sexta-feira, 22 de julho de 2016

Um ano depois...


Pra quem não conhece ou não se lembra, esta é a história.

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Tempo. É só isso que precisa. Mas como não faz parte da minha natureza saber esperar pelas coisas que eu quero desta vida, escrever sobre os dramas diários da minha vida foi a melhor maneira que eu encontrei para me distrair. Ajuda a colocar as prioridades em perspectiva, e até alguns sonhos em cheque. Porque é fácil se desprender deles, entre uma correria e outra. É assim que eu acabei perdendo contato com algumas pessoas, e a deixar de visitar certos lugares, ou até mesmo me confundindo ao tentar lembrar de algumas músicas, cuja letra eu costumava saber de cor. E foi no fim de uma dessas correrias, de um dia aparentemente qualquer, que algo chamou a minha atenção. Ironicamente, enquanto eu esperava para atravessar uma avenida. A caminho da minha casa em Foz do Iguaçu, voltando da redação do jornal em que trabalho. Como eu cheguei até aqui? Mesmo quando pensei que jamais conseguiria, por mais que eu sonhasse com isso?

Tempo.

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Repensando em toda a ironia que rege a minha vida, me peguei pensando em uma aula de português que tive durante o ensino médio. Minha professora filosofou, entre uma análise sintática e outra, sobre o uso de algumas regras em todas as situações, e outras em que estas jamais eram permitidas. E então comentou algo sobre o uso de “sempre” e “nunca”: embora sejam termos muito utilizados em lições de português, na vida real eles não existem. Algo que minha mãe – a pessoa mais sábia a caminhar na face desta terra – já me dizia desde a minha época de criança teimosa. Quando eu implicava com algo ou alguém, e decretava que nunca mudaria de idéia, por mais ridículos que fossem os meus argumentos, sua resposta era a mesma:

- “Nunca” é muito tempo, filho. Nunca diga nunca...

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Talvez fossem as más influências dos desenhos que cresci assistindo, ou as fábulas das histórias que meus pais liam para mim antes de dormir, mas desde quando consigo me lembrar, o conceito de “para sempre” também sempre esteve comigo. Vide, obviamente, mais este pleonasmo para a minha coleção.

Mas era assim que os personagens de todas aquelas histórias terminavam: felizes para sempre. O que me incentivou a pensar que, bom, “para sempre” é algo que realmente acontece. Tudo que eu precisava fazer era traçar um objetivo de vida, e então lutar até conseguir alcançá-lo, para enfim ser feliz. Para sempre! Uau!

Aí eu cresci. E como era de se esperar, o mundo deixou de ser tão simples quando parecia. “E viveram felizes para sempre...”. Ok. Legal. Entendi.

Mas, e depois?

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Eu também aprendi a atribuir as idéias de que pessoas poderiam sempre fazer parte da minha vida. Ou então, caso algo acontecesse entre nós que destruísse toda a confiança que eu havia depositado nelas, não haveria como reconstruí-la. Como perdoar algo que eu me lembraria sempre que nos víssemos de novo? Não há como. Nem nunca haveria.

E das construções imaginárias de “sempre” e “nunca”, surgem os interlúdios de esperança e rancor. Sonhos que não poderão ser alcançados, e ciclos que não se fecham. Na psicologia, chamam de “gestalts”. Na vida é um pouco mais simples, mas não menos angustiantes. Somos seres inacabados. Incompletos. Inconstantes.

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Quando o sinal abriu, atravessei a avenida e dei mais alguns passos até finalmente chegar em casa. Desta vez, com uma sensação que já havia começado a sentir em Foz do Iguaçu nos últimos vezes, mas só por alguns momentos. Mas hoje havia sido diferente. Não porque algo de novo aconteceu – porque as novidades na minha vida já haviam perdido um pouco aquele ar de mistério e ansiedade. Uma rotina já havia surgido, dando forma e significado ao desconhecido. Passando pelas ruas da cidade, deixando as anotações de trabalho e os planos para o expediente de segunda-feira de lado aos poucos, eu cheguei em casa. Entrei, deixei a mochila com minha caderneta de pautas em um canto, e servi um copo de uísque.

Foi um dia normal... E sabe por quanto tempo eu esperei por isso?!

Bom, se leu desde o começo dessa história até aqui, você sabe.

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Já faz um ano desde a mudança, e muita coisa aconteceu. Pessoas ficaram para trás, e outras surgiram. Algumas permaneceram, e ainda bem por isso. Inúmeras entrevistas de emprego também vieram e se foram, e que bom que não me agarrei ao retorno que prometeram me dar sobre ser contratado ou não. Morar com família de novo não seria fácil, mas aqui estamos nós: juntos ainda, quando parecia que nos mataríamos nas duas primeiras semanas. E entre fronteiras e “aduanas”, pontos turísticos e “desculpe, não sei onde fica essa rua, não sou daqui”, sábados à noite tristonhos e planos de jantares românticos com a última garota certa, eu até encontrei amor.

Muita coisa pode acontecer em um ano. A gente só insiste em duvidar porque, convenhamos, quem de nós realmente é bom em esperar por algo que desejamos aqui e agora? Quanto a mim, tudo o que eu queria era me sentir em casa, que a carreira de jornalista finalmente começasse a se realizar, e que alguém especial surgisse na minha vida – e decidisse ficar, apesar de toda a minha insensatez.

Eu aprendi das maneiras mais difíceis que nada dura para sempre. E cheguei a acreditar que certos sonhos nunca se tornariam realidade. Felizmente eu estou errado, mais uma vez. E fiquei pensando no quanto as coisas que eu tanto queria chegaram até mim bem a tempo deste aniversário de mais uma mudança da minha vida. Mas é como já diziam a minha professora, a minha mãe, e aquela música que eu ainda não consigo me lembrar totalmente da letra: nunca diga nunca.

Só não digo que me lembrarei disso para sempre, porque... Né.