, a insegurança, o monitoramento de quando foi a sua última visualização no WhatsApp... Mas quando se pára pra pensar em como deve ser entrar na vida de alguém – uma vida que estava em movimento há muito tempo, bem antes de que eu pudesse considerar te chamar para conversar com todos os meus rascunhos de organogramas em mãos para manter o assunto fluindo – fica ainda mais difícil acreditar que possam existir mesmo os lugares e as horas certas para o amor acontecer. Ou qualquer outro sentimento caloroso que não necessariamente circule pelos seus órgãos genitais ao mesmo tempo em que te cause borboletas no estômago.

E então eu comecei a pensar sobre o “capítulo zero” das pessoas e em como seria muito mais difícil tentar pedir permissão para participar da trama de alguém caso soubéssemos de antemão o que vem acontecendo com ela. Claro que existem os spoilers: as postagens no Facebook, as fotos no Instagram, os check-ins no Foursquare... Mas nada disso realmente te garante que a vida de alguém “dá pé” para que você tente entrar sem medo de se afogar. Redes sociais são como outdoors: propagandas especialmente selecionadas para que você passe por mim e fique contente por alguns segundos sobre o restaurante que eu fui, ou por onde e com quem eu andei naquela balada. Mas que jamais te faça considerar que talvez, só talvez, seja muita estética para pouca filosofia.
O que nos leva aos primeiros encontros – e o motivo pelo qual às vezes eles não acontecem. Quando nos orientam a criar absolutamente qualquer outra coisa a não ser por expectativas, nosso instinto natural de desordem toma conta de nós antes mesmo que pudéssemos dizer algo do tipo “Não, não, pode deixar, não é nada sério. Só estamos conversando, numa boa, sem pressão!”, enquanto na verdade já pensamos em qual é o caminho mais prático para chegar até a papelaria mais barata da cidade, para comprar os plásticos que usaremos para encapar os cadernos dos nossos filhos, quando nós os matricularmos naquela escola particular em que já deixamos nossos nomes na lista de espera, pouco antes do casamento. E nem tente negar. Eu sei que você também pensou nisso.

A pressão envolvida em conhecer alguém agora começa muito antes mesmo de realmente conhecer alguém. E digo por experiência de quem já passou pela árdua espera para ver alguém que no final das contas não quis ser vista, bem como já acabei por fazer o mesmo. O motivo é simples: eu não estava pronto. As expectativas, assim como as tretas embutidas, já haviam sido plantadas. “E se você não gostar de mim? E se achar que a minha foto, depois de muita edição e três tipos de filtros diferentes, não tem nada a ver comigo pessoalmente? E se aquelas conversas de madrugada desaparecerem na luz do dia? E se a realidade não corresponder? Quer saber? Não vou arriscar.” E de todas as possibilidade, desde todos os sonhos do mundo sobre os quais Fernando Pessoa escreveu, até os que você esconde debaixo do seu travesseiro para que ninguém jamais descubra que você é daqueles que procura alguém para amar mas não sabe como nem quem nem aonde, nada acontece.

No final das contas, entre spoilers e “capítulos zero”, ninguém quer tentar dar uma chance para que um personagem novo possa desencadear novas emoções à sua trama, até mesmo quando uma dessas emoções possa ser um amor. E é por isso que estou tentando escrever a minha história ao mesmo tom em que começo todos os meus dias: com a espontaneidade do Chico Pinheiro e a esperança por um amor que ainda não encontrei.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O que você está esperando?

Minha mãe sempre me disse que paciência é uma virtude. “Virtude”, do latim “virtus”, traduz-se como uma disposição estável de praticar o bem, e “Paciência”, do popular “não tenho”, como a característica de manter um controle emocional equilibrado. Mas apesar de todas as definições, das origens latino-americanas e dos artigos em constante edição da Wikipédia, nada mudará o fato de que eu não sei esperar. Por nada.

Existem dois tipos de pessoas: as que esperam, e as que fazem esperar. Minha tragédia é a pontualidade. A devoção por datas e horas marcados, e de ser irrevogavelmente escravizado por elas e, convenhamos, talvez isso venha mesmo da disciplina que minha mãe sempre fez questão de impor. Mesmo que quando criança, enxergasse o tempo e o espaço de uma maneira muito mais relativa. O ponteiro do meu relógio biológico tinha seu eixo na minha preguiça – independente das conseqüências. Minha mãe saía para trabalhar e me deixava algumas tarefas a serem feitas até a hora em que ela voltasse para casa. E como toda boa criança ruim, eu as fazia às pressas no último segundo. É o instinto que a gente também carrega acidentalmente para a vida acadêmica, caso você também seja desses. Como identificar? Bom, olhe a sua volta. Se houver algum livro, apostila ou anotação ao seu redor referente a um trabalho que deve ser entregue na sua primeira aula amanhã, você é um dos meus. Seja bem vindo e não tenha pressa. Nossa condição é crônica e, ironicamente, atemporal.

E é no espírito de desrespeito com pretéritos passados que a relatividade se vinga de nós com o mesmo amargo que nós causamos nos outros. E vez por outras quem faz esperar leva um chá de cadeiras que servirá apenas para desgostos momentâneos, jamais aprendizados eternos. E talvez seja por isso que logo hoje, mesmo sendo mais atencioso com meu tempo e os dos outros, é que eu me sinta tão desconfortável quando percebo que estou à mercê da disposição alheia. A criança de ontem que sempre deixava o dever de casa para a última hora é o adulto de hoje que não suporta esperar cinco minutos por uma resposta no WhatsApp. O maior inimigo do homem é o próprio tempo que ele desperdiça. Só demora um pouco para que as pendências nos alcancem.

Eu percebo o tempo de uma maneira diferente hoje, e talvez o segredo esteja na maturidade que eventualmente vem com ele. O tempo não perdoa e você definitivamente irá repor aos outros pelos fôlegos que desgastou deles em outrora, mas a gente se acostuma com as esperas. Seja por que não há escapatória delas a não ser atravessando-as, ou quem sabe porque há algo a ser aprendido com elas. É daí que surgem os contos e teorias sobre o lugar e a hora certos para tudo nesta vida. E após recém completar 24 anos, eu tenho tratado o meu tempo como ele realmente merece: como uma preciosidade passageira. E ao julgar por tudo que já consegui realizar em apenas uma semana neste novo ciclo de vida – um retiro espiritual, aulas de culinária, marcar aquele tratamento de canal que andei evitando por meses – eu me sinto mais otimista com relação ao que mais há por vir.

O tempo não pára e não volta. O único caminho é adiante. E talvez por isso seja tão complicado conhecer alguém novo. Alguém que não sabe por onde você já passou e o que já viveu por aí. Alguém que precisa que você se apresente e preencha algumas lacunas sobre quem você é e aonde quer chegar, para que ele ou ela decida se quer seguir com você ou não. E é algo que pode ser cansativo, recontar a sua história de novo e de novo até encontrar alguém que se interesse pelo seu destino e siga viagem com você, enquanto você descobre a história da outra pessoa durante o trajeto. Mas esta é a nossa diretriz por aqui, e apesar da impaciência e do cansaço tomarem conta de nós às vezes, não podemos nos deixar sermos atrasados por elas. Eu sei que ainda sou muito jovem, mas nunca é cedo demais para aprender sobre o que é tempo bem gasto e o que é tempo perdido. E talvez eu fosse uma pessoa diferente hoje caso aquela criança de ontem tivesse sido mais organizada com todas aquelas tarefas de casa que deveriam ser feitas até as seis da tarde. Mas entre apanhar da mãe ontem e apanhar da vida hoje, melhor aceitar que aqui e agora seja exatamente aonde eu deveria estar.

Até porque, mesmo que não seja, só o tempo dirá.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Razões para acreditar


Existe um motivo pelo qual eu deliberadamente evito mencionar o nome de Deus em qualquer pedaço de rascunho que eu já escrevi por aí. E é tão simples quanto profundo: existem mais coisas entre o céu e a terra do que eu ousaria comentar de uma maneira tão vil. Algumas coisas são preciosas demais para serem definidas. E alguns nomes são sagrados demais para serem comentados em vão. Pelo menos é assim que eu enxergo as minhas crônicas. Crônicas que, pensando bem, nada mais são realmente do que depoimentos. E digo isto hoje porque depois de um depoimento em especial, tudo mudou.

Eu, como qualquer outra pessoa que também possa imaginar, sou alguém que sempre precisou de esperança. Fosse nos momentos bons ou ruins, esperança é algo que nos move o tempo todo. É o que nos tira da cama pela manhã e que nos ajuda a pegar no sono à noite. Porque apesar da cabeça já estar apoiada em um confortável travesseiro, às vezes o que se passa dentro dela está longe de ser reconfortante. As preocupações, as inseguranças, os medos e tudo mais que possa nos afastar de ter um momento de paz parecem ganhar suas forças à noite. Há quem diga que seja coincidência, mas eu aprendi que isto não existe.

Existe um plano. De alguém muito especial que nem sempre a gente se lembra de agradecer. Para falar a verdade, é alguém que muitas vezes eu parei para considerar sinceramente se estava mesmo por aí ou não. Mas Ele está e muito; só não aonde possamos vê-lo. Tudo nesta vida é providência, mas nem tudo é visível. São as pequenas coisas, os detalhes minuciosos, os enigmas do dia-a-dia que parecem insignificantes por não conseguirmos decifrá-los na hora em que passam por nós. Sempre existe algo a mais neles. O que, por sua vez, me fez reconsiderar a minha velha teoria sobre a minha vida sempre ter sido regida por ironias do destino e uma necessidade quase visceral de enxergar metáforas por todas as partes – e de tentar interpretar o que elas querem mesmo dizer. Metáforas que, do latim, talvez signifiquem mesmo parábolas. Histórias que Ele sempre contou aos seus discípulos, porque estes precisavam encontrar a verdade por si próprios em vês de serem empurrados ao caminho certo. Ele sempre soube a resposta – que Ele, inclusive, é a resposta – mas é preciso perseverar para descobrir isto. Felizmente ou infelizmente, isto não é para todos. E por muito tempo também não foi para mim.

Desde quando consigo me lembrar, de que me conheço por gente e de que me atrevo a colocar-me diante de mim mesmo para tentar decifrar o que as coisas que acontecem comigo querem mesmo dizer, eu me senti quebrado. No sentido de que nunca consegui encontrar as respostas, nem mesmo o caminho que pudesse sentir que fosse o meu a ser trilhado. O lugar certo e a hora certa pareciam sempre estar a um amanhã de distância que nunca chegava a conhecer. Mas há um plano: o problema está em achar que este plano é nosso.

Quando eu paro pra pensar sobre isto hoje, eu consigo perceber tão claramente quantos sinais já passaram por mim. Alguns ainda pude compreender e os segui adiante, enquanto outros optei por ignorar por pensar que estivessem destinados a outra pessoa. Como alguém que acena para nós na rua e a gente pensa que é pra gente, depois tenta disfarçar quando percebe que era para o cara do lado. Tem sido uma vida inteira disso. Mas eu sempre estive sendo movido por algo. Por Alguém que sempre soube o que estava fazendo, mas que antes de que qualquer coisa pudesse acontecer, precisava que eu percebesse isto também. O que explica perfeitamente os momentos que considerei como desvios de percurso.

Como eu disse em meu testemunho – que posso considerar como o divisor de águas na minha vida entre um mundo antigo e o novo – eu demorei muito para chegar até aqui. Em parte porque não sabia para onde queria ir. Também porque não queria muito saber, nem por quanto tempo eu continuaria vivendo assim. Sentir-se quebrado significa que não há nada a perder e que tudo é possível, até o ponto em que senti a minha esperança acabar. Foi o que mexeu comigo. E me fez pensar que havia uma vida aqui que não estava sendo aproveitada conforme foi abençoada para ser.

Eu não queria mais ser quebrado. E quando eu menos esperava, gostaria de dizer que eu o encontrei. Mas não. Ele me trouxe de volta. Na hora e no lugar certos, conforme a Sua vontade.

É claro que eu ainda cometerei erros. Que haverão momentos de medo e dúvida. De solidão e de fraqueza. Eu nunca quis me considerar muito humano com os outros, muito menos comigo mesmo. Pela mesma fraqueza que eu sempre evitei admitir que possuo. Mas nós somos humanos no final das contas. Felizmente a fraqueza não é o que nos define. O amor nos define. O Seu amor.

Eu não quero parecer hipócrita em escrever estas coisas, depois de tantos anos evitando e renegando algo que parecia inexistente. Só que nada mais pode explicar tudo o que vivi e que me trouxe até aqui, são e salvo. Era um plano. Apenas não era meu.

Por mais que eu pense que demorou muito para que eu chegasse até aqui, Ele sabia que levei o tempo que precisou. Enfim, com alegria e gratidão, eu me sinto curado. Ainda sou eu: falando coisas impróprias em momentos inoportunos, cometendo erros que já cometi antes, sentindo frustrações, raiva, angústia e tristeza que não deveriam me pertencer. Mas eu me sinto diferente. Desta vez quando eu penso que nós ficaremos bem, no fundo do meu coração eu acredito.

Eu cheguei. Por Deus, eu cheguei. Obrigado.