terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Você vai adorar o amanhã

Eu não sei quando foi que as coisas ficaram assim, tão difíceis. Ainda me lembro de quando a vida costumava ser leve, suave, convergente. Não posso dizer que um dia foi fácil, porque nunca realmente foi. Mas costumava ser mais prático, ao menos. Ao contrário de hoje, onde tudo parece ser tão... burocrático. E talvez a vida adulta seja isso mesmo – uma luta diária entre crenças e protocolos, onde mais vezes do que eu gostaria de admitir, o capitalismo se sobressai perante as minhas esperanças.

Já se passaram sete anos desde que eu saí de casa. E por casa, leia-se a minha cidade natal. O lugar em que nasci, cresci, conheci algumas pessoas – muitas das quais não passaram pelo teste do tempo – e aprendi algumas coisas que definitivamente não foram o suficiente para me preparar para tudo que ainda estava por vir. Não querendo dizer que nós estaremos milagrosamente prontos para descobrir o que a vida nos reserva a cada novo dia que temos a sorte de receber. Completo com todas as possibilidades existentes para salvar o mundo, ou cometer mais alguns erros de julgamento para a nossa coleção.

Mas o que eu quero dizer, sinceramente, nada tem a ver com a claustrofobia do horário comercial ou a pressão dos poucos dias da semana que a vida de adulto considera como úteis. Ou talvez tenha, e eu perdi o que queria dizer no meio de toda essa papelada na minha mesa. Me desculpe por isso; as coisas são bem corridas aqui no escritório. Pessoas falando alto, telefones tocando, e-mails que não param de chegar... Prometo que voltaremos a conversar assim que eu chegar em casa. Quando as coisas estiverem mais tranqüilas.

Esses são alguns dos clichês que eu aprendi a repetir dia após dia, ao contrário das crenças que eu costumava carregar comigo por aí. Crenças que me ajudavam a lembrar que, não importa o que aconteça, você vai adorar o amanhã.

É... Eu me lembro disso. E me lembro que era bom.

Minha vida costumava ter prioridades diferentes. Amor era o motivo pelo qual eu levantava da minha cama pela manhã, e meus amigos eram o motivo pelo qual eu sempre conseguia voltar para casa. Mesmo quando não encontrava o amor por aí. Era um tempo mais inocente, eu admito. Intocado pelas pressões trabalhistas e preservado das dores e traumas que só um coração partido viria conhecer. Mas o mesmo tempo que nos empurra adiante, é o mesmo que nos assombra com o passado. E diante de tantas contradições, deadlines e normativas, a noção de que tudo ficará bem torna-se cada vez mais rarefeita. E o amanhã no qual eu tanto acreditava parece estar sempre a mais de um dia de distância.

Há quem me veja hoje e se surpreenda com o meu mau humor e a rapidez do meu desdém. Ao contrário do amor que eu costumava procurar, de uns tempos pra cá eu decidi que só sobreviveria aos meus dias no mundo lá fora se saísse de casa com meu sarcasmo engatilhado. Auto-preservação tem seu preço, e geralmente o cobra através da pessoa que abrimos mão de ser. Por isso dei um tempo na escrita, nas reflexões e nas trilhas sonoras que eu gosto de deixar registrados aqui. São equivalentes a migalhas de pão que aquelas crianças perdidas na floresta em uma fábula qualquer deixavam para trás pelo caminho que percorriam, para ajudá-las a voltar para casa. Mas a vida não é um conto de fadas, nem uma comédia romântica, nem possui sentido o suficiente para render um enredo coerente. A vida é só... a vida. Uma série de eventos aparentemente aleatórios que só possuem significado quando você decide parar para pensar sobre aonde está indo, da onde veio, e como faria para voltar para casa se precisasse.

Bom, eu ainda me lembro do caminho de volta para casa, e por tudo que passei para chegar até aqui. Só não sei mais aonde estou indo. E se eu me conheço bem, só há um jeito de redescobrir isso. Começando por desenterrar minhas razões para acreditar que o amanhã que procuro não está tão longe assim.

***

A idéia para este blog surgiu para me ajudar a descobrir por onde eu estava andando, enquanto ainda me adaptava aos marcos turísticos e definições dispersas do centro da cidade de Foz do Iguaçu. E depois de quase um ano e meio, acredito que ele tenha servido seu propósito com louvor. Foi tão útil, aliás, que não só me guiou enquanto eu desbravava este admirável novo mundo, como também me ajudou a reencontrar um antigo. Um lugar muito especial para mim, que carregava consigo uma mensagem muito importante. E para seguir adiante daqui, é essa mensagem que eu preciso voltar a carregar comigo.

Obrigado a todos que acompanharam as postagens, os dramas, as irreverências e as trilhas sonoras do Tranqueiras do Paraguai. Eu não teria chego até aqui sem vocês, mas algo ficou faltando nesse meio-tempo, e é isso que eu vou trazer de volta em 2017.
Para quem ainda não conhece, me acompanhe no próximo ano. Você vai adorar o amanhã.

Um comentário:

  1. Texto fascinante. Não me canso de te parabenizar! =)
    Deixar de acreditar é fácil. Mas o amor simplesmente não foi feito para os covardes. Então arrisque sempre, Igor. Não deixe de exercer o seu direito de busca pelo amor da sua vida. Não importa o quanto pareça difícil conservar a esperança.

    Eu acredito na sua felicidade!
    Beijos.

    ResponderExcluir

Deixe suas tranqueiras aqui também...